domingo, 16 de junho de 2013

Sayonara Piano Sonata - V.01 / Cap.11

Capítulo 11 – Deserto, Coração, Caxemira [Download - Mirror]
Três dias depois, à noite,Chiaki levou as partituras para minha casa.
— Por que você não veio para o terraço nos últimos dias? Você voltou pra casa assim que as aulas acabaram! Senpai também está muito preocupada com você!
Como sempre, a Chiaki, ainda de farda, escalou a árvore no jardim e se espremeu para dentro, pela janela do meu quarto. Ela disse isso enquanto balançava um maço de partituras manuscritas que estavam na sua mão.
— Hmm...
Mexi nos cabos do meu fone e respondi de maneira vaga.
— Por alguma razão não me sinto muito motivado esses dias.
— Isso não é algo que alguém que não tinha motivação desde o começo possa dizer.
Fiquei ainda mais deprimido. Subi na minha cama e puxei o cobertor para cima da cabeça.
— Desculpe, é minha culpa.
Chiaki se sentou perto do meu travesseiro e puxou o cobertor do meu rosto. E então perguntou:
— Ebisawa disse alguma coisa para você?
Não respondi, ao invés disso cobri o rosto com o travesseiro. Desde o dia que fui me desculpar com a Mafuyu, não toquei nem uma vez o meu baixo. Minha cabeça estava uma bagunça total.
— Ei, você vai dizer coisas como “quero desistir”?
— ...Talvez.
Eu já havia me preparado para a Chiaki me socar ou me estrangular, mas ao invés disso ela olhou para o teto e não disse nada por um tempo.

— ...Eu pensei que finalmente poderíamos formar uma banda ou algo assim.
Eu a ouvi sussurrar algo. Por um momento pensei que estava analisando demais o que ela disse. Assim que levantei a cabeça para olhar o rosto da Chiaki, ela pressionou uma das partituras contra o meu rosto.
— Senpai gastou tanto esforço mudando as peças de Beethoven em partituras para o baixo, tudo por você!
Eu encarei vagarosamente os girinos dançantes na partitura de cinco linhas.
— Não, não consigo. Não consigo tocar essa peça.
— Isso é por você não praticou, certo?
Chiaki estava absolutamente certa, então me escondi embaixo das cobertas e me deitei na cama. De repente, Chiaki pressionou todo o peso do seu corpo na área perto do meu quadril, e começou a praticar os básicos da bateria nas minhas costas. Semínimas, colcheias, tercilhos, semicolcheias... Ela usou suas baquetas para bater nas minhas costas precisamente, de acordo com o ritmo.
— Chiaki, isso dói!
— Eu sei.
Qual foi a desse “Eu sei”? Que tipo de resposta é essa? Ela continuou a batucar o ritmo nas minhas costas enquanto mantinha o ritmo fixo. Logo mais, minha mente relaxou.
— Todos vão se sentir machucados se forem golpeados diretamente no coração.
Eu não fazia ideia de sobre o que ela estava falando. Ainda assim, eu comecei a imaginar as batucadas sendo na dor do meu coração. Provavelmente é doloroso o suficiente para fazer os corpos pularem dos túmulos sentindo dor.
Não sei se a Chiaki estava ficando cada vez mais animada, mas ela começou a batucar algumas colcheias lentamente. De alguma forma, parecia como se minha cabeça fosse um címbalo, enquanto minha mão direita era um surdo. Espera, pare, Senhorita Chiaki, isso dói muito! Logo mais, a peça estava subitamente no coro. Ela começou a rapidamente bater leves semicolcheias no meu ombro esquerdo no lugar de uma caixa.
— Chiaki, espera, isso dói! Eu disse que isso dói!
Continuei a me mover embaixo dos lençóis, mas meu oponente é uma ex-faixa preta de Judô, e ela sabia muito bem onde aplicar a força para me fazer ficar imóvel. No final, tive que esperar até ela acabar de batucar a música inteira antes de me libertar de debaixo dela.
— Você sabe que música foi essa?
Um sorriso travesso apareceu no seu rosto enquanto ela me perguntava isso, bem depois de eu ter finalmente conseguido sair de baixo dos lençóis com muita dificuldade.
<Hige to Boin>1 do UNICORN?
— Oh, você é bem perspicaz.
Apesar de serem raros os casos, assim como <Fique Comigo> é para o baixo, existem algumas músicas que você pode reconhecer instantaneamente só por ouvir a bateria. Na verdade, o milagre pode ter ocorrido simplesmente porque eu e Chiaki crescemos ouvindo músicas parecidas desde o jardim de infâncias, antes do UNICORN acabar.
— Mas infelizmente, a resposta é <Asia no Junshin>2.
