sábado, 25 de maio de 2013

Suzumiya Haruhi no Yuuutsu - V.04 / Prologo


O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi [Download]
Prólogo
Era uma manhã fria, tão fria, que parecia que todo o planeta poderia se quebrar em
pequenos pedaços de gelo se fosse acertado por uma picareta. Melhor ainda, se possível,
gostaria de liderar o grupo para quebrar esse mundo gélido.
Entretanto, era natural estar frio; estávamos no inverno. Durante o Festival Cultural há
apenas um mês, ainda estava terrivelmente quente. Porém, logo quando Dezembro chegou,
esfriou tão rápido, que deu a impressão de que a Mãe Natureza tivesse se lembrado
repentinamente de algo que ela já estava esquecendo, e agora eu sinto profundamente com
meu próprio corpo que o Japão não passou pelo Outono este ano. Não me diga que alguém
confundiu um desejo de bons negócios com um feitiço... essa massa de ar siberiana poderia
muito bem mudar de curso. Não havia a necessidade de aparecer todo ano dessa forma.
Será que a rotação da Terra enlouqueceu? Enquanto caminhava aflito com a saúde da
querida Mãe Natureza, ouvi “Yo, Kyon!”
Um rapaz frívolo correu até mim para me dar um tapinha no ombro, com sua voz tão aérea
quanto hidrogênio. Era irritante parar no meio do caminho, então apenas virei minha cabeça
em sua direção.

“Yo, Taniguchi”, respondi, me virando novamente para frente, encarando o topo daquela
imensa colina. Nós subimos essa ladeira diariamente, então por que não nos dão um descanso
durante nossas aulas de educação física? Todos os professores de educação física, inclusive
Okabe, o responsável pela nossa sala, poderiam se preocupar mais com essa maratona que
os estudantes enfrentam para chegar à escola. Eles vão de carro, se me permite observar.
“Que voz de pato é essa? Caminhar a passos largos de forma animada, isso sim é um bom
exercício, e ainda te aquece. Olhe para mim, eu nem mesmo estou usando um suéter. O verão
é horrível, mas esta estação é simplesmente ótima para mim.”
É bom manter-se cheio de alegria, mas de onde isso tudo vem? Divida um pouco comigo.
Os lábios de Taniguchi facilmente se transformaram num sorriso.
“As provas do semestre acabaram! Graças à isso, chega de aprender este ano. Além disso,
tem um evento sensacional esperando por nós!”
O exame semestral caiu com igualdade sobre todos os estudantes desta escola, e
igualmente acabou. As únicas coisas que não foram iguais, provavelmente, são as notas das
provas em nossos boletins.
Lembrei-me de minha mãe, que estava pensando em me matricular em um cursinho, e com
isso meu humor despencou. Quando entrarmos no décimo-primeiro período ano que vem,
nossas salas serão decididas de acordo com a faculdade que iremos prestar: Artes liberais ou
ciências? Públicas ou particulares? Qual delas eu devo escolher?
“E quem se importa com isso?” - Taniguchi riu brevemente - “Tem algo mais importante do
que isso. Você sabe que dia é hoje?”
“17 de Dezembro” - respondi - “O que é que tem?”
“Que resposta mais idiota! Você nem mesmo se lembra do dia especial que há na semana
que vem, aquele que fará o seu coração disparar?”
“Ah, claro.” - pensei ter a resposta certa desta vez - “É a cerimônia de fim de semestre. As
férias de inverno definitivamente merecem ser esperadas.”
Porém, Taniguchi me lançou um olhar como de um animalzinho que havia se deparado
com um incêndio.
“Não! Aquele dia semana que vêm! Pense! Você vai encontrar a resposta logo logo.”
“Hmm...”
Eu bufei e expeli uma nuvem de fumaça branca.
24 de Dezembro.
Eu sabia disso. Já havia previsto que alguém planejaria alguma conspiração ou plano
maligno para a próxima semana. Mesmo que todos se esquecessem, eu não esqueceria nunca.
A pessoa que poderia facilmente identificar um evento deste tipo antes que eu o fizesse estava
sentada aqui, bem atrás de mim. Ela lamentava a chance perdida do Haloween no mês
passado, e não havia dúvida de que desta vez ela iria aprontar algo.
Bem, para ser honesto, eu já tinha idéia do que ela iria fazer.
Ontem, na sala do clube, Suzumiya Haruhi disse exatamente o seguinte:
“Alguém tem planos para a véspera de Natal?”
Haruhi, que arremessou a mochila assim que fechou a porta, olhou para nós com seus
olhos brilhando como as três estrelas do Cinturão de Orion.
A sua tonalidade de voz parecia dizer o seguinte: “Não é possível vocês terem feito planos.
Isso é claro como um cristal, certo?” Ela poderia soltar uma nevasca caso alguém admitisse
que possuía algum outro plano.
Naquele momento, Koizumi e eu estávamos jogando TRPG [1]. Asahina-san, vestida com
seu uniforme de Maid, que já estava se tornando seu traje comum, mantinha suas mãos
erguidas em frente ao forno elétrico. Nagato estava lendo seu novo livro de ficção científica de
capa dura, sem nenhum movimento a não ser o dos dedos e dos olhos.
1-[Nota do tradutor: Table-talk Role Playing Game (TRPG) é um jogo de RPG misto com jogos
de táticas e estratégia, jogável em um tabuleiro].
Haruhi colocou uma grande sacola de mão, que ela trouxe junto com a mochila do colégio,
no chão, e caminhou em minha direção. Erguendo seu peito, ela olhou para baixo.
“Kyon, eu sei que você não tem planos, não é? Não era necessário perguntar, mas eu me
sentiria culpada se não deixasse as coisas claras.”
Um sorriso como o do gato mais famoso do mundo [2] se desenhou em seu rosto. Eu dei o
dado que eu estava prestes a arremessar para Koizumi, que sorria de forma suspeita, e me
virei para Haruhi.
2-[Nota do tradutor: referência aberta a interpretações: Garfield, Felix ou Doraemon,
personagem idolatrado no Japão].
“E se eu tivesse planos? Pergunte-me antes.”
“Isso quer dizer que você não tem nenhum!”
Concordando com seu próprio desejo, Haruhi tirou seus olhos de mim. Ei, espere um
pouco! Eu ainda não respondi a sua pergunta...! bem, como se essa fosse a primeira vez que
não tenho nenhum plano.
“Koizumi, você vai sair com a sua namorada?”
“Seria agradável se este fosse o caso!”
Balançando o dado em sua mão, Koizumi soltou um suspiro dramático. Eu consigo o ler
como um livro; ele está representando. Que mestre na arte da trapaça!
“Seja isso considerado sorte ou não, minha agenda para antes e depois do Natal está
completamente vazia. Eu tenho perambulado e rodado por aí sozinho, preocupado em como
eu deveria usar este meu tempo.”
Seu belo sorriso apenas soletrava MENTIROSO. Porém, Haruhi engoliu essa história sem
um pingo de dúvida.
“Sem problema. Na verdade isso é uma benção.”
Então Haruhi zarpou até a senhorita empregada.
“Mikuru-chan, e quanto a você? Alguém te chamou para 'ver o momento em que a chuva se
torna neve no meio da noite'? Enfim, se você achar alguém lhe dizendo esse monte de besteira
com uma cara séria, dê-lhe um bom soco!”
Encarando Haruhi com seus grandes olhos bem abertos, Asahina-san parecia perplexa
com esse questionamento abrupto.
“Bem, eu acho que sim. Por hora eu não tenho nada planejado... eh... meio da noite? Oh...
enfim, deixe-me servir um pouco de chá.”
“Fervendo por favor! Eu provei uma vez o 'chá de ervas' e estava fabuloso.”
Com isso Haruhi terminou o seu pedido.
“Ah, sim! Não irá levar nem um minuto.”
Asahina-san colocou a chaleira no forno a gás portátil com um rosto radiante. Fazer chá era
realmente tão divertido?
Balançando a cabeça com satisfação, Haruhi finalmente se virou para Nagato.
“Yuki–”
“Nada.”
Nagato deu uma resposta curta sem sequer mover a cabeça das páginas.
“Então você vai.”
Encerrando a franca e animada conversa, Haruhi me olhou com um sorriso convencido. Eu
olhei para o rosto pálido de Nagato, com sua atenção voltada completamente para o livro, era
como se a conversa que acabara de acontecer não tivesse nada a ver com ela. Pensei comigo
mesmo se ela pode se salvar daquele ambiente cheio de respostas maliciosas. Pelo menos,
perca algum tempo fingindo lembrar-se da sua agenda.
Haruhi ergueu sua mão.
“A moção para a festa de Natal da Brigada SOS foi aprovada de forma unânime. Se alguém
tem alternativas ou objeções, deixe-as para depois da festa. Se for necessário lê-las, eu as
lerei.”
Em outras palavras, é aquela situação de sempre: suas palavras não podem ser negadas,
uma vez que já foram ditas, não importa o que aconteça. Era literalmente como um gesto,
impossível de ser desfeito, mas se compararmos com meio ano atrás, ela perguntar os planos
das outras pessoas antes das decisões, pode ser considerado como um avanço. Bem, seria
melhor se ela perguntasse pelas opiniões dos outros, ao invés dos seus planos.
Com o rosto transbordando de satisfação por tudo ter ido conforme o esperado, Haruhi
enfiou a mão na grande sacola que estava no chão.
“Afinal, ninguém pode estar despreparado para uma época como o Natal, não é mesmo?
Então eu comprei algumas coisas. A melhor maneira de se aproveitar essa época começa com
algumas bugigangas para entrarmos no clima.”
Pularam da sacola: neve em spray, cordões dourados e prateados, bombinhas, uma árvore
em miniatura, renas de pelúcia, algodão, pisca-pisca, coroa de flores, faixas vermelhas e
verdes, tapeçaria dos Alpes, uma miniatura de boneco de neve, um candelabro, e grandes
meias de Natal que tinham tamanho suficiente para caber uma criança, CD's com canções
natalinas...
Com um sorriso brilhante no rosto como o de uma vizinha gente boa que dá doces para as
crianças, Haruhi colocou habilmente sobre a mesa os itens que ia tirando da sacola, um por um.
“Eu vou injetar um clima de festa nessa sala sem graça. O primeiro passo para aproveitar o
Natal pró-ativamente e positivamente começa com a decoração. Vocês não faziam isso quando
eram mais novos?”
Não importa se eu fazia isso ou não, o quarto de minha irmã definitivamente estará bem
decorado daqui a alguns dias. Minha mãe provavelmente irá me forçar a ajudar novamente na
decoração esse ano. A propósito, minha irmã, que está completando 11 anos e indo para a
quinta série este ano, de alguma forma ainda insiste em acreditar em Papai Noel. Ela não está
ciente do trabalho oculto de meus pais, o que já havia descoberto faz muito tempo, logo no
início de minha vida.
“Aprenda com o coração puro da sua irmã! Alguém deve começar acreditando em um
sonho. Caso contrário, mesmo o possível será difícil de alcançar. Ninguém ganha na loteria
sem fazer uma aposta, você sabe. Você pode até de desejar que alguém lhe dê um bilhete
premiado que valha milhões de dólares, mas isso não vai acontecer!”
Haruhi, com um grande prazer e habilidade incomparável, pegou um chapéu de festa e
colocou-o na cabeça.
“Em Roma, faça como os romanos. Quando se está em ma cidade, siga as suas regras. O
Natal também tem seu próprio protocolo a ser seguido. Isso explica porque ninguém comemora
um aniversário de mal-humor. Ei, até mesmo o Sr. Cristo irá se alegrar vendo a gente se
divertir!”
Existem várias teorias relacionadas com o nascimento de Cristo, até mesmo o ano em que
ele nasceu é cercado de mistério. Mas novamente, eu não sou idiota o suficiente para recitar
todas essas teorias enquanto elas são ignoradas sumariamente. Além disso, ao ouvir que
existem muitas datas sugeridas para o nascimento de Cristo, Haruhi certamente diria: “Então
façamos do Natal cada uma dessas datas!” e nós acabaríamos trazendo a árvore muitas vezes
a cada ano. Seria apenas um exagero se nós reescrevêssemos o início da era d.C.; não há
sentido nisso. Seja o calendário romano ou o antigo calendário babilônico, são apenas coisas
criadas para a conveniência humana. Para os corpos celestes que se movem no vasto
universo afora, isso tudo não faz a mínima diferença, e eles vão continuar o que estão fazendo
até o fim de suas vidas. Oh, deve ser excelente ser o universo!
Meu espírito juvenil se divertia instintivamente com os segredos do Grande Universo, mas
Haruhi não dava a mínima para os meus sonhos. Como um panda entusiasmado
aperfeiçoando a decoração do lugar, Haruhi andava depositando pequenos enfeites natalinos
nos cantos da sala, colocando um chapéu de festa até mesmo em Nagato, que lia, absorta a
tudo aquilo, e desenhando a frase “Feliz Natal” na janela usando a neve em spray.
Tudo bem, mas saiba que do lado de fora as letras vão aparecer ao contrário.
Enquanto Haruhi estava concentrada em suas atividades, Asahina-san vagava por entre
nós como se fosse um quebra-nozes, carregando uma bandeja com xícaras de chá.
“Suzumiya-saaaan, o chá está pronto.”
A aparência de Asahina-san, com seu sorriso de Maid, estava angelical como sempre,
enviando um ar fresco e ronovador para meu coração, não importa quantas vezes eu a olhe.
Mesmo sabendo que seu trágico destino se aproxima cada vez que Haruhi diz algo, Asahinasan
parece à vontade com a festa de Natal dessa vez. Comparado a distribuir panfletos com
roupa de coelhinha, ou aparecer em filmes vestindo roupas sexualmente atraentes, parecia um
tipo muito mais refinado de diversão aproveitar uma festa de Natal onde o pessoal da Brigada
pudesse se abraçar e experimentar algum tipo de compreensão mútua.
Mas, será simples assim?
“Obrigada, Mikuru-chan.”
Haruhi pegou a xícara com vigor, e ficou ali engolindo o chá de ervas. Asashina-san
assistia com seu sorriso inocente.
Haruhi bebeu todo o líquido quente em poucos segundos, e o sorriso em seu rosto dobrou
de tamanho.
Era um mau presságio. Esse é o sorriso de que ela faz quando está pensando em algo
baixo e sujo. Após conviver certo tempo com ela, até mesmo eu podia reparar nisso.
O problema era...
“Sabor maravilhoso, Mikuru-chan. Não sei se isso pode ser chamado de uma forma
gratidão, mas eu gostaria de lhe dar um presente antecipado.”
“Oh, verdade?”
A graciosa maid agitou suas pálpebras.
“É verdade. Tão verdadeira, que não há verdade alguma acima dessa. É tão verdade
quanto a Lua que gira em torno da Terra, e a Terra que gira em torno do Sol. Você pode até
não acreditar em Galileu, mas acredite em mim!”
“Uh... s-s-sim.”
Haruhi apanhou sua sacola novamente.
Pressentindo algo, girei minha cabeça ao redor, e encontrei com o olhar de Koizumi, que
deu de ombros e forçou um sorriso desvanecido. Eu queria dar uma bronca nele por ser tão
vago, mas acho que eu captei a idéia. Ele não se juntou ao grupo de Haruhi por
aproximadamente meio ano por nada, e seria estranho se ele não pudesse adivinhar o que
viria logo em seguida.
Sim, eu já havia adivinhado.
O problema é que não existe uma pessoa ou remédio neste mundo que possa curar os
caprichos de Haruhi. Eu gostaria de dar as maiores honras para qualquer um que inventasse
algo assim, e pessoalmente.
“Ta-dahhhh!"
Com um efeito sonoro infantil, Haruhi pegou o ultimo item natalino do fundo da sacola. E
era...
“Isto... isto é...”
Asahina-san recuou instintivamente, e Haruhi proclamou com a expressão de velho mago
que está passando seu cajado adorado para um aprendiz.
“Noel, é isso! Noel! Não é que coube como uma luva! Não diga mais nada; você não pode
se destacar nessa época sem uma roupa apropriada para tal! Então você vai vesti-la! Eu te
ajudo nisso!”
Cercando gradualmente uma Asahina-san acuada, Haruhi desdobrou a roupa em suas
mãos - uma fantasia de Papai Noel, sem dúvida.
Então, Koizumi e eu fomos arremessados para fora da sala, e apenas podíamos imaginar
Haruhi conduzindo a cena de mudança de roupa de Asahina-san em vão.
"Eh" "Ah" "Ughh"
O fraco choro deplorável me bombardeou com estas imagens indesejadas, me fazendo
imaginar que de alguma forma eu poderia ver através da porta. Certo, a hora de eu ficar
completamente louco provavelmente já havia chego.
Após ficar um pequeno instante imerso num conto imaginário, Koizumi iniciou uma
conversa, talvez apenas para passar o tempo: “Tenho pena de Asahina-san.”
O rapaz com boa aparência e boas maneiras encostou-se na parede com suas mãos juntas.
“Ainda que meu coração se conforte quando eu vejo Suzumiya-san se divertindo. Dói-me
muito quando Suzumiya-san parece aborrecida.”
“Por que ela produz aquele espaço esquisito toda vez que se irrita?”
Levantando sua franja usando um de seus dedos indicadores, ele respondeu:
“Sim, por causa disso mesmo. Nada assusta mais a mim a aos meus companheiros do que
a existência dos Espaços Restritos e dos Celestiais. Pode parecer uma tarefa fácil, mas na
verdade é um trabalho árduo. Eu agradeço as minhas estrelas da sorte, pois desde a
primavera, a freqüência de ocorrência vem diminuindo pouco a pouco.”
“O que significa que ainda hoje, isso continua acontecendo, não é?”
“Raramente. Tem acontecido apenas entre a meia-noite até o amanhecer, quando
Suzumiya-san está dormindo. Parece que enquanto ela tem pesadelos, ela cria Espaços
Restritos em seu subconsciente.”
“Ela é problemática, esteja acordada ou dormindo!”
“Do que você está falando?!”
Era uma maneira afiada de falar para Koizumi, e para ser sincero, eu estava um pouco
chocado. Koizumi deixou de lado o sorriso e me lançou um olhar penetrante:
“Eu acho que você não sabe como Suzumiya-san era antes de entrar no 2° grau. Há três
anos, quando começamos a observá-la, e até ela entrar no 2° grau, era inimaginável que ela
poderia se sentir tão feliz diariamente. Tudo começou quando ela te conheceu - não, para ser
mais exato, de quando vocês voltaram daquele Espaço Restrito. A psiquê de Suzumiya-san se
estabilizou muito, sem comparação ao que era no Ginásio.”
Sem dizer mais nada, retornei meu olhar a Koizumi, como se eu fosse admitir minha derrota
caso meu olhar se desviasse.
“Suzumiya-san está obviamente mudando. Para melhor, posso dizer. Nosso desejo é
manter essa situação estável, e acredito que você ache o mesmo. Para ela agora, a Brigada
SOS é uma reunião indispensável. Aqui ela pode encontrar você, Asahina-san, e para ela, até
Nagato-san é essencial, e, perdoe minha falta de modéstia, mas acredito que eu seja essencial
também. Estamos próximos de nos tornarmos apenas um corpo e um coração.”
Essa é apenas a lógica do seu pessoal.
“É verdade. Porém, isso não soa de todo o mal, não é? Você gostaria de ver Haruhi
despertando os Celestiais a todo momento? Desculpe-me, mas para mim isso não parece um
bom hobby.”
Esse não é o meu hobby, e eu nem o considero como um, só para deixar claro!
Koizumi mudou sua expressão, voltando ao sorriso ambíguo usual.
“Estou aliviado em ouvir isso. Falando de mudanças, elas não estão limitadas a Suzumiya;
estamos todos mudando. Isso inclui você, Asahina-san, e eu. Talvez Nagato-san também.
Além de Suzumiya, todos estão mais ou menos mudando nossa forma de pensar.”
Eu recuei. Não por ter sido atingido por aquilo. Não levei nada daquilo pessoalmente, então
não tinha como ser atingido. O que me surpreendeu foi que aquele cara também notou algum
tipo de mudança em Nagato, pouco a pouco. O jogo roubado de beisebol, o Tanabata de três
anos atrás, a erradicação do kamadouma, o drama do assassinato naquela ilha isolada, as
férias de verão em loop infinito... enquanto íamos aqui e ali fazendo essas coisas, as ações e
atitudes limitadas de Nagato tiveram pequenas, mas definitivas, mudanças. Muito distante do
nosso primeiro encontro no Clube de Literatura, que foi o início de tudo. Não era uma ilusão.
Eu observei com um olhar telescópico. Agora que eu estava pensando nisso, aquela garota
sempre pareceu um pouco estranha, mesmo na ilha isolada. Mesmo na piscina pública. Mesmo
no Festival de Dança Obon. Ela mostrou comportamentos estranhos, até mesmo quando foi
forçada a fazer papel de maga no filme, e o jogo de guerra virtual contra o Clube de
Computação...
Mas, isso não é bom? As mudanças de Haruhi são grandiosas, mas acho que as de
Nagato são ainda mais importantes!
“Pelo amor da paz mundial,” - Koizumi disse com um sorriso - “organizar uma festa de Natal
é um pequeno preço a se pagar. Além disso, se isso acabar se tornando divertido, eu não
tenho motivos para me queixar.”
Assim que eu fiquei de alguma forma ofendido, de modo que não conseguia achar um jeito
de replicar, a porta repentinamente se abriu.
“Aí estão vocês!”
A porta abriu para dentro, e naturalmente, eu, que estava colocando meu peso na porta, caí
desajeitadamente com minhas costas com um baque seco.
