Capítulo 3 [Download]
Era de tarde na cidade. Um grupo de crianças estava sentado em um círculo, numa sala de aula pequena e suja.
A sala estava localizada no quintal da mansão de um nobre, num velho prédio de madeira. Esse prédio era de construção simples e provavelmente havia sido habitado por servos. O cheiro de giz estava no ar da sala, cujas paredes estavam manchadas de negro, pela fumaça do carvão.
Na mesa dilapidada, no meio das crianças, estavam velhos jornais e revistas.
“Você leu?” murmurou uma das crianças apaticamente, enquanto observava uma revista.
Aquele que falou tinha doze ou treze anos e olhos assustadoramente resignados que não combinavam com sua aparência jovem. A revista em suas mãos estava cheia de todos os tipos de fórmulas complicadas.
A criança na frente dele deu uma risadinha divertida.
“Se você está falando da tese de Stark que deu a ele um prêmio nobel de fábrica, então sim.”
“A mesma coisa sobre a pesquisa de Soddy a respeito do decaimento radioativo e dos métodos de Haber para produção de gás de cloro.”
“Simples, não é?”
“Sim, com certeza.”
As crianças continuaram dando risadinhas. Outra disse, enquanto observava um jornal na mesa, “Parece que está havendo mais uma revolta nas colônias.”
“Isso é porque o comitê promulga essas leis absurdas!”
“Também tem o problema da pessoa que foi selecionada para ser governador geral e o sistema de impostos.”
“Eu concordo. Por que os adultos não conseguem entender coisas tão simples?” Alguém perguntou honestamente.
Outra pessoa respondeu com uma risada. “Porque eles são idiotas!”
“Realmente, eles são idiotas, os adultos.”
“Sim. Idiotas.”
“Será que as coisas realmente ficarão bem se nós confiarmos o mundo a esses adultos idiotas...?”
As risadas divertidas que corriam pela sala pararam abruptamente.
Eles olharam uns para os outros com olhos vagos.
Havia um livro muito especial na mesa, no meio deles. Não havia qualquer nota de um autor, nem indicações da data de publicaram-no. O único fato evidente era sua grande idade.
A magnífica encadernação de couro havia perdido a cor durante os muitos anos que tinha visto, mas ainda era possível ler o título.
O Livro da Sabedoria. Esse era o título do livro.
Capítulo 3 - O Livro da Sabedoria
Episódio 03: Liber Sapientiae
Parte 1
Huey acordou nas trevas, naquele dia.
Alguém estava balançando violentamente seu corpo adormecido, produzindo o som de metal batendo de vez em quando. Era o som de uma armadura.
“—Acorde, Huey. Huey!”
Uma garota ligeiramente rouca chamava seu nome em sua orelha. Apesar da voz dela ser clara e bonita, o tom de voz era arrogante.
“Uh...” gemeu Huey, enquanto abria os olhos.
Ele pegou o relógio de bolso do lado da cama, mas não conseguiu ver as horas nele. A única coisa que ele percebia é que estava tudo escuro.
O mesmo acontecia com o lado de fora, que estava tão escuro quanto às profundezas do mar.
Na escuridão, estava uma pequena garota com longos cabelos negros.
Ela usava roupas negras que se fundiam com a noite. O conjunto inteiro estava adornado com incontáveis rendas e babados que em alguns pontos eram cobertos por partes de sua armadura de metal. Era uma mistura estranha, que não podia ser chamada nem de vestido, nem de armadura.
E na frente do peito dela, uma velha tranca, presa por correntes de prata, brilhava levemente.
“O que aconteceu, Dalian...? Parece que ainda está de noite lá fora.” perguntou Huey, tentando manter os olhos abertos.
“Você não precisa se preocupar. Sua visão está perfeitamente normal.” a garota de negro que havia sido chamada de Dalian respondeu calmamente.
Huey parou por um momento e então fez uma careta, “... que horas são?”
“O sol vai nascer logo.”
“Mh,” Huey se sentou com dificuldade. Ele ainda não podia ver nada além de escuridão, sem nenhuma indicação do nascer do sol.
A lua branca brilhava no céu oriental. Nem mesmo os frangos dos fazendeiros haviam despertado ainda.
Similarmente, Huey estivera dormindo e foi, é claro, violentamente acordado. Por aquela garota estranhamente vestida.
“Então... por que você me acordou no meio da noite?” perguntou Huey numa voz fraca depois de balançar a cabeça.
Dalian estava observando as trevas sem expressão, com um rosto incrivelmente bonito que a fazia lembrar uma boneca de porcelana bem construída. Nas mãos, ela estava segurando um casaco, tornando evidente que ela estava ansiosa para sair.
Huey ficou mais atento ao perceber isso, pois a única razão plausível que ele podia pensar para que ela o acordasse desse jeito era algum tipo de emergência.
Dalian, porém, disse a ele com sua voz calma. “Vamos à livraria.”
“...Eh?”
Os movimentos de Huey pararam por alguns momentos. Ele estava encarando ela com olhos perplexos. Dalian por sua vez, o encarou de volta e protestou. “Eu estou entediada porque já li todos os livros dessa mansão. Então, nós vamos comprar livros.”