— Então você está só brincando comigo? – E pensar que eu acabei de pensar nisso como um milagre, isso não faz de mim um idiota?
— Nada disso. Ainda temos que fazer o nosso melhor, mesmo que a vida seja chata. Vou torcer por você, só um pouco.
Com isso, ela pegou seus sapatos que estavam na minha mesa e pulou para fora pela janela... Por que você não pode simplesmente sair pela porta?
Estou sozinho de novo. Eu me sentei na cama e peguei as partituras deixadas pela Chiaki. O tema é realmente simples, e o ritmo é bem lento também, acho que consigo tocar certo agora mesmo. Até o ponto aonde a segunda, terceira e quarta voz vão gradualmente se sobrepondo não há mudança na dificuldade nas partes que devo tocar. Entretanto, a variação antes disso é muito mais complicada. Quanto à fuga, preciso tocar uma melodia que é tão difícil quanto a da Mafuyu, até o final. Isso é impossível não importa como você olhe! Joguei as
1http://www.youtube.com/watch?v=xJOzKlY23so
2http://www.youtube.com/watch?v=84maXM8aYJ8
partituras para o lado, me deitei, e encarei o teto por um tempo. Minhas costas ainda estavam um pouco doloridas das batucadas de Chiaki.
Coisas como as peças são muito difíceis, ou como eu não tenho nenhuma motivação... São todas desculpas. Eu sabia disso perfeitamente bem. Portanto, Chiaki talvez saiba disso também. Eu estava envergonhado de mim mesmo. Não entendo nada da situação da Mafuyu, e ainda assim eu a estava desafiando para uma disputa entusiasticamente. Para conseguir de volta a sala para poder matar tempo depois das aulas... Por uma coisa tão estupida quanto essa? Que idiota eu era. Mas isso é uma razão a mais pela qual não posso desistir agora, senão serei um idiota ainda maior.
Peguei as partituras rapidamente e fui para a sala de estar para tirar meu baixo de sua capa.
Quando eu estava afinando o instrumento, a corda partiu repentinamente em duas. Parece que está me dizendo que é impossível para mim.
Deitei no sofá e planejei simplesmente ir dormir, mas minhas costas começaram a doer de novo onde a Chiaki havia batucado. E então, coloquei as partituras na capa do baixo, coloquei-a nas minhas costas e saí pela porta da frente.
O céu já estava escurecendo quando cheguei a Loja de Instrumentos Musicais do Nagashima. Por um espaço que era tão grande quanto a largura de um lápis, eu podia ver todos os tipos de guitarras que estavam a mostra na loja, que brilhavam sob as luzes da fachada. De alguma forma, essa cena pareceu nostalgia, quase lacrimejei. Só vim a essa loja uma vez, então por que eu me sentia assim?
Kagurazaka-senpai estava cuidando da loja sozinha, e não havia nenhum outro cliente lá. Ela está do outro lado do balcão. Usando um pedaço de pano amarelo, ela estava cuidadosa e carinhosamente limpando o braço de uma guitarra que teve suas cordas removidas.
— Jovem, aqui estou eu pensando que já estava na hora de você vir! Estou realmente feliz, sabia?
Assim que me notou, ela guardou a guitarra e se levantou.
— Você está aqui para comprar cordas para o seu baixo, correto?
Pulei de surpresa e concordei com a minha cabeça. Como a Senpai sabe?
— Existe algo que eu terei que me desculpar com você.
Enquanto dizia isso, ela tirou cordas de baixo de uma prateleira do lado do balcão, que tinha vários compartimentos.
— Que seria?
— Na verdade, eu fiz algo na terceira corda, para que ela se rompesse mais facilmente.
— Ahhn? – Fiz um som estranho. – Por que você fez isso?
— Você se cansa fácil, certo? Eu estava pensando que você poderia se trancar em casa se começasse a se cansar no meio. Se suas cordas por acaso se rompessem então... Vê, essa não é a desculpa perfeita para você vir me ver?
— Então me deixe pagar por isso! – Senpai sorriu enquanto tirava uma nova de três mil ienes da sua carteira e colocava-a no caixa. Comparada a cordas para guitarra, as do baixo são assustadoramente caras, mas os donos da loja irão sempre ajudar a trocá-las. Eu estava surpreso e por um momento não consegui falar. Sempre achei que afinar fazia a corda a enfraquecer com mais facilidade, então na verdade as cordas não se quebram tão facilmente?
— O que você planeja fazer se eu decidisse desistir do baixo por causa das cordas quebradas?
— Então não há nada que eu possa fazer. Pensei nisso antes, desistirei se as coisas forem destinadas a não dar certo. Entretanto, você ainda veio correndo para mim, correto?