"Hiehh!?"
A voz não era minha nem de Haruhi, mas de Asahina-san, e ela vinha de cima. Em outras
palavras, minhas costas estavam no chão, e eu estava olhando para cima, mas não estava
vendo o teto, mas sim outra coisa.
“Ei, Kyon! Não espie!” - essa era Haruhi.
"Hwa, ahh..." – e essa era Asahina-san, que estava completamente desguarnecida,
enquanto chorava e pulava para trás. Eu juro por todos os deuses, eu só vi as pernas dela!
“O que vocês estão esperando? Levante-se logo!”
Agarrado pelo colarinho por Haruhi, logo eu fui posto de pé.
“Você está espiando Kyon! Tentando espiar as roupas de baixo de Mikuru-chan? Você está
dois-milhões-cinco-mil e seiscentos anos atrasado. Isso foi intencional, certo? CERTO?”
Foi sua culpa, abrindo a porta sem sequer sinalizar. Foi um acidente. Um acidente,
Asahina-san! - as palavras estavam em minha boca, mas então meus olhos foram puxados
para outro lugar. Quem está perguntando algo de novo?
“Wawa...”
Não havia nada nos meus olhos, a não ser Asahina-san, parada com as suas bochechas
rosadas.
Roupa vermelha com forro branco. Um chapéu vermelho com uma bola fofa na ponta...
vestindo apenas isso, Asahina-san esticou para baixo sua pequena saia com ambas as mãos,
e olhou atentamente para mim de forma chorosa, cheia de vergonha.
Aquele era para ser Noel, perfeito de todos os ângulos, impecável e sem falhas. Aquela
deveria ser a real identidade de Asahina-san naquele momento – a neta de um senil Noel que
havia secretamente passado seu status familiar para ela.
Falando dessa forma, 80% das pessoas iriam cair nessa. Minha irmã certamente estaria
entre esses 80%. Sem dúvida.
“Simplesmente fantástico.” - era Koizumi expressando suas opiniões - “Desculpe-me, mas
eu só consigo pensar nesses tipos de expressões banais e desgastadas. Sim, caiu muito bem
em você. Definitivamente.”
“Eu sabia!”
Haruhi abraçou Asahina-san pelos ombros, e esfregou sua bochecha contra a face de
Asahina-san.
“Ela não é super graciosa e adorável? Mikuru-chan, tenha mais confiança em si mesma! De
agora até a festa de Natal, você será o Papai Noel da Brigada SOS! Você tem todas as
qualificações para isso!”
Asahina-san ofegou lamentando. Porém, dessa vez Haruhi estava certa. E ninguém iria
retrucar, pensei comigo mesmo. Quando me virei para Nagato, previsivelmente, a pequena e
silenciosa garota de cabelos curtos continuava sua leitura.
E ela ainda usava o chapéu de festa.
Após isso, Haruhi nos posicionou em linha, e se colocou diante de nós.
“Entendido? Nessa época, não é legal que vocês sigam distraidamente qualquer Papai
Noel que virem nas ruas. Eles são falsos. O real existe em alguns lugares especiais no mundo.
Mikuru-chan, você precisa ter atenção redobrada! Não aceite nada de um Noel que você não
conhece. Não ceda independente do que ele diga.”
Não é um bom aviso, depois de você ter coagido Asahina-san a se tornar um falso
Noel.
Não me diga que essa garota, na idade dela, assim como a minha irmã, acredita
naquele cara velho cujo negócio é caridade internacional. Bem, é a mesma garota que manda
desejos para Orihime e Hikoboshi, então isso não é impossível. De todo modo, eu guardo
minhas dúvidas apenas para mim. Quer dizer, ei, Asahina-Noel se revelou aqui nessa sala! É
uma cópia que supera o original. O que mais você poderia querer? Se alguém desejar algo,
além disto, irão chover reclamações de qualquer um dos três países escandinavos.
Eu estava ponderando sobre a fonte de recursos desse velho sombrio preguiçoso, para que ele
trabalhe apenas uma vez ao ano.
“Ei, Kyon. A idéia de fazer uma grande festa de Natal é boa, de fato. Esse ano a idéia veio
muito tarde, então será feita apenas para o aniversário de Cristo. Mas ano que vem faremos
festas para os aniversários de Buddha e Maomé também. Não seria justo de outra forma!”
Por que não celebrar também os aniversários dos fundadores do Zoroastrismo e do
Maniqueísmo? Observando esse grupo de sujeitos inacreditáveis comemorando, essas
pessoas, que devem estar acima das nuvens agora, não podem fazer nada a não dar um riso
forçado. Bem, acredito que ela não esteja fazendo tudo isso para festejar o nascimento destas
ilustres figuras, na verdade acredito que isso tudo seja apenas um pretexto para que Haruhi
faça bagunça. No entanto, se alguém for receber a punição divina, por favor, coloquem toda a
culpa apenas em Haruhi. Meu papel como cúmplice foi bem pequeno, vocês sabem.
Nessa situação, eu deveria me desculpar com qual divindade? Eu ponderava sobre isso
enquanto Haruhi se acomodou na cadeira do líder da brigada e me lançou um olhar de
desprezo.
“O que seria bom? Fondue chinês? Sukiyaki [3]? Caranguejo de jeito nenhum. Eu não suporto.
Tirar a carne de dentro da casca me enlouquece. Por que os caranguejos não nasceram com
as suas cascas comestíveis? Como eles não fizeram nada a respeito disso durante o seu
processo de evolução, eu posso saber?”
3-[Nota do tradutor: o prato Sukiyaki tem origem camponesa e datada na era medieval
japonesa. A palavra Sukiyaki é uma palavra composta onde Suki significa rastelo e Yaki
significa assar, deste modo, sukiyaki significa assar com rastelo].
É exatamente por isso que eles desenvolveram cascas! Eles não sofreram com a seleção
natural das profundezas do oceano apenas para o bem do seu estômago!
Koizumi levantou a mão e começou a falar.
“Então devemos reservar um lugar para ir. O feriado está se aproximando, e se não nos
apressarmos, todos os lugares estarão reservados.”
Bem, não acho que eu esteja muito disposto a ir em lugares recomendados por ele. Talvez o
dono da loja apareça subitamente durante o jantar e encene outra comédia de assassinato
além de todas as expectativas.
“Ah, não precisa se preocupar com isso.”
Como se ela tivesse a mesma impressão que eu tive, Haruhi balançou a cabeça com um
rosto sorridente. Mas isto foi o que ela disse a seguir:
“Vamos fazê-la aqui. A estrutura necessária já em nossas mãos. A única coisa que falta é a
comida. Vejamos... melhor trazer algo para cozinhar o arroz. No entanto, álcool é estritamente
proibido, já que eu jurei para mim mesma, do fundo do meu coração, que nunca mais irei beber
em minha vida.”
Eu gostaria que você jurasse outra coisa... mas um outro ponto vem primeiro, e não posso
deixá-lo de lado sem consideração. “Fazer a festa aqui?” Olhei então ao nosso redor.
A sala já possuía uma panela e um forno portátil, e até mesmo um refrigerador. Haruhi
trouxe tudo no início da Brigada SOS, mas não me diga que eles eram todos pelo bem deste
dia! Até agora, o forno portátil foi útil para ajudar Asahina-san a servir o chá Real. Mas na
escola, e dentro deste bloco sujo e ordinário onde ficavam as salas dos clubes, era uma boa
idéia cozinhar? Não seria esperto ignorar isso. Uma chama acesa era proibida nesse prédio!
“Vai ficar tudo bem.”
Destemida, Haruhi radiava como um prodígio culinário que tinha boas habilidades mesmo
sem ter uma licença para cozinhar.
“Neste caso, será mais divertido se esconder. Se o Conselho Estudantil ou um dos
professores descobrirem, eu irei mostrar a eles minha preparação espetacular de fondue
chinês. Esse é o plano: esperar por eles, e eles ficarão tão atônitos com a iguaria que irão nos
dar chorando uma autorização especial para a festa! Sem falhas! Perfeito!”
Apesar de ser desdenhosa para qualquer coisa entediante, Haruhi poderia fazer qualquer
coisa bem se ela quisesse. Então achei que seu conhecimento culinário fazia jus às suas
palavras. Mas um fondue chinês? Quando isso foi decidido? O diálogo foi interrompido no
ponto onde foi decidido que caranguejo não seria bom, mas ela pretende coletar opiniões e
repentinamente chegar a conclusão ela mesma - bem, não é como se fosse a primeira vez que
isso acontecesse. Perdoe, e esqueça...
E então, foi isso que aconteceu ontem. Enquanto eu contava a Taniguchi uma versão
resumida disso, nós chegamos à escola.
“Festa de Natal...”
Enquanto passávamos pelo portão da escola, Taniguchi ainda estava tendo problemas
para esconder seu riso.
“Essas são atitudes com a marca registrada da Suzumiya. Uma festa de fondue chinês na
sala do clube. Bem, tenham certeza que os professores não vão descobrir! Vocês novamente
teriam problemas se isso acontecesse.”
“Você vem, então?”
Devido ao que conversamos mais cedo, eu tentei convidá-lo. Se for Taniguchi, mesmo
Haruhi não ia se importar. Ele, Kunikida e Tsuruya-san formam o Trio Filler [4] sempre que
temos problemas em achar pessoas.
4-[Nota do tradutor: traduzido literalmente como “que enche”, significa que os três somente são
chamados quando existe alguma necessidade].
Porém, Taniguchi sacudiu a cabeça.
“Desculpe-me Kyon. Nesse dia, eu não tenho tempo sobrando para ficar vadiando
comendo um fondue idiota! Wua-haha!”
Que diabos essa risada desagradável quer dizer?
“Ouça: É apenas para esquisitos não-populares reunir um grupo de pessoas estranhas e
realizar um fondue chinês na Véspera de Natal. Eu lamento, mas eu devo me despedir do seu
grupo.”
Não me diga que–?
“Bem, como talvez você tenha pensado mesmo. Eu já tenho uma marca de coração no dia
24 da minha agenda! Minhas desculpas. Minhas SINCERAS desculpas. Sinceras, sinceras
desculpas!”
O que diabos está acontecendo? Como um tapado como Taniguchi pode ter uma
namorada enquanto estou fazendo joguinhos com Haruhi e os outros na Brigada SOS?
“Quem é ela?”
Eu perguntei, tentando o máximo possível não parecer cínico.
“Uma aluna do décimo período da Kouyouen. Uma garota de nível, não é?”
Academia Kouyouen. A escola só de garotas próxima a estação, colina abaixo. Ela está
localizada exatamente no início da nossa penosa escalada, então é uma cena comum pela
manhã ver o Desfile Daimyo [5] de garotas vestindo blazers pretos como uniforme. A escola é
famosa por suas garotas elegantes, mas é muito mais invejável o fato delas não precisarem
escalar essa ladeira mortal. Não, eu não estou com inveja de Taniguchi afinal.
5-[Nota do tradutor: os daimyō (em japonês: 大名, daimyō?), daimiô, daimio ou dáimio eram os
senhores feudais mais poderosos do período compreendido entre os séculos XII e XIX da
história do Japão].
“Qual é o problema? Você já tem Haruhi! Fondue chinês... e ela vai fazê-lo, certo? Fondue
chinês é uma culinária caseira, e que soa um pouco idiota e barata para mim, mas tenho
certeza que isso vai lhe satisfazer. Eu te invejo, Kyon!”
Maldito. Ele aproveitou a chegada da Véspera de Natal para satisfazer seu desejo de se
exibir.
“Hmm, acho que é hora de elaborar os primeiros planos de onde e como eu vou gastar meu
tempo. Estou encrencado!”
Eu já estava perdendo meu espírito, então não disse nada.
Depois da escola, nada de especial aconteceu. Koizumi e eu fomos trancafiados e perseguidos
pela sala do clube, forçados a colocar os novos enfeites que Haruhi trouxe. Haruhi dava ordens
e apontava com o dedo os lugares designados. Enquanto Asahina-san, vestida de Noel, era ao
mesmo tempo mascote e garçonete. E hoje, sem muita surpresa, Nagato estava lendo um livro
de capa dura... no entanto, novamente, estava usando o mesmo chapéu de festa.
E então veio o fim do dia. Os ingredientes do fondue ainda não estavam decididos. A única
decisão tomada nesse meio tempo foi que eu fui nomeado como carregador e fui enviado ao
shopping. O que esse fondue deveria ser? Eu gostaria que isso não fosse apenas um
improviso culinário, pois isso já estava me cheirando a alguma coisa sinistra.
Isto é grande demais para um prólogo. Porém, o que está acima é realmente apenas um
prólogo, nada além disso. A ação de verdade começa a partir desse ponto, começando pelo
próximo dia. Pode ter começado essa noite, mas isso realmente não importa.
O próximo dia é 18 de dezembro, quando até mesmo o vento das montanhas congelou.
Naquele dia, eu fui arremessado subitamente no abismo do medo.
E deixe-me dar um aviso: não há motivo algum para rir.

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