“... Você leu todos eles?”
Huey observou Dalian, impressionado.
Apesar de ser difícil de acreditar, ela não estava carregando um livro.
O avô dele, um eminente bibliomaníaco, havia reunido um grande número de livros de todas as partes do mundo. E ao que parecia, essas pilhas que enchiam a mansão não tinham sido suficientes para ela.
A menos que houvesse circunstâncias especiais, Dalian praticamente ficava o tempo todo lendo algum tipo de livro. Além de ler, ela não fazia quase nada. Assim sendo, era só questão de tempo até que ela lesse todos os livros disponíveis, o que havia acontecido hoje, nesse exato momento.
“Quanto tempo você planeja ficar aí contando ovelhas? Levante-se logo, seu boca de peixe.” Dalian ralhou, enquanto olhava para ele.
“... um boca de peixe, não é...” suspirou Huey, antes de se acalmar e levantar o rosto de novo. “Mas você sabe, Dalian... normalmente, livrarias não estão abertas tão tarde!”
“Até idiotas sabem disso.” respondeu Dalian friamente, “E ainda assim, você fica explicando o óbvio. Por acaso, você é um idiota?”
Huey deu de ombros, cansado.
“Então por que você me acordou agora?”
“Se nós tomarmos o primeiro trem, vamos chegar na capital antes do amanhecer.” ela respondeu a pergunta diretamente.
Huey inclinou-se para frente, surpreso.
“Espere um momento! Você está planejando ir para a capital só pra comprar alguns livros?”
Dalian assentiu.
“Sim. Nós também iremos para a capital. Depois de comprar a maioria dos livros importantes de lá, nós iremos para os lugares ao redor e compraremos o resto. Eu não estou sendo realmente efetiva? Agora, corra e se prepare quando tiver terminado de admirar o meu brilhantismo.” a garota vestida de preto disse antes de dar as costas a ele e sair da sala. Depois de olhar para ela por alguns momentos sem acreditar, Huey pegou seu relógio de bolso de novo.
“... oh, por favor, me poupe.”
Ainda não havia nada além de escuridão do lado de fora.
Parte 2
Aquela livraria estava situada numa rua secundária da cidade de universidade que estava animada com restaurantes e lojas.
O interior do prédio de dois andares estava cheio de prateleiras altas em que incontáveis livros eram colocados de forma organizada. Com olhos brilhantes, Dalian olhou pela loja e logo que encontrou uma estante que gostava, ela foi até lá como um cachorrinho cheio de energia.
“Hm, uma boa variedade.” Dalian sorriu, enquanto olhava para os livros na estante.
“Essa é a cidade de universidade mais velha do nosso país. Se você estiver procurando por livros científicos, acho que vai se dar melhor aqui do que na capital.” disse Huey suspirando. Ele enxugou as lágrimas do canto dos olhos e balançou a cabeça para se livrar do sono.
Dalian não respondeu, mas ela estava animada como ele nunca tinha visto antes.
Ela correu pela loja, pegando todos os tipos de livros e colocando-os de volta até que ficou diante de uma estante no fundo da loja. Então, depois de procurar por alguém que parecesse com um assistente da loja, ela o chamou rudemente.
“Ei, você aí. Nos dê todos os livros dessa estante até aquela estante no canto ali!”
O assistente da loja virou, incomodado e sem falar.
Um garota de cabelos negros vestida estranhamente havia entrado em sua loja e estava dizendo coisas absurdas, quem poderia culpá-lo por expressar seu descontentamento?
Dalian, irritada pela atitude dele, ficou zangada, “Você não me ouviu, seu preguiçoso?! Eu acabei de falar que estarei comprando todos os livros, daqui até lá.“
“Ei, Dalian...”
Huey correu para Dalian apressadamente. Ele cobriu a boca da garota e tirou ela de perto do perplexo assistente da loja.
“Pare com isso! O que você está fazendo, Huey!” Dalian brigou ferozmente para se libertar, balançando os braços e pernas. Com uma careta, ela encarou Huey, “Me largue! Seu idiota rude! Você fede como um velho!”
Huey ouviu e largou ela. Dalian foi puxada pela gravidade, e caiu no chão de cabeça. A armadura dela fez um som ensurdecedor.
Huey balançou a cabeça e suspirou.
“Dalian. Ouça. Você não acha que é estranho comprar livros assim?”
“... O que é estranho é a sua cabeça. O que há de errado em comprar livros numa livraria?” Uma Dalian com lágrimas nos olhos olhou para ele, enquanto segurava sua testa avermelhada.
“Sabe, normalmente não se compra estantes inteiras! Nós não viemos aqui para comprar sardinhas pra estocar, afinal.”
“Mas Wez sempre comprou livros assim.”
Dalian encarou Huey sem acreditar, e ele fez uma careta. “Wez” era o apelido do avô dele que tinha morrido meio ano atrás.
Wez era chamado de bibliomaníaco e era famoso em certos cálculos. Consequentemente, a mansão que Huey havia herdado dele estava cheia de milhares e milhares de livros. Dizia-se que entre esses livros dava para se encontrar até alguns livros curiosos e banidos que seu avô tinha comprado por preços horrendos, e livros amaldiçoados. Aparentemente, certa vez, ele havia dado metade da sua propriedade por um único livro.
“Não me compare ao meu avô. Em primeiro lugar, como você planeja levar todos esses livros pra casa? Além do mais, nós não trouxemos dinheiro o bastante.”
“Ngh... então, o que nós vamos fazer?”
Dalian apertou os olhos, perturbada.
Huey apenas deu de ombros, “Só escolha os que você realmente quer ler. Escolha apenas cinco ou seis livros e eu irei comprá-los pra você”
“Cinco ou seis?!” Dalian arregalou os olhos. Ela balançou a cabeça fracamente como se tivesse recebido um grande choque. “Você me diz pra escolher cinco ou seis livros desse grande número? Como você chama esse tipo de tortura?! É tão divertido assim me atormentar?! Você tem algum fetiche por machucar pessoas, seu maldito sado?!”
“De qualquer forma, nós não vamos comprar uma estante inteira. Escolha apenas os que você precisar.”
Ignorando as palavras da garota, ele foi para outra parte da loja.
Aquela loja não vendia apenas livros científicos, mas também dramas e os romances mais recentes.
Suspirando, Huey pegou um dos novos lançamentos que haviam sido empilhados. Era um livro de mistério de um autor popular. No começo, ele apenas leu rapidamente algumas das páginas, mas logo que houve um incidente mais misterioso, ele começou a passar as páginas concentrado.
No começo, ela ficou apenas fazendo uma careta na direção dele, mas então ela veio atrás dele na ponta dos pés e sussurrou em seu ouvido. “É a entrega de jornal.”
“Eh?”
“O culpado se disfarçou de jornaleiro. Ele escondeu o corpo na bagagem, então os porteiros não perceberam.”
“Ugh...”
O rosto de Huey se contorceu por ele ter subitamente ouvido o final, enquanto Dalian riu maliciosamente. Enquanto encarava ela de lado, Huey pegou outro livro da prateleira.
Os olhos de Dalian se apertaram imediatamente, “Nesse foi o próprio narrador, o médico. Leia a descrição cuidadosamente, quando o corpo for descoberto.”
“Por que você está fazendo isso?!” Huey não aguentou mais.
Dalian respondeu, sem se impressionar. “Você foi mal comigo primeiro.”
“Eu apenas te ensinei senso comum!”
Obviamente, a voz dele foi rude. Dalian apertou os lábios e virou a cabeça, amuada.
De repente, alguém — uma voz feminina risonha — falou com eles.
“Ei, ei, não briguem aqui. Vocês estão causando problemas!”
Quando Huey se virou, ele viu uma jovem mulher que estava carregando um livro, que ela aparentemente estivera lendo.
A idade dele era próxima da de Huey, ao redor dos 20 anos. Ela era baixa, mas ainda era uma cabeça mais alta que Dalian.
Ela com certeza poderia ser chamada de bonita por causa de seu rosto bonito, mas o que deixava ainda mais impressão era o sorriso dela. Ela ria inocentemente como uma criança.
“Se vocês não tem dinheiro o bastante para comprar esses livros, devo emprestar pra vocês? Os juros serão altos.” brincou a jovem enquanto observava o rosto de Huey.
Huey olhou para ela, completamente pego de surpresa. “... Camilla?”
“Yaaay! Quanto tempo, Huey. Por que você não fez contato comigo quando voltou para a Inglaterra?” Camilla assentiu exageradamente feliz.
Enquanto tudo isso estava acontecendo, Dalian se escondia atrás de Huey.
Finalmente, ela colocou metade do rosto para fora, com todo o cuidado. Era o comportamento de um animal pequeno. Além disso, ela tinha pegado um livro grosso e estava escondendo a cabeça com ele.
Enquanto puxava a manga do casaco de Huey, ela perguntou sussurrante, “Quem é essa loira que parece não ter nenhum ponto forte, exceto pelo rosto?”
“Bem... como eu devo dizer...” Sussurrou Huey ambiguamente.
Camilla se inclinou na direção de Dalian. “Quem é essa pequena? Ela não é um pouco alta demais pra ser sua filha, Huey?”
“... Filha?!” A garota vestida de preto enrubesceu e ficou incapaz de falar. Aparentemente, ela ficou ofendida por ser tratada como uma criança e tremeu de raiva.
Camilla, porém, riu despreocupadamente e disse de forma alegre, “Não, só estou brincando! Não se preocupe, eu estou informada. Você está cuidando da garota que vovô adotou, certo?”
“Adotou... há. Mais ou menos, sim...,” Huey assentiu, com vergonha.
Depois de ouvir ele com uma sobrancelha levantada, Camilla sugeriu, “Eu adoraria falar um pouco com você. Você teria tempo para tomar um chá comigo?”
“Nós devemos ter tempo,” ele disse e virou para a garota atrás dele. Dalian inflou as bochechas e olhou para Camilla.
Camilla colocou o dedo nos lábios, pensando em alguma coisa, e olhou para o teto. Então, ela pegou um pequeno pacote de dentro da bolsa dela por alguma razão.
O pacote estava enrolado com um laço e era de uma confeitaria famosa nessa rua. Logo que ela desfez o laço, o cheiro delicioso de doces assados encheu o ar.
Camilla abriu o pacote e Dalian se inclinou pra frente.
Ela fechou o pacote e Dalian se escondeu atrás de Huey.
Camilla abriu o pacote novamente e Dalian colocou a cabeça pra fora de novo.
“Que tal tomarmos um chá, juntos? E comer alguns doces recém-assados?” Camilla perguntou com um largo sorriso.
Dalian caiu em silêncio, pega num terrível dilema, mas eventualmente perguntou numa voz estranhamente séria, “...vai ter creme coalhado nos pães-de-mel?”
“Sim, é claro. Vai ter até geleia para seu chá preto!” Camilla assentiu e riu alegremente.
Depois de colocar o livro de volta em seu lugar original, Dalian andou na direção dela. Então ela se virou para Huey e chamou-o com olhos reprovadores, “O que você está esperando? Estamos indo!”
Parte 3
Huey e Dalian foram levados para a casa de férias de Camilla, na cidade.
Era um lugar agradável que tinha um jardim pequeno, mas bonito. Havia um grande rio perto, que eles podiam admirar da varanda de vidro, onde a sala de chá estava.
“Huey e eu somos amigos de infância!” explicou Camilla, enquanto olhava Dalian, que ainda estava um pouco cautelosa em relação a ela. “Meu pai trabalha como um comerciante, sabe, então nossas famílias se conhecem há muito tempo. Especialmente o velho Wez, porque ele era um cliente nosso e visitava a mansão frequentemente. Foi assim que eu conheci o Huey.”
“...”
Dalian virou para Huey a fim de confirmar a declaração de Camilla. Ele parecia um pouco incomodado e suspirou.
“Isso foi há eras atrás! Ela foi para o novo continente por um tempo.”
“Novo continente?” Dalian levantou uma sobrancelha levemente.
“Yay!” Camilla fez o sinal de certo com o polegar e assentiu animadamente.
Dalian deu pra trás e franziu as sobrancelhas. Aparentemente, ela não sabia lidar com a franqueza americana de Camilla.
“Eu estava lá, conduzindo alguns negócios do meu pai. Eu voltei logo depois da guerra acabar.”
“Então é por isso que você está vestida assim?” perguntou Dalian, aparentemente tendo um momento eureka, enquanto observava as roupas de Camilla de cima a baixo.
“Ugh... então parece estranho mesmo? Mas lá é bem normal...” ela explicou, sussurrando, enquanto segurava a bainha de sua saia com os dedos.
Apesar de não tanto quanto a de Dalian, a aparência dela também era bem incomum.
Ela usava uma blusa branca com uma gravata, e um chapéu de caubói na cabeça. Seu cabelo levemente peculiar, mas bonito, estava cortado na altura dos ombros e nos pés estavam altas botas de laços. A saia sem adornos que ela usava, estava apertada por um cinto tão grande que era possível colocar uma pistola nele. Ela parecia mais uma das pioneiras do novo continente do que a filha de um homem rico na capital.
Os pais dela eram ricos e cuidavam de diversas empresas, assim sendo, seria normal que alguém na posição dela apenas mandasse um servo para a biblioteca ou chamasse um vendedor de livros.
Camilla, porém, balançou a cabeça casualmente.
“Eu não iria, necessariamente, em pessoa se fossem livros normais. Mas sabe, como é sobre os livros de estudo que eu vou dar para as crianças, eu queria checá-los e selecioná-los com cuidado.”
Dalian virou a cabeça.
“Livros de estudo?”
“Eu estou ensinando em uma pequena escola particular. Sabe, tem crianças que vivem em famílias pobres e não conseguem pagar uma educadora, mas ainda desejam uma educação melhor. Bem, quando conseguirem entrar em alguma universidade, eles poderão receber uma ajuda, mas até lá, só poderão estudar sozinhos. E é com isso que eu estou ajudando eles.” Explicou Camilla orgulhosamente.
Dalian olhou para ela com olhos impressionados e formulou seus pensamentos, “... você é uma mulher estranha.”
Huey riu e assentiu. “Ela é. Sempre foi.”
“Que rude!” Camilla colocou as mãos na cintura. “Pra começar, você não é diferente, Huey. Já achou aquilo?”
“Aquilo...?”
“—A Bibliotheca Mystica de Dantalian.” Camilla sorriu. “A biblioteca particular que tem o nome do demônio que reina sobre o conhecimento e é descrito com livros nas mãos. O repositório proibido que guarda 900.666 livros espectrais, dos quais nenhum deveria existir. Você esteve procurando por isso o tempo todo, não é?”
“Quem sabe?” Huey fingiu ignorância. Enquanto franzia os ombros na direção de Dalian, que estava encarando ele de lado, ele continuou. “Alguma vez eu falei com você sobre algo assim?”
Camilla ficou um pouco irritada e chegou perto dele.
“Você não pode dizer que esqueceu! Eu estive querendo vê-la, sabe, porque eu pensei que o Velho Wez pudesse mesmo possuí-la.”
Huey deixou de responder, tomando mais um pouco do chá que tinha sido trazido por uma empregada.
Camilla suspirou longamente, e logo depois se conteve, levantando o rosto. “Certo! Agora que nós estamos falando sobre livros, eu estive querendo perguntar algo a você. Sabe, existe algum livro que te torna mais inteligente?”
“... livro que te torna mais inteligente?”
“Sim. Livros que aumentam a sua inteligência só de lê-los.”
“Bem, eu acho que sempre existe alguma coisa que pode ser ganha lendo um livro. Seja conhecimento, imaginação, ou algo diferente.” Huey respondeu francamente.
Porém, Camilla balançou a cabeça com um semblante surpreendentemente sério. “Não é isso que eu quero dizer! Apenas lendo ele, você fica muito mais inteligente a ponto de parecer alguém completamente diferente. Por exemplo, você subitamente sabe coisas que não deveria saber ou fica capaz de resolver facilmente os cálculos mais complexos.”
“Um livro que aumenta as suas faculdades mentais...?”
“Mh, sim. Acho que é isso.” Camilla parou para pensar, e assentiu. “Pra falar a verdade, eu estou falando sobre Mildred.”
“Mildred...? Você quer dizer a Mildred da família Dewar?”
Huey tentou relembrar do rosto da mulher que ele tinha esquecido completamente, deixando o olhar vagar pela sala.
Com um sorriso de esguelha ao olhar ele fazer isso, ela respondeu. “Sim, aquela bruxa. Lembra? Ela também está ensinando uma escola particular. De qualquer forma, algum tempo atrás, ela veio falar comigo, queimando de rivalidade, e foi aí que ela me disse que tinha obtido um livro espectral que aumentava a inteligência de seus estudantes.”
“... um livro espectral?” O semblante de Huey escureceu. “Ela disse que era um livro espectral?”
“Sim. Cheia de orgulho.” disse Camilla torcendo os lábios. Mas então, ela pareceu um pouco preocupada. “Mas sabe, depois disso, ela mudou. Ela parou de sair de casa... e disse, com medo, que não conseguia mais lidar com os alunos dela, porque eles tinham ficado inteligentes demais...”
“Inteligentes demais...?” Huey virou para Dalian, ainda com uma expressão cheia. “O que você acha disso, Dalian?”
“Livros que ensinam estilos de aprendizado não são nada raros.” Dalian franziu o cenho para Camilla, de mau humor. “Está escrito que técnicas mnemônicas já tinham sido usadas 2500 anos atrás na Grécia antiga, e muitas culturas antigas tinham desenvolvido suas próprias maneiras de cálculos rápidos para calcular problemas complexos mentalmente.”
“O Palácio da Memória de Simônides e as Matemáticas Védicas, certo?” Camilla falou.
Dalian arregalou os olhos, “Sim, parece que você sabe das coisas... apesar de não parecer.”
“Ugh... eu não pareço? O que você quer dizer...?” Camilla suspirou com os ombros caídos. “Mas, de qualquer jeito, não está relacionado a essas coisas. Eu só ouvi falar dele, também, mas aparentemente não apenas o conhecimento deles, mas também a forma de pensar e personalidade mudaram completamente em só alguns dias...”
“Em só alguns dias?” Huey levantou a sobrancelha.
Era uma impossibilidade física fazer a inteligência de um estudante aumentar a ponto de assustar o professor simplesmente lendo um livro — se fosse apenas um livro normal, pelo menos.
Se algo desse tipo tinha realmente acontecido, então eles deviam ter lido um livro anormal.
“Entendi...” Dalian franziu o cenho e suspirou. “Pode ser isso. É presumivelmente um verdadeiro livro espectral. O assim chamado Liber Sapientiae que foi escrito por um latino sem nome. Em pensar que algo assim ainda estava por aí...”
Depois de dizer isso, ela ficou em silêncio com uma cara contorcida. Aparentemente, aquele livro espectral estava conectado com memórias ruins.
“Um livro espectral que aumenta a inteligência de uma pessoa sem limites, hm. Deve ser uma boa ideia coletá-lo assim que possível.”
Huey se levantou com um suspiro. Porém, Dalian não moveu um músculo.
“Não... deixe-o.” ela disse, colocando mais açúcar em seu chá.
Huey respondeu com uma voz tensa. “Mas é um livro espectral! E se ele cruzar a barreira porque alguém sem qualificações está lendo ele?”
“O ‘Livro da Sabedoria’... dá ao seu leitor conhecimento perfeito. O leitor é capaz de reinar sobre as pessoas ou destruir o mundo se ele quiser.”
Huey estava claramente perturbado pelas afirmações assustadoras de Dalian.
“Então nós temos mesmo que pegá-lo...”
“O deixe.” Ordenou Dalian friamente. “A edição inicial do ‘Livro da Sabedoria’ já está na Biblioteca. Eu não preciso de duas edições do mesmo livro. Se você ficar de quatro diante de mim, eu posso até mostrar ele pra você.”
“Eu não iria tão longe por isso!” Huey balançou a cabeça, irritado.
Até então, Camilla só tinha observado a conversa com confusão, mas aí ela começou a falar. “Ei, vocês dois. Do que vocês estão falando? Livros espectrais? Biblioteca?... até parece que a Bibliotheca Mystica de Dantalian realmente...”
Quando Camilla fez essa pergunta evidente, Dalian olhou para ela de forma severa. Então ela deu o sinal de ok e disse, “Yay.”
“Yay?”
Camilla torceu os lábios com surpresa ao responder acidentalmente a Dalian dando o sinal de ok também.
Parte 4
A mansão de Mildred Dewar estava do outro lado do rio.
Ela não queria falar com ninguém, pois estava de mau humor, mas logo que ouviu que Camilla tinha mandado eles, ela os deixou entrarem, de má vontade.
A mulher que deu as boas vindas a eles no salão, Mildred, era um pouco mais velha que Huey. Ela usava roupas bem cuidadas e tinha prendido o cabelo castanho em um chignon. Ela podia ser chamada um exemplo de pessoa sóbria que cultivava boas maneiras, então não era surpresa ela não se dar bem com a Camilla. Por outro lado, ela parecia estar exausta.
“Lord Hugh Anthony Disward?” Mildred suspirou de mau humor após ouvir Huey se apresentar. “Eu me lembro de você. Você é um amigo de Camilla Sauer Keynes. O que você quer? Você veio rir de mim?”
Huey sorriu ironicamente diante da atitude ofensiva dela.
“Não é isso! Eu apenas quero ouvir algo sobre o livro espectral que você obteve.”
“... eu não quero falar para você.” Mildred se recusou diretamente. “Por que você não pergunta para os alunos? Eles vão responder qualquer coisa! Eles são monstros, afinal!”
“Monstros?” Huey franziu a sobrancelha. “É cruel chamar os seus próprios alunos de monstros.”
“Oh, você não sabe de nada, sabe?” Mildred riu. Era uma risada amarga, como se um buraco abrisse numa linda escultura. “Essas crianças ultrapassaram nós, humanos. Elas tem uma habilidade computacional monstruosa, um poder de entendimento perfeito e conhecimento em todos os tipos de campos... aos olhos deles nós somos apenas criaturas inferiores similares a macacos!”
A expressão do Huey desapareceu de seu rosto. Não porque ele estava assustado, mas porque ele estava irritado do fundo de seu coração com o problema que tinha procurado.
“Crianças cujo conhecimento aumentou dramaticamente em apenas alguns dias, hã... se elas realmente viraram monstros maiores que humanos, para que elas vão usar seus poderes...?”
“Eu não sei.” Mildred balançou a cabeça impassivelmente. Apesar do sol ainda estar alto no céu, ela fedia levemente a álcool. “De qualquer modo, nós não poderíamos parar elas. Se elas quisessem, poderiam subjulgar a humanidade ou até mesmo nos levar a ruína!”
“... o livro espectral os transformou no que são agora?”
“Sim! É tudo culpa daquele livro e das figuras estranhas nele!”
“Onde as crianças estão agora?”
Mildred respondeu essa pergunta silenciosamente apontando o quintal da mansão.
Uma casa velha e simples de madeira estava lá. Aparentemente, ela tinha sido originalmente usada pelo jardineiro e sua família, mas desde então havia sido alterada para ser usada como sala de aula.
Dava para ver várias crianças dentro da sala.
Mesmo com a professora, Mildred, fora, elas não mostravam nenhum sinal de brincar. Ao invés disso, estavam sentadas em um círculo discutindo alguma coisa. Algo assim não era raro em uma universidade, mas ver jovens crianças discutir alguma coisa sem expressão dava uma sensação estranha.
“Eu queria nunca ter conseguido aquele livro. Quão tola eu fui por tentar triunfar sobre a Camilla... as crianças eram tão adoráveis naquela época, apesar de não serem tão espertas...” sussurrou Mildred, enquanto afundava na cadeira.
Ela estava aparentemente muito cansada. Huey julgou que não poderia obter mais nenhuma informação dela.
Ele a agradeceu e se levantou.
Logo antes deles saírem do salão, Dalian virou para a triste Mildred e disse calmamente, “Humanos não são necessariamente mais diligentes ou mais felizes que macacos.”
Mildred levantou a cabeça, surpresa, e olhou para Dalian enquanto eles saíam.
O interior da pequena escola privada estava sujo e coberto de poeira.
O que eles viram depois de abrir a porta foi uma pequena sala de aula, que consistia de um quadro negro com marcas de giz na mesa de um professor. Além disso, seis crianças tinham juntado suas mesas velhas e estavam sentadas ao redor delas.
Julgando pela aparência das crianças, elas provavelmente tinham acabado de entrar no ensino fundamental. Não havia qualquer emoção nos rostos delas, e seus olhos tinham um toque de apatia.
Ao ver Huey e Dalian, elas se viraram sem falar.
As crianças não pareciam desinteressadas, mas pareciam gostar de observar o comportamento de seus visitantes. Como se estivessem lidando com um gato que tinham encontrado pela rua, elas esperaram por uma reação.
“Vocês são os alunos de Mildred?” perguntou Huey.
Múltiplas crianças abriram a boca simultaneamente.
“Nós somos, e?”
“Vocês são a Biblioprincesa Negra e o guardião da chave?”
“O guardião da Bibliotheca Mystica de Dantalian, não é... Que interessante. Ela realmente existe?”
“Você veio por causa do ‘Livro da Sabedoria’?”
Essas frases perturbaram Huey levemente.
“... Vocês sabem sobre nós?”
Apenas um número muito pequeno de pessoas, familiares com conhecimento oculto como magia, deviam saber sobre a Biblioprincesa, proprietária da biblioteca espectral chamada “Bibliotheca Mystica de Dantalian”, e o servo dela.
Meras crianças comuns não deviam conhecer esses termos, não importa o quão alta fosse a inteligência delas. Mas elas responderam facilmente, enquanto Huey estava cada vez mais surpreso.
“Existe uma hipótese chamada ‘Seis graus de separação’.”
“É um ideal que implica que você conhece quase todas as pessoas na terra em seis passos que seguem ‘o amigo de um amigo de um amigo’.”
“Resumindo, você pode obter qualquer informação que quiser. Mesmo crianças jovens como nós, podem.”
“Nossa professora, infelizmente não entendeu, não importando quantas vezes nós explicávamos para ela...”
Os risos naturais das crianças ressoaram na sala de aula silenciosa.
Huey deu uma olhada na mansão de Mildred e suspirou fracamente.
“Podemos ficar com o seu livro espectral?”
Ele tinha certeza de que eles iam se recusar, mas as crianças assentiram imediatamente.
“Claro. Nós não precisamos mais dele.”
Com uma expressão surpresa, Huey estendeu a mão para o livro velho na mesa.
Não havia nada no livro que parecessem letras. Apenas padrões estranhos similares a labirintos e figuras preenchiam as páginas, lembrando as paredes de ruínas antigas.
“Esse livro libera a capacidade potencial do cérebro de uma criança.”
“Você já deve ter ouvido falar dessas pessoas raras entre os mentalmente retardados e autistas que possuem uma habilidade computacional sobre-humana ou memória impressionante, certo?”
“A capacidade potencial de um cérebro humano é grande a esse ponto!”
“Os padrões desenhados nesse livro espectral foram criados para construir uma rede neural para utilizar essas capacidades pós-natais. Infelizmente, ele só funciona para crianças, pois o cérebro delas ainda está suscetível à influência.”
“... Entendo.”
Huey franziu as sobrancelhas e fechou o livro. Ele se apoiou na parede com a mão, aparentemente se sentindo um pouco tonto, e balançou a cabeça.
“Dispositivos mnemônicos e técnicas de cálculo foram originalmente criadas para antigos homens de estado como sacerdotes.” Dalian explicou para Huey em uma voz desinteressada. “Para mostrar sua superioridade em relação à população sem educação, eles tinham necessidade de uma forma de calcular as órbitas dos corpos celestiais ou lembrar seus conhecimentos complicados perfeitamente.”
As crianças assentiram com a explicação da garota vestida de preto.
“O conhecimento deles, como as técnicas de cálculo e dispositivos mnemônicos, foi estritamente guardado para preservar seus privilégios especiais.”
“Apenas uma parte, muito pequena, foi passada para a nossa era na forma de matemática e oráculos.”
“As verdadeiras tecnologias dos sacerdotes antigos foram perdidas, junto com a ruína deles.”
“Bem, e uma dessas, você encontra nesse livro. Uma técnica usada para treinar novos sacerdotes e sacerdotisas.”
Huey não sabia o que pensar ao ser instruído por crianças. Ele deu um suspiro cansado.
“... O que vocês planejam fazer com essa tecnologia?”
A mão direita dele estava em seu casaco, sentindo um objeto de metal negro — um revolver carregado com seis balas.
As crianças piscaram, pasmadas.
“Hm? Nós não temos nenhum plano.”
“Eh?” Huey estava dúbio.
Porém, não havia sinal de uma mentira previamente arranjada. Não, elas até riram com prazer.
“Você acha que nós iríamos querer assumir o controle do mundo no lugar dos tolos crescidos?”
“Oh bem, não seria impossível se nós fizéssemos isso.”
“Primeiro viria à economia. É possível ganhar um grande lucro em pouco tempo fazendo negócios no mercado futuro com dinheiro tirado de fundos de investimento.”
“Uma opção interessante, seria interferir na política com os fundos ganhos. Especificamente, nós também poderíamos influenciar o exército de um país politicamente instável e os fazer começarem uma guerra. Isso faria os preços subirem e permitiria que nós ganhássemos muito dinheiro pela taxa de troca.”