Senpai disse isso com um sorriso no rosto, então não há muito que eu possa dizer.
— Você recebeu a partitura?
Acenei em concordância, e tirei a partitura, que foi manuscrita pela Senpai, da capa do meu baixo.
— Então, você não está aqui para reclamar como a partitura é muito difícil para você, correto?
— Não... Nada — desviei meu olhar e inventei uma mentira.
— Até onde você tocou?
— ...Até mais ou menos a quarta variação, mas fiquei preso nela desde então. Não pude tocar nada da fuga, e não acho que eu consiga tocá-la.
Senpai rapidamente terminou de afinar o baixo com a nova corda, e então ela começou a tocá-lo enquanto estava sentada. Ouvi a fuga com um sentimento complexo.
A música tocada pela guitarra da Mafuyu é como se fosse diretamente raspada de um pilar de gelo gigante. Em contraste, a performance da Kagurazaka-senpai era como raios de inverno congelados, a música dela aparecia de repente, inconscientemente, e perfurava direto pelas nuvens. É realmente inacreditável poder ver um som tão límpido e suave sair sem nenhuma falha.
Depois de acabar de tocar a música, Senpai me devolveu o baixo. Por um tempo, eu não conseguia nem olhar para ela.
— Não é tão difícil! Não usei nenhuma técnica especial também. Só reduza o ritmo pela metade e cuidadosamente toque por cada nota.
— Senpai...
Eu quietamente murmurei isso com minha cabeça ainda abaixada.
— Hmm?
— Por que você não pode recrutar Mafuyu sozinha? Você toca melhor que eu de qualquer forma.
— Eu já não disse isso antes? Tem que ser você.
Balancei minha cabeça fracamente.
— Mesmo que seja eu, não consigo conversar muito com Mafuyu também. Mafuyu não quer contar nada para mim, e tudo que eu fiz foi deixá-la brava...
Senpai tirou dois assentos de trás do balcão e os colocou no corredor onde ficam as guitarras. Ela então me fez sentar me empurrando para baixo pelos ombros.
— Não é só isso.
— Eh? – Levantei a cabeça. Senpai desviou de leve seu olhar de mim e foi olhando lentamente para cima.
— Essa não é a única razão. Veja bem, antes de saber da existência de Ebisawa Mafuyu, eu já sabia da sua.
Aos poucos eu estava ficando com dificuldade de respirar. Sobre o que Senpai está falando?
— Jovem, você sabe de uma revista de música chamada ‘Amigos da Música’, correto? Na edição de julho há dois anos, eu li a crítica que foi publicada nela, e o título era ‘Handel e os versos na Bíblia’. O artigo era basicamente sobre como as peças de Handel, incluindo as que não eram musicais, podem todas ser interpretadas como versos. Embora a lógica seja um pouco forçada, ainda foi bastante impressionante. É um artigo bastante tocante.
Eu ainda estava atônito enquanto abraçava meu baixo com força.
É claro que eu sei sobre esse artigo. É porque, o critico...
— Eu olhei para o nome do escritor e era Hikawa Tetsurou, um crítico a quem eu sou bastante familiar. No entanto, algo não parecia certo. O artigo estava escrito em um japonês tão simples que até um estudante do ensino fundamental poderia ler, e os exemplos citados nele não deveriam ter existido na educação de ensino fundamental que Hikawa Tetsurou recebeu, já que ele já estava nos seus quarenta anos.
— Ah...
Existe... Existe alguém que realmente percebe isso?
— Essa sensação estranha me fez suspeitar do artigo inteiro. Tirei revistas antigas e revisei-as, relendo todas as críticas escritas por Hikawa Tetsurou. De alguma forma, alguns artigos se destacavam dos outros, e todos esses artigos me davam a mesma sensação estranha. Procurei por algumas críticas de CDs também, e consegui encontrar um para <Finlândia>3, que foi tocado pela Orquestra Filarmônica de Berlin e conduzido por Karajan em 1959.
Engoli em seco. Minha garganta seca estava dolorida.
3http://www.youtube.com/watch?v=Fgwr3wrenkQ
— Entretanto, não pude achar nenhuma evidência concreta depois disso. Eu não conhecia ninguém da editora também, tudo que sabia é que Hikawa Tetsurou tinha um filho. O que eu sabia é que, por alguma razão desconhecida, ele havia escrito sobre seu filho em suas críticas algumas vezes, e até escrito seu nome. Por isso, quando encontrei o nome no livreto que detalhava os nomes de todos os novatos... Acho que você pode entender quão chocada eu estava então, correto?
Com um leve sorriso no rosto, Senpai cutucou meu nariz com seu dedo.
— O culpado é você.
— Erm, o que você quer dizer com culpado?
— Todas as minhas deduções estão corretas, certo?
Senpai aproximou seu rosto do meu, e tudo que pude fazer foi concordar com a minha cabeça.
Existia alguém nesse mundo que descobriu os artigos que eu havia feito usando o nome do Tetsurou, simplesmente lendo os artigos.
— Logo, eu já prestava atenção em você por um longo tempo, jovem. Preciso de um secretário na minha armada revolucionária, e não consigo pensar em ninguém mais apropriado para essa posição que você. Por isso, não estou pedindo para você se juntar no processo enquanto tento recrutar Ebisawa Mafuyu.
Senpai colocou suas mãos nos meus ombros.
— Eu quero você.
Não me diga esse tipo de coisa de uma distância tão próxima quando estamos sozinhos. Minha cabeça estava uma bagunça, e eu não conseguia dizer nada. Para evitar o olhar da Senpai, virei a cabeça para o lado e guardei meu baixo.
— Mas, para alguém como eu...
Eu confirmei o toque da minha capa.
— Não é como se eu fosse me beneficiar me juntando a banda. Não consigo tocar tão bem quanto a Mafuyu, e provavelmente nunca vou alcançá-la. Todo esse tempo, eu tenho... Sempre ouvido música sozinho.
Senpai estreitou os olhos e me encarou por um tempo. Ela então desviou seu olhar, de repente, e gritou em direção as minhas costas.
— Companheira Aihara, está na hora de se mostrar. Deseja entrar?
Me virei de choque. Chiaki estava em pé nas sombras de algumas guitarras próximas a porta. Ela quietamente saiu de lá. Havia uma expressão gentil no seu rosto.
— Você deve ter perseguido o jovem até aqui, correto? Como esperado de uma lutadora na minha armada revolucionária. Você é bem adepta a missões furtivas também.
— Eu não o persegui — Chiaki disse isso brava e pisou com força por todo o caminho.
— Senpai, você não pode dizer coisas que vão assustar o Nao!
— Esse olhar ciumento seu é realmente fofo também!
Senpai acariciou a cabeça de Chiaki carinhosamente. Olhei para ela com uma expressão atônita também.
Ela realmente me perseguiu até aqui? Isso é sério, ou não?
Chiaki me encarou enquanto dizia: — Apenas vim aqui para passear por acaso, e também acontece que Nao estava dentro, então era inconveniente entrar — Senpai a consolou dizendo: — Eu entendo, eu entendo.
— Companheira Aihara, você trouxa suas baquetas?
— Baquetas? — Chiaki inclinou sua cabeça e então concordou.
— Mm, vou acordar aquele gerente dorminhoco lá dentro e pegar as chaves para o estúdio.
Senpai olhou para mim, então fez um gesto de arma com a mão e fingiu atirar no meu peito.
— Jovem, deixe-me acender sua incandescente paixão.
O terceiro andar da Loja de Instrumentos Musicais do Nagashima foi modificado em um estúdio de aluguel. Existem duas portas firmemente fechadas no longo e estreito corredor. Depois de abrir a porta a minha frente, fui recebido por um quarto que é do tamanho de quatro tatames e meio, dos quais metade da área era ocupada pela bateria. De ambos os lados se encontravam amplificadores de guitarra gigantescos. Também havia microfones e materiais de gravação, como também um cheiro asfixiante de fumaça.
— Consegui permissão especial para vocês entrarem, tudo graças aos benefícios que me são dados como funcionária daqui — e com isso, Kagurazaka-senpai me empurrou para dentro do estúdio. Chiaki nos seguiu para dentro também.
— Wow... Faz muito tempo desde que eu toquei em uma bateria de verdade.
Chiaki se sentou na bateria, e estava afinando a caixa bastante animada.
Kagurazaka-senpai conectou o meu baixo e a sua guitarra nos amplificadores, nessa sequência. A guitarra de Senpai é uma Gibson Les Paul, que dizem custar um milhão de ienes, apesar de eu não ter nenhuma ideia se isso é verdade ou não. Se é, então provavelmente é uma velha da série de “Coleção Histórica”. Pelas cores da guitarra, ela seria uma réplica da linha dos anos 60.
Coloquei a correia do baixo no meu ombro, e então dedilhei a corda uma vez, timidamente. Um som insuportável preencheu o pequeno e apertado estúdio.
Por alguma razão estranha, fui conduzido para esse estúdio por ela, simples assim...
— Não há necessidade de tocar algo excessivamente difícil, jovem. Você só precisa seguir a bateria e tocar o Ré Maior em colcheias, só isso.
— Haa.
Chiaki levantou as baquetas o máximo que pode e disse: — