Capítulo 7– Toalha, Inseticida, Fita Isolante [Download - Mirror]
Comparado à guitarra elétrica, a vantagem óbvia que um baixo elétrico tem, é que você mal pode ouvir algum som dele se não estiver plugado em alguma fonte de energia.
Comprei meu baixo sobre influência da persuasão da Kagurazaka-senpai, e o trouxe para o colégio no dia seguinte. Fui instantaneamente cercado pelos meus colegas de sala. “Toque alguma coisa, qualquer coisa.” Apesar de todos me incentivarem a tocar, ainda dei a desculpa, “Mas isso é um baixo, então não dá para tocar nenhum som!” e escapei. Isso não teria funcionado se fosse uma guitarra, então é ótimo que comprei um baixo — com esse pensamento em mente eu também podia consolar a mim mesmo por ter sido usado pela senpai.
— Mas por que você quis um baixo?
Um garoto me perguntou que nem passara pela minha mente.
— Ah, eu estive pensando sobre isso por um tempo. Não há necessidade real para ele, certo?
— Ei crítico, é melhor você explicar isso de uma forma simples.
— Não me chame de um crítico! — Peguei o baixo das mãos do meu colega, e o coloquei de volta na sua capa. Sinceramente, é impossível explicar isso apropriadamente para eles só com palavras, mas pelo bem da reputação de todos os baixistas no mundo, eu precisava inventar alguma coisa para conseguir.
— Vocês aí, sentem lá.
— Sim, professor Nao.
— Por favor, não use terminologia musical durante sua explicação.
Ugh, eles realmente pensaram em tudo antes do meu discurso. Alguns garotos se ajoelharam ao redor da minha mesa, então eu não podia dizer nada errado num momento como esse. O que fazer? Lambi meus lábios e pensei em como eu deveria começar a minha explicação.
— ...Então, vamos começar nos lembrando do rosto do Aposentado.
— Por quê?
— Não pergunte. Só faça o que eu digo.
Alguns dos garotos fecharam os olhos, enquanto outros encararam o teto. Como ele parecia uma cópia de Mito Koumon, é realmente fácil se lembrar do rosto do nosso tutor.
— Agora, tente remover o cavanhaque do rosto dele. Pronto?
— ... Ok, pronto.
— Ah, isso parece com Enari Kazuki quando ele ainda era jovem.
— Enari ainda é jovem, tá bom?
— Certo, certo. Próximo, imaginem Aposentado sem cabelo.
— Professor Nao, há algum sentido nisso? Isso é algum tipo de teste psicológico ou algo assim?
— Você saberá logo mais. E então? Vocês conseguem imaginá-lo?
— Posso, mas o cabelo do Aposentado não é bem robusto?
— Comparado com o cavanhaque, ainda é mais fácil remover o cabelo dele.
— E agora o último passo. Removam o contorno de sua face, e imaginem como ele fica.
Os rostos de todos mostraram uma expressão de: “Eh?”
— O que você quer dizer?
— Não entendi!
— O que contorno significa? A orelha e afins?
— Não, não isso. É remover o formato do seu rosto. Imaginem seus olhos, nariz e boca aparecendo em uma superfície vazia. Sim, imaginem isso.
Meus colegas murmuraram sons de Hmm, hmm... um depois do outro. Alguns estavam pressionando seus dedos contra as têmporas, enquanto outros puxavam os cabelos.
— ... Não dá, é impossível. É sem sentido se você remove os contornos do rosto dele!
— Não importa o quanto eu tente, aquela cabeça redonda dele vai sempre aparecer na minha mente.
— Tentem mais. Vocês estão sempre declarando orgulhosos sobre como ‘Na minha cabeça, eu consigo remover os biquínis usados por todas as modelos, independente de quem sejam!”, certo?
Uhm, você não precisam tentar tanto assim, sabe?
Eles se esforçaram por dois minutos antes de desistirem. Com isso, eu fiz minha conclusão,
— Então, se você aplicar essa analogia de tentar apagar os contornos num contexto musical, o baixo é como os contornos de um rosto para mim. Entendem agora?
Minha audiência ainda parecia bastante confusa.
— É como vocês conseguem imaginar as músicas sendo tocadas mesmo sem a guitarra ou outros instrumentos, mas você não pode imaginar a música sem o baixo. Algo assim... não consigo explicar muito bem o porquê do baixo ser tão importante pra mim.
— Entendo...
— Estranho. Sinto como se entendesse o que ele quer dizer, mas ao mesmo tempo, parece que não entendo.
Então vocês entendem ou não? Mas também, vai ser perturbador se vocês entenderem, porque eu só falei abobrinha.
— Mas o professor Nao é impressionante. Você tem o potencial de suceder as artes do seu pai.
— De jeito nenhum eu vou herdar aquilo! — Por que eu me deixo ouvir isso dos meus colegas?
E com isso, o sinal tocou. Na mesma hora, a porta dos fundos da sala — que é a porta próxima do lado direito da minha mesa — se abriu.
Mafuyu estava em pé na porta. Sua linha de visão parou na minha mesa que estava ocupada por vários garotos, e então foi para a capa de guitarra nos meus braços. Seu rosto estremeceu de repente.
— ... Movam.
Uma baixa e fria palavra de Mafuyu foi o suficiente para fazer os garotos que estavam ouvindo minhas besteiras saírem do seu caminho... Ei ei, não venham para minha mesa, simplesmente voltem para os seus assentos!
— Professor Nao... — Um dos garotos inclinou seu rosto perto do meu, e sussurrou. — É por isso? A razão de você ter começado com o baixo é por causa da Ebisawa?