“Além disso, seria fácil explorar a ansiedade da população nesse ponto. Nós não devemos esquecer a religião. Nós poderíamos, por exemplo, tentar colocar terminologia econômica e científica nas doutrinas.”
“Bem, mas nós não vamos fazer isso.”
“É, não vamos.”
Huey inclinou a cabeça, agora completamente pasmado.
“... Por que não?”
As crianças suspiraram diante dessa questão.
“Olhe, que bem viria para nós por comandar o mundo?”
“Isso só nos daria estresse. Afinal, nós poderíamos ser assassinados algum dia por um subordinado, depois de finalmente ascender ao trono com dificuldade.”
“Por que pessoas capazes como nós tem que cuidar das massas tolas que só ficam no nosso caminho?”
Huey, sem saber o que fazer, olhou entre os rostos das crianças e o livro espectral em suas mãos.
“Nesse caso, o que vocês vão fazer a partir de agora?”
Com as mãos nos queixos, elas responderam imediatamente:
“Você não ouviu? Nada!”
“Vamos apenas relaxar, sem nem trabalhar.”
“Enquanto nossos pais ainda estiverem vivos, eles vão cuidar de nós, e deve ser possível continuar a vida tirando vantagem de pessoas, como a professora dessa escola.”
“Não se preocupe. Nós não vamos usar meios irracionais como roubo.”
Um bando de crianças de olhar vago riu de forma divertida.
Enquanto observava as crianças com uma expressão desamparada, Huey disse. “Mas com o conhecimento que vocês têm, não poderiam virar pesquisadores e desenvolver novas teorias e tudo mais...?”
“Não vale a pena, se você levar as nossas chances de sucesso em consideração.”
Elas olharam para Huey com olhos derrogatórios.
“Mesmo se nós entrássemos numa universidade renomada, se você não tiver dinheiro e conexões, você não irá muito longe. Mesmo se achar um bom trabalho, você vai acabar sendo usado pelos seus superiores.”
“E em primeiro lugar, o que nós deveríamos fazer se tivéssemos sucesso e ficássemos ricos? Viver uma vida sem trabalhar?”
“É melhor fazer isso sem trabalhar desde o começo.”
Enquanto ouvia eles, Huey colocou as mãos na cabeça como se estivesse sofrendo de uma grave dor de cabeça.
Com uma expressão cansada, ele se apoiou na parede, “Sim... me desculpe. Eu também não sei mais o que está certo...”
Para ajudá-lo, uma criança disse, “Bem, eu sugiro que você pegue esse livro e vá para casa.”
Huey assentiu cansado.
“Eu farei isso!”
Quando eles deixaram a mansão Mildred, já era quase noite. O sol está se aproximando do horizonte, brilhando nas cores de geleia de Damasco, enquanto a reflexão na água colocava uma luz avermelhada no rosto deles.
“Dalian, você sabia que os possuidores do ‘Livro da Sabedoria’ ficam daquele jeito...?” perguntou Huey enquanto avançava.
“É por isso que eu disse pra você deixar pra lá.” falou Dalian antes de continuar com um suspiro. “Aqueles que são realmente inteligentes percebem antes de desafiar alguma coisa que as chances estão contra eles. Se você não quer perder, então apenas não faça nada.”
“Entendo.” Murmurou Huey. “Agora que eu penso nisso, acho que a maioria dos indivíduos memoráveis na história não eram gênios, mas apenas cabeça-dura e persistentes.”
Dalian riu animadamente e olhou para ele.
“Fique feliz. Parece que você não é completamente sem esperança.”
“... por que, por que isso não me anima?” Huey disse franzindo as sobrancelhas.
Depois de eles terem andado por um tempo do lado do rio, viram um cabriolé. Dalian aumentou um pouco a velocidade e virou para Huey.
“Agora que você terminou, nós temos que voltar para a mansão daquela solteirona.”
“Solteirona...? Você quer dizer a Camilla?” ele perguntou com um sorriso. “Isso é rude.”
Dalian assentiu vigorosamente. “Sim. Ela não me serviu o doce prometido ainda.”
“Eh, só por isso...?”
Ela o encarou, quando Huey mostrou sua surpresa, e continuou de uma forma estranhamente séria. “‘Só por isso’?! Você não deve fazer pouco do creme coalhado! E logo que eu terminar de comer, nós vamos visitar mais algumas livrarias!”
“Oh... então você se lembrou...”
Huey suspirou.
Subitamente, Dalian mudou de assunto. “Aliás, o que você vai fazer com esse livro espectral? Eu não preciso dele. Nada de bom vem de mexer com ele.”
“Um livro espectral que aumenta a inteligência dos leitores, hã...” Huey sussurrou sem expressão, segurando o livro velho diante de si. “Bem! Dizem que é preciso ser um pouco tolo, se não quiser ser ainda mais estúpido!”
Ele pegou um isqueiro do bolso do casco e colocou fogo na capa de couro.
O livro queimou, as cinzas dançando no vento.
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