— Eh? O-O quê? — Minha voz saiu bastante estranha.
— Você tem ido para o pátio frequentemente esses dias, certo?
— Entendo, então ele vai poder se aproximar dela com esse baixo dele? Isso é bem esperto, Professor!
Os garotos olhavam sutilmente para o rosto de Mafuyu. Não fofoquem quando vocês estão tão próximos dela!
Devido à sua atitude hostil, desde o seu segundo dia após se transferir, quase todas as garotas na sala viraram suas inimigas. Entretanto, nenhum dos garotos parecia ligar, e eles continuam a se preocupar com ela. As pessoas que mostravam o caminho para ela quando mudávamos de sala, ou emprestavam o material quando ela esquecia — era tudo feito pelos garotos.
Os garotos que se juntavam em volta da minha mesa provavelmente faziam tudo isso pela mesma razão. Garotos são realmente estúpidos.
— Ah sim, Ebisawa...
Um dos bravos companheiros se virou e falou com Mafuyu. Ela levou seu olhar do livro a sua frente para o rosto dele, e lentamente disse: — Por favor, não me chame pelo meu sobrenome.
— Então... Mafuyu...
— Não me chame pelo meu nome também. É repugnante.
— Mafuyu me chamou de repugnante... Minha única razão para viver foi satisfeita.
— Não se preocupe, seu rosto não é tão repugnante quanto você pensa.
— Certo, meu rosto. Espera, o que você está querendo dizer?
Vão para outro lugar se vocês querem fazer piadas. Falando nisso, ela mencionou isso no seu primeiro dia aqui, mas ela realmente odeia tanto o seu sobrenome? Sempre pensei que ela estivesse mentindo pelas circunstâncias naquele momento. Mas por quê? Alguém fez bullying com ela no passado e lhe deu o apelido de “Ebimayo” ou algo assim?
— Então Ebisawa toca em uma banda também? Seu professor de piano ficará bravo com você por tocar a guitarra?
O rosto de Mafuyu congelou enquanto ele conversava com ela com um espírito obstinado.
— Mas também, você é realmente boa em gerenciar o seu tempo, já que consegue praticar dois instrumentos diferentes de uma vez.
— Ela deve estar praticando ao mesmo tempo, imagino. Já que as músicas são as mesmas.
— Como isso é possível!
Mafuyu voltou a se concentrar no livro. Entretanto, percebi que seu olhar estava levemente vazio.
— Como... Vocês sabem? — Como ela falou com sua cabeça pendendo para baixo, os garotos gradualmente se aquietaram ao mesmo tempo.
— Uhm... Bem...
— Você tem praticado no pátio depois da aula, certo? Podemos escutá-la o tempo todo.
— Ah, é realmente famoso! Todo mundo sabe sobre isso.
Mafuyu de repente se levantou. Seus lábios tremiam e seu rosto estava ficando verde.
— Eu podia ser ouvida... Esse tempo todo?
Ah, merda. Ela não sabia? Enquanto eu ficava deprimido sobre o que poderia acontecer, eu gentilmente os interrompi.
— Bem... Eu não te disse isso, mas o isolamento acústico da sala não é perfeito. Os sons escapam pelos espaços da porta.
O rosto de Mafuyu se transformou em um branco fantasmagórico, e então virou um vermelho. Seus lábios tremiam sem parar.
Abracei minha cabeça e a abaixei na mesa em antecipação do soco a caminho, mas tudo que eu recebi foram os sons de passos correndo para longe de mim, seguido do som da porta se fechando.
Um silêncio desconfortável encobriu toda a Sala Três do Primeiro Ano.
Levantei minha cabeça. Todos fingiam não saber de nada, mas seus olhares diziam que a responsabilidade por tudo isso era minha.
— ... Nao, o que você está esperando? Vá atrás dela!
O garoto que satisfez sua razão de viver porque Mafuyu o chamou de repugnante disse para mim friamente.
— Por que eu?
— Porque você está responsável pela Mafuyu! — A representante da sala, Terada, disse isso por alguma razão desconhecida, e as garotas ao seu redor acenaram em concordância ao mesmo tempo com um “Mhmm!”. Espera, eu sou responsável? O que está acontecendo?
— Vá andando, senão as aulas vão começar! Rápido!
Eu não fazia ideia do que eles estavam planejando, mas existe uma coisa nesse mundo chamada de atmosfera da situação, que é algo difícil de ir contra. Fui movido por ela também, e levantei da minha cadeira.
Quando saí da sala de aula, quase esbarrei em uma ofegante Chiaki que corria na minha direção.
— O que você está fazendo? Vi Ebisawa há pouco tempo também...
— Aonde ela foi?
— Eh? Ah, hmm, ela estava descendo as escadas... Nao? Espera! Nao, onde você está indo?
O sinal tocou mais uma vez no momento em que empurrei Chiaki para o lado e corri para longe da sala.
Mafuyu havia se trancado na sala especial no pátio. Apesar de a porta estar fechada e nenhum som vir de dentro, eu soube no momento que entrei no pátio — a fechadura na porta estava aberta.
Fiquei de frente ao antigo prédio de música, e comecei a arrumar os meus pensamentos por um momento. O que estou fazendo? Fui na onda do que os meus colegas queriam e vim atrás da Mafuyu, mas o que devo fazer? Me desculpar com ela? O que exatamente fiz de errado?
Eu deveria voltar para a sala assim mesmo, e falar para eles, “Eu não sei aonde ela foi” e deixar as coisas ficarem como estão. Entretanto, minhas pernas não conseguiam se mover.
Logo depois, o sinal tocou pela última vez, estou certamente atrasado para aula agora. Esquece, posso muito bem faltar à primeira aula! Não deve ser um problema tão grande perder uma aula ou duas ocasionalmente. Além do quê, existem coisas que eu gostaria de falar para Mafuyu também. Segurei a maçaneta, e a pressionei diagonalmente para baixo com força.
Mafuyu havia empilhado as três almofadas na mesa, e estava sentada encima delas com suas mãos abraçando seus joelhos. Até mesmo quando entrei na sala, tudo que ela fez foi levantar seu rosto dos joelhos.
— É um desperdício você usar as almofadas assim. Eu trouxe três dessas almofadas para cá para poder dormir nelas caso você as coloque lado a lado encima da mesa. Não estou brincando, então não as empilhe assim.
Mafuyu não mudou muito a postura dela — ela se levantou um pouco para pegar duas almofadas com sua mão esquerda, antes de jogá-las na minha cara. Joguei uma das almofadas de volta, e coloquei a outra no chão para que eu pudesse sentar nela.
— Para que você está aqui?
Mafuyu perguntou com uma voz rouca.
— Vim aqui porque eu queria matar aula, mas nunca esperei que outra pessoa estivesse aqui. Nossa, que coincidência, apesar de estar um pouco incomodado por isso.
— Mentiroso.
Como você sabe que estou mentindo? Mostre-me provas! Sabe, provas! Mas você está certa — estou mentindo.
—Por que... Você não me contou?
Mafuyu encarou o chão e perguntou em um sussurro. Virei minha cabeça para dar uma olhada nos espaços da porta, que resultavam no isolamento acústico impróprio da sala.
— Bem, é porque você nunca perguntou!
Fui acertado por outra almofada que vinha na minha direção, de novo. Por que você está brava com coisas como essa?
— De qualquer forma, não há nenhum mal no som sair. Não é como se você estivesse fazendo algo de que deva ter vergonha.
— Você está errado.
Mafuyu abraçou seus joelhos para perto do peito com força, e se encolheu no canto da mesa. Não consigo me comunicar com ela. O que eu deveria fazer?
— Você havia lançado CDs tocando piano, mas não está disposta a deixar os outros ouvirem você tocar guitarra? Isso não é estranho?
— Do que você sabe?
Mafuyu lançou uma pergunta que caiu suavemente entre nós.
De repente... uma explosão de raiva inflou dentro de mim.
— Como eu saberia? — Desviei meu olhar de Mafuyu. Se eu não fizer isso, não sei o que Mafuyu faria caso terminasse com a munição de almofadas que usa para jogar em mim.
— É porque você não diz nada, não é? Só diga honestamente o que está lhe preocupando, porque não sei ler mentes!
Foi a mesma coisa quando nos conhecemos pela primeira vez, e aconteceu de novo durante seu primeiro dia após transferir. Mafuyu não disse nada, me deixando para imaginar se deveria me intrometer e me preocupar com ela. Entretanto, tudo que eu recebi foi seu olhar de desprezo, ou suas reclamações comigo.
— ...Se eu contar, você irá me ajudar?
Levantei a cabeça de susto, e encarei Mafuyu. Seus olhos lacrimejantes pareciam como a água dos rios que flui para o mar, suas cores eram opacas e escuras.
— Se eu lhe contar tudo que está me preocupando, você fará algo por mim? Se eu quiser que você nade até a América, você vai nadar até lá por mim? Se eu quiser que você arranque sua mão direita e me entregue, você a arrancará por mim? Se eu quiser que você morra, você morrerá por mim?
Fiquei mudo. Tudo que senti foi um tremor frio ao meu redor. O sentimento era como se eu estivesse tentando olhar para dentro de um abismo durante a noite escura quando a lua não estava no céu, e vendo algo que não deveria ser visto na superfície das águas.
— Se você não pode fazer isso, então não fale como bem entende.
— Uhm... Você realmente quer que eu faça essas coisas para você?
Mafuyu balançou sua cabeça. Parecia que ela tinha, secretamente, chorado um pouco.
— Não.
— Se... Você não tentar dizer em voz alta, então como alguém saberá? É só contar a alguém sobre isso. Não há nada a perder.
— Então me faça voltar no tempo, para quando toquei o piano pela primeira vez.
— Não sou Deus, como eu poderia fazer isso!
O que significa... que deve haver algo a preocupando. Por que ela odeia tanto o piano?
E também...
— Que tal isso então... por favor, pare de me seguir. Você é um incômodo.
Eu não estou seguindo você! Essa é a única coisa que preciso fazê-la entender.
— Eu já disse isso tantas vezes, eu usava esse lugar desde o começo. A pessoa que invadiu aqui seria você, certo? Então não estou lhe seguindo.
Olhei de relance o canto da sala. Sua Strolcaster lisa estava no estande lá.
Me levantei, abri o armário, e tirei uma toalha que já fora usada por um bom tempo.
— Olhe aqui, existem espaços nos lados da porta, certo? Você vai ter que os preenches com a toalha. Não vai ser perfeito, mas você pode alcançar um isolamento acústico melhor assim. E também isso...
Tirei uma vassoura e uma flanela do armário e mostrei a ela.
— Limpe esse lugar direito. Não consegue ver como está sujo junto as paredes e no chão? Precisei de um belo esforço para conseguir limpar esse lugar até chegar no presente estado. E lembre-se disso: estou aqui para conseguir a minha sala de volta. Não há maneira nenhuma de eu permitir que uma jovem guitarrista como você, que nunca ouviu rock antes, continue com essa atitude arrogante por mais tempo!
Eu disse todas essas palavras arrogantes no calor do momento, e me arrependi um pouco imediatamente depois. Mafuyu me olhou em um estado atônito, com seus olhos ainda cheios de lágrimas. Não muito depois, ela respirou fundo, e disse,
— ... Então essa é a razão de você ter trazido o baixo para o colégio?
Ela estava chorando como uma criança há pouco tempo, então qual foi dessa expressão irritante dela? Não posso trazer meu baixo para cá?
— Você acha que pode vencer simplesmente mudando para um baixo? Idiota!
— Diga o que quiser. Não posso tocar tão bem no meu estado atual, mas definitivamente vou alcançar você em breve. Então, vamos resolver isso de uma vez por todas com essa sala como prêmio!
Enquanto eu dizia isso, peguei a vassoura e apontei seu cabo na direção da Mafuyu. Eu disse! Mafuyu parecia que não podia mais dizer nenhuma palavra — ela só estava lá parada e rígida com seus olhos arregalados. Interpretei isso como ela recuando pelas minhas palavras, ao invés dela estar pasma com as minhas ações.
Depois de colocar a vassoura e a flanela de volta ao armário, tirei uma lata de spray e a coloquei na mesa. Depois de ver a lata de spray, Mafuyu inclinou sua cabeça questionando.
— ... Inseticida?
— Sim. Você pode achar algumas centopeias na sala ocasionalmente, embora seja bem raro ver baratas hoje em dia.
Não muito depois de sair da sala, pude ouvir o som da porta sendo aberta apressadamente atrás de mim. Virei o rosto, e vi Mafuyu correndo para fora da sala com seu rosto pálido.
— ...O que é agora? Eu já saí de lá como você pediu, então apenas fique dentro. De qualquer forma, você vai levar falta de todo jeito se for voltar para a sala agora...
— P-P-Por que você não me disse sobre isso desde o começo?
Essa cara dela a beira das lágrimas realmente a fazia parecer uma criança.
— Por quê? Porque você não perguntou! — Minha resposta foi a mesma de antes — você esteve lá dentro todo esse tempo, certo? Deve estar tudo bem.
— Idiota!
Meu braço foi estapeado várias vezes por ela. Que garota problemática.
No final, nós voltamos para a sala após o termino da primeira aula. Já que Mafuyu estava agarrando meus braços com uma expressão próxima ao choro, só pude admitir derrota. Passei quase uma hora na sala de prática matando todos os insetos que pude achar, como também fechando todos os espaços por onde os insetos poderiam possivelmente entrar, com fita isolante.
Embora eu não achasse que havia muito sentido em fazer isso. Coisas como centopeias e afins podem facilmente se espremer por aberturas de dois milímetros, não?
— Ah, a princesa voltou.
— Então vocês dois realmente voltaram juntos, hein...
Me senti um pouco intimidado quando todos olharam para nós enquanto entravamos na sala. Espera... Princesa?
A representante de classe Terada caminhou pela sala, se apoiou na mesa, e disse:
— Depois de uma discussão, a sala decidiu que vai chamá-la, a partir de agora de “Princesa”.
Inicialmente, o rosto de Mafuyu havia ficado um pálido fantasmagórico, mas logo ficou vermelho. Sempre achei que apesar de não estar disposta a falar muito, é fácil saber o que ela está pensando pelas suas expressões.
— ... P-Por quê?
— Você não gosta independentemente se nós a chamarmos pelo seu nome ou sobrenome, certo? É muito inconveniente para a gente falar com você dessa forma.
— E-Então é por isso...
Uma garota próxima a representante disse de forma deliberada:
— Se você se ajoelhar e pedir desculpas, não vamos te chamar por um nome tão vergonhoso.
— ... Não mesmo.
— Oh, entendo. Então, por favor, cuide de nós de agora em diante, Princesa.
— É seu turno de fazer os deveres amanhã, Princesa. Então, você precisa chegar aqui mais cedo, ao invés de quase atrasada, como sempre.
Ah, ela está quase chorando de novo. O que há com tudo isso... eles estão fazendo bullying na novata? Mas Mafuyu só tinha a ela mesma para culpar por seu dilema, logo, não senti pena nenhuma dela. Mas então, o que há com a diferença enorme nas atitudes dos jovens japoneses esses dias?
— Ah, se tiver qualquer coisa que a Princesa precise você pode simplesmente pedir ao Nao — essa frase fria da Representante Terada selou instantaneamente o meu destino sem sequer pedir minha aprovação. Eu quase caí da minha cadeira quando ouvi isso.
— Por que eu?
— Nao, é assim: Nós sempre chamamos um príncipe ou uma princesa “Sua Alteza”, certo? Você sabe o porquê?
O garoto sentado diagonalmente na minha frente me explicou
— Não sei... E qual a ligação entre essas duas coisas?
— Isso significa, “somos as pessoas abaixo deles, os servindo”. Visto que é rude falar diretamente com a realeza, podemos apenas falar com seus servos.
— Ohhh...
— Eu aprendi outra coisa hoje
Os garotos idiotas ao meu redor ficaram todos animados.
— O que significa que o servo de quem estamos falando é você!
— Eu? Por quê? — Apesar dos meus protestos batendo na mesa com meus punhos repetidamente, ninguém estava prestando atenção a mim, enquanto a decisão era passada pela classe em números esmagadores, e era muito poderosa para eu rejeitar. Olhei na direção da minha única possível salvadora, Chiaki. Entretanto, tudo que ela fez foi olhar para mim e Mafuyu suspeitamente. Ela então fez uma cara estranha antes de se virar e ficar de frente a bancada do professor.
Comparado à guitarra elétrica, a vantagem óbvia que um baixo elétrico tem, é que você mal pode ouvir algum som dele se não estiver plugado em alguma fonte de energia.
Comprei meu baixo sobre influência da persuasão da Kagurazaka-senpai, e o trouxe para o colégio no dia seguinte. Fui instantaneamente cercado pelos meus colegas de sala. “Toque alguma coisa, qualquer coisa.” Apesar de todos me incentivarem a tocar, ainda dei a desculpa, “Mas isso é um baixo, então não dá para tocar nenhum som!” e escapei. Isso não teria funcionado se fosse uma guitarra, então é ótimo que comprei um baixo — com esse pensamento em mente eu também podia consolar a mim mesmo por ter sido usado pela senpai.
— Mas por que você quis um baixo?
Um garoto me perguntou que nem passara pela minha mente.
— Ah, eu estive pensando sobre isso por um tempo. Não há necessidade real para ele, certo?
— Ei crítico, é melhor você explicar isso de uma forma simples.
— Não me chame de um crítico! — Peguei o baixo das mãos do meu colega, e o coloquei de volta na sua capa. Sinceramente, é impossível explicar isso apropriadamente para eles só com palavras, mas pelo bem da reputação de todos os baixistas no mundo, eu precisava inventar alguma coisa para conseguir.
— Vocês aí, sentem lá.
— Sim, professor Nao.
— Por favor, não use terminologia musical durante sua explicação.
Ugh, eles realmente pensaram em tudo antes do meu discurso. Alguns garotos se ajoelharam ao redor da minha mesa, então eu não podia dizer nada errado num momento como esse. O que fazer? Lambi meus lábios e pensei em como eu deveria começar a minha explicação.
— ...Então, vamos começar nos lembrando do rosto do Aposentado.
— Por quê?
— Não pergunte. Só faça o que eu digo.
Alguns dos garotos fecharam os olhos, enquanto outros encararam o teto. Como ele parecia uma cópia de Mito Koumon, é realmente fácil se lembrar do rosto do nosso tutor.
— Agora, tente remover o cavanhaque do rosto dele. Pronto?
— ... Ok, pronto.
— Ah, isso parece com Enari Kazuki quando ele ainda era jovem.
— Enari ainda é jovem, tá bom?
— Certo, certo. Próximo, imaginem Aposentado sem cabelo.
— Professor Nao, há algum sentido nisso? Isso é algum tipo de teste psicológico ou algo assim?
— Você saberá logo mais. E então? Vocês conseguem imaginá-lo?
— Posso, mas o cabelo do Aposentado não é bem robusto?
— Comparado com o cavanhaque, ainda é mais fácil remover o cabelo dele.
— E agora o último passo. Removam o contorno de sua face, e imaginem como ele fica.
Os rostos de todos mostraram uma expressão de: “Eh?”
— O que você quer dizer?
— Não entendi!
— O que contorno significa? A orelha e afins?
— Não, não isso. É remover o formato do seu rosto. Imaginem seus olhos, nariz e boca aparecendo em uma superfície vazia. Sim, imaginem isso.
Meus colegas murmuraram sons de Hmm, hmm... um depois do outro. Alguns estavam pressionando seus dedos contra as têmporas, enquanto outros puxavam os cabelos.
— ... Não dá, é impossível. É sem sentido se você remove os contornos do rosto dele!
— Não importa o quanto eu tente, aquela cabeça redonda dele vai sempre aparecer na minha mente.
— Tentem mais. Vocês estão sempre declarando orgulhosos sobre como ‘Na minha cabeça, eu consigo remover os biquínis usados por todas as modelos, independente de quem sejam!”, certo?
Uhm, você não precisam tentar tanto assim, sabe?
Eles se esforçaram por dois minutos antes de desistirem. Com isso, eu fiz minha conclusão,
— Então, se você aplicar essa analogia de tentar apagar os contornos num contexto musical, o baixo é como os contornos de um rosto para mim. Entendem agora?
Minha audiência ainda parecia bastante confusa.
— É como vocês conseguem imaginar as músicas sendo tocadas mesmo sem a guitarra ou outros instrumentos, mas você não pode imaginar a música sem o baixo. Algo assim... não consigo explicar muito bem o porquê do baixo ser tão importante pra mim.
— Entendo...
— Estranho. Sinto como se entendesse o que ele quer dizer, mas ao mesmo tempo, parece que não entendo.
Então vocês entendem ou não? Mas também, vai ser perturbador se vocês entenderem, porque eu só falei abobrinha.
— Mas o professor Nao é impressionante. Você tem o potencial de suceder as artes do seu pai.
— De jeito nenhum eu vou herdar aquilo! — Por que eu me deixo ouvir isso dos meus colegas?
E com isso, o sinal tocou. Na mesma hora, a porta dos fundos da sala — que é a porta próxima do lado direito da minha mesa — se abriu.
Mafuyu estava em pé na porta. Sua linha de visão parou na minha mesa que estava ocupada por vários garotos, e então foi para a capa de guitarra nos meus braços. Seu rosto estremeceu de repente.
— ... Movam.
Uma baixa e fria palavra de Mafuyu foi o suficiente para fazer os garotos que estavam ouvindo minhas besteiras saírem do seu caminho... Ei ei, não venham para minha mesa, simplesmente voltem para os seus assentos!
— Professor Nao... — Um dos garotos inclinou seu rosto perto do meu, e sussurrou. — É por isso? A razão de você ter começado com o baixo é por causa da Ebisawa?
— Eh? O-O quê? — Minha voz saiu bastante estranha.
— Você tem ido para o pátio frequentemente esses dias, certo?
— Entendo, então ele vai poder se aproximar dela com esse baixo dele? Isso é bem esperto, Professor!
Os garotos olhavam sutilmente para o rosto de Mafuyu. Não fofoquem quando vocês estão tão próximos dela!
Devido à sua atitude hostil, desde o seu segundo dia após se transferir, quase todas as garotas na sala viraram suas inimigas. Entretanto, nenhum dos garotos parecia ligar, e eles continuam a se preocupar com ela. As pessoas que mostravam o caminho para ela quando mudávamos de sala, ou emprestavam o material quando ela esquecia — era tudo feito pelos garotos.
Os garotos que se juntavam em volta da minha mesa provavelmente faziam tudo isso pela mesma razão. Garotos são realmente estúpidos.
— Ah sim, Ebisawa...
Um dos bravos companheiros se virou e falou com Mafuyu. Ela levou seu olhar do livro a sua frente para o rosto dele, e lentamente disse: — Por favor, não me chame pelo meu sobrenome.
— Então... Mafuyu...
— Não me chame pelo meu nome também. É repugnante.
— Mafuyu me chamou de repugnante... Minha única razão para viver foi satisfeita.
— Não se preocupe, seu rosto não é tão repugnante quanto você pensa.
— Certo, meu rosto. Espera, o que você está querendo dizer?
Vão para outro lugar se vocês querem fazer piadas. Falando nisso, ela mencionou isso no seu primeiro dia aqui, mas ela realmente odeia tanto o seu sobrenome? Sempre pensei que ela estivesse mentindo pelas circunstâncias naquele momento. Mas por quê? Alguém fez bullying com ela no passado e lhe deu o apelido de “Ebimayo” ou algo assim?
— Então Ebisawa toca em uma banda também? Seu professor de piano ficará bravo com você por tocar a guitarra?
O rosto de Mafuyu congelou enquanto ele conversava com ela com um espírito obstinado.
— Mas também, você é realmente boa em gerenciar o seu tempo, já que consegue praticar dois instrumentos diferentes de uma vez.
— Ela deve estar praticando ao mesmo tempo, imagino. Já que as músicas são as mesmas.
— Como isso é possível!
Mafuyu voltou a se concentrar no livro. Entretanto, percebi que seu olhar estava levemente vazio.
— Como... Vocês sabem? — Como ela falou com sua cabeça pendendo para baixo, os garotos gradualmente se aquietaram ao mesmo tempo.
— Uhm... Bem...
— Você tem praticado no pátio depois da aula, certo? Podemos escutá-la o tempo todo.
— Ah, é realmente famoso! Todo mundo sabe sobre isso.
Mafuyu de repente se levantou. Seus lábios tremiam e seu rosto estava ficando verde.
— Eu podia ser ouvida... Esse tempo todo?
Ah, merda. Ela não sabia? Enquanto eu ficava deprimido sobre o que poderia acontecer, eu gentilmente os interrompi.
— Bem... Eu não te disse isso, mas o isolamento acústico da sala não é perfeito. Os sons escapam pelos espaços da porta.
O rosto de Mafuyu se transformou em um branco fantasmagórico, e então virou um vermelho. Seus lábios tremiam sem parar.
Abracei minha cabeça e a abaixei na mesa em antecipação do soco a caminho, mas tudo que eu recebi foram os sons de passos correndo para longe de mim, seguido do som da porta se fechando.
Um silêncio desconfortável encobriu toda a Sala Três do Primeiro Ano.
Levantei minha cabeça. Todos fingiam não saber de nada, mas seus olhares diziam que a responsabilidade por tudo isso era minha.
— ... Nao, o que você está esperando? Vá atrás dela!
O garoto que satisfez sua razão de viver porque Mafuyu o chamou de repugnante disse para mim friamente.
— Por que eu?
— Porque você está responsável pela Mafuyu! — A representante da sala, Terada, disse isso por alguma razão desconhecida, e as garotas ao seu redor acenaram em concordância ao mesmo tempo com um “Mhmm!”. Espera, eu sou responsável? O que está acontecendo?
— Vá andando, senão as aulas vão começar! Rápido!
Eu não fazia ideia do que eles estavam planejando, mas existe uma coisa nesse mundo chamada de atmosfera da situação, que é algo difícil de ir contra. Fui movido por ela também, e levantei da minha cadeira.
Quando saí da sala de aula, quase esbarrei em uma ofegante Chiaki que corria na minha direção.
— O que você está fazendo? Vi Ebisawa há pouco tempo também...
— Aonde ela foi?
— Eh? Ah, hmm, ela estava descendo as escadas... Nao? Espera! Nao, onde você está indo?
O sinal tocou mais uma vez no momento em que empurrei Chiaki para o lado e corri para longe da sala.
Mafuyu havia se trancado na sala especial no pátio. Apesar de a porta estar fechada e nenhum som vir de dentro, eu soube no momento que entrei no pátio — a fechadura na porta estava aberta.
Fiquei de frente ao antigo prédio de música, e comecei a arrumar os meus pensamentos por um momento. O que estou fazendo? Fui na onda do que os meus colegas queriam e vim atrás da Mafuyu, mas o que devo fazer? Me desculpar com ela? O que exatamente fiz de errado?
Eu deveria voltar para a sala assim mesmo, e falar para eles, “Eu não sei aonde ela foi” e deixar as coisas ficarem como estão. Entretanto, minhas pernas não conseguiam se mover.
Logo depois, o sinal tocou pela última vez, estou certamente atrasado para aula agora. Esquece, posso muito bem faltar à primeira aula! Não deve ser um problema tão grande perder uma aula ou duas ocasionalmente. Além do quê, existem coisas que eu gostaria de falar para Mafuyu também. Segurei a maçaneta, e a pressionei diagonalmente para baixo com força.
Mafuyu havia empilhado as três almofadas na mesa, e estava sentada encima delas com suas mãos abraçando seus joelhos. Até mesmo quando entrei na sala, tudo que ela fez foi levantar seu rosto dos joelhos.
— É um desperdício você usar as almofadas assim. Eu trouxe três dessas almofadas para cá para poder dormir nelas caso você as coloque lado a lado encima da mesa. Não estou brincando, então não as empilhe assim.
Mafuyu não mudou muito a postura dela — ela se levantou um pouco para pegar duas almofadas com sua mão esquerda, antes de jogá-las na minha cara. Joguei uma das almofadas de volta, e coloquei a outra no chão para que eu pudesse sentar nela.
— Para que você está aqui?
Mafuyu perguntou com uma voz rouca.
— Vim aqui porque eu queria matar aula, mas nunca esperei que outra pessoa estivesse aqui. Nossa, que coincidência, apesar de estar um pouco incomodado por isso.
— Mentiroso.
Como você sabe que estou mentindo? Mostre-me provas! Sabe, provas! Mas você está certa — estou mentindo.
—Por que... Você não me contou?
Mafuyu encarou o chão e perguntou em um sussurro. Virei minha cabeça para dar uma olhada nos espaços da porta, que resultavam no isolamento acústico impróprio da sala.
— Bem, é porque você nunca perguntou!
Fui acertado por outra almofada que vinha na minha direção, de novo. Por que você está brava com coisas como essa?
— De qualquer forma, não há nenhum mal no som sair. Não é como se você estivesse fazendo algo de que deva ter vergonha.
— Você está errado.
Mafuyu abraçou seus joelhos para perto do peito com força, e se encolheu no canto da mesa. Não consigo me comunicar com ela. O que eu deveria fazer?
— Você havia lançado CDs tocando piano, mas não está disposta a deixar os outros ouvirem você tocar guitarra? Isso não é estranho?
— Do que você sabe?
Mafuyu lançou uma pergunta que caiu suavemente entre nós.
De repente... uma explosão de raiva inflou dentro de mim.
— Como eu saberia? — Desviei meu olhar de Mafuyu. Se eu não fizer isso, não sei o que Mafuyu faria caso terminasse com a munição de almofadas que usa para jogar em mim.
— É porque você não diz nada, não é? Só diga honestamente o que está lhe preocupando, porque não sei ler mentes!
Foi a mesma coisa quando nos conhecemos pela primeira vez, e aconteceu de novo durante seu primeiro dia após transferir. Mafuyu não disse nada, me deixando para imaginar se deveria me intrometer e me preocupar com ela. Entretanto, tudo que eu recebi foi seu olhar de desprezo, ou suas reclamações comigo.
— ...Se eu contar, você irá me ajudar?
Levantei a cabeça de susto, e encarei Mafuyu. Seus olhos lacrimejantes pareciam como a água dos rios que flui para o mar, suas cores eram opacas e escuras.
— Se eu lhe contar tudo que está me preocupando, você fará algo por mim? Se eu quiser que você nade até a América, você vai nadar até lá por mim? Se eu quiser que você arranque sua mão direita e me entregue, você a arrancará por mim? Se eu quiser que você morra, você morrerá por mim?
Fiquei mudo. Tudo que senti foi um tremor frio ao meu redor. O sentimento era como se eu estivesse tentando olhar para dentro de um abismo durante a noite escura quando a lua não estava no céu, e vendo algo que não deveria ser visto na superfície das águas.
— Se você não pode fazer isso, então não fale como bem entende.
— Uhm... Você realmente quer que eu faça essas coisas para você?
Mafuyu balançou sua cabeça. Parecia que ela tinha, secretamente, chorado um pouco.
— Não.
— Se... Você não tentar dizer em voz alta, então como alguém saberá? É só contar a alguém sobre isso. Não há nada a perder.
— Então me faça voltar no tempo, para quando toquei o piano pela primeira vez.
— Não sou Deus, como eu poderia fazer isso!
O que significa... que deve haver algo a preocupando. Por que ela odeia tanto o piano?
E também...
— Que tal isso então... por favor, pare de me seguir. Você é um incômodo.
Eu não estou seguindo você! Essa é a única coisa que preciso fazê-la entender.
— Eu já disse isso tantas vezes, eu usava esse lugar desde o começo. A pessoa que invadiu aqui seria você, certo? Então não estou lhe seguindo.
Olhei de relance o canto da sala. Sua Strolcaster lisa estava no estande lá.
Me levantei, abri o armário, e tirei uma toalha que já fora usada por um bom tempo.
— Olhe aqui, existem espaços nos lados da porta, certo? Você vai ter que os preenches com a toalha. Não vai ser perfeito, mas você pode alcançar um isolamento acústico melhor assim. E também isso...
Tirei uma vassoura e uma flanela do armário e mostrei a ela.
— Limpe esse lugar direito. Não consegue ver como está sujo junto as paredes e no chão? Precisei de um belo esforço para conseguir limpar esse lugar até chegar no presente estado. E lembre-se disso: estou aqui para conseguir a minha sala de volta. Não há maneira nenhuma de eu permitir que uma jovem guitarrista como você, que nunca ouviu rock antes, continue com essa atitude arrogante por mais tempo!
Eu disse todas essas palavras arrogantes no calor do momento, e me arrependi um pouco imediatamente depois. Mafuyu me olhou em um estado atônito, com seus olhos ainda cheios de lágrimas. Não muito depois, ela respirou fundo, e disse,
— ... Então essa é a razão de você ter trazido o baixo para o colégio?
Ela estava chorando como uma criança há pouco tempo, então qual foi dessa expressão irritante dela? Não posso trazer meu baixo para cá?
— Você acha que pode vencer simplesmente mudando para um baixo? Idiota!
— Diga o que quiser. Não posso tocar tão bem no meu estado atual, mas definitivamente vou alcançar você em breve. Então, vamos resolver isso de uma vez por todas com essa sala como prêmio!
Enquanto eu dizia isso, peguei a vassoura e apontei seu cabo na direção da Mafuyu. Eu disse! Mafuyu parecia que não podia mais dizer nenhuma palavra — ela só estava lá parada e rígida com seus olhos arregalados. Interpretei isso como ela recuando pelas minhas palavras, ao invés dela estar pasma com as minhas ações.
Depois de colocar a vassoura e a flanela de volta ao armário, tirei uma lata de spray e a coloquei na mesa. Depois de ver a lata de spray, Mafuyu inclinou sua cabeça questionando.
— ... Inseticida?
— Sim. Você pode achar algumas centopeias na sala ocasionalmente, embora seja bem raro ver baratas hoje em dia.
Não muito depois de sair da sala, pude ouvir o som da porta sendo aberta apressadamente atrás de mim. Virei o rosto, e vi Mafuyu correndo para fora da sala com seu rosto pálido.
— ...O que é agora? Eu já saí de lá como você pediu, então apenas fique dentro. De qualquer forma, você vai levar falta de todo jeito se for voltar para a sala agora...
— P-P-Por que você não me disse sobre isso desde o começo?
Essa cara dela a beira das lágrimas realmente a fazia parecer uma criança.
— Por quê? Porque você não perguntou! — Minha resposta foi a mesma de antes — você esteve lá dentro todo esse tempo, certo? Deve estar tudo bem.
— Idiota!
Meu braço foi estapeado várias vezes por ela. Que garota problemática.
No final, nós voltamos para a sala após o termino da primeira aula. Já que Mafuyu estava agarrando meus braços com uma expressão próxima ao choro, só pude admitir derrota. Passei quase uma hora na sala de prática matando todos os insetos que pude achar, como também fechando todos os espaços por onde os insetos poderiam possivelmente entrar, com fita isolante.
Embora eu não achasse que havia muito sentido em fazer isso. Coisas como centopeias e afins podem facilmente se espremer por aberturas de dois milímetros, não?
— Ah, a princesa voltou.
— Então vocês dois realmente voltaram juntos, hein...
Me senti um pouco intimidado quando todos olharam para nós enquanto entravamos na sala. Espera... Princesa?
A representante de classe Terada caminhou pela sala, se apoiou na mesa, e disse:
— Depois de uma discussão, a sala decidiu que vai chamá-la, a partir de agora de “Princesa”.
Inicialmente, o rosto de Mafuyu havia ficado um pálido fantasmagórico, mas logo ficou vermelho. Sempre achei que apesar de não estar disposta a falar muito, é fácil saber o que ela está pensando pelas suas expressões.
— ... P-Por quê?
— Você não gosta independentemente se nós a chamarmos pelo seu nome ou sobrenome, certo? É muito inconveniente para a gente falar com você dessa forma.
— E-Então é por isso...
Uma garota próxima a representante disse de forma deliberada:
— Se você se ajoelhar e pedir desculpas, não vamos te chamar por um nome tão vergonhoso.
— ... Não mesmo.
— Oh, entendo. Então, por favor, cuide de nós de agora em diante, Princesa.
— É seu turno de fazer os deveres amanhã, Princesa. Então, você precisa chegar aqui mais cedo, ao invés de quase atrasada, como sempre.
Ah, ela está quase chorando de novo. O que há com tudo isso... eles estão fazendo bullying na novata? Mas Mafuyu só tinha a ela mesma para culpar por seu dilema, logo, não senti pena nenhuma dela. Mas então, o que há com a diferença enorme nas atitudes dos jovens japoneses esses dias?
— Ah, se tiver qualquer coisa que a Princesa precise você pode simplesmente pedir ao Nao — essa frase fria da Representante Terada selou instantaneamente o meu destino sem sequer pedir minha aprovação. Eu quase caí da minha cadeira quando ouvi isso.
— Por que eu?
— Nao, é assim: Nós sempre chamamos um príncipe ou uma princesa “Sua Alteza”, certo? Você sabe o porquê?
O garoto sentado diagonalmente na minha frente me explicou
— Não sei... E qual a ligação entre essas duas coisas?
— Isso significa, “somos as pessoas abaixo deles, os servindo”. Visto que é rude falar diretamente com a realeza, podemos apenas falar com seus servos.
— Ohhh...
— Eu aprendi outra coisa hoje
Os garotos idiotas ao meu redor ficaram todos animados.
— O que significa que o servo de quem estamos falando é você!
— Eu? Por quê? — Apesar dos meus protestos batendo na mesa com meus punhos repetidamente, ninguém estava prestando atenção a mim, enquanto a decisão era passada pela classe em números esmagadores, e era muito poderosa para eu rejeitar. Olhei na direção da minha única possível salvadora, Chiaki. Entretanto, tudo que ela fez foi olhar para mim e Mafuyu suspeitamente. Ela então fez uma cara estranha antes de se virar e ficar de frente a bancada do professor.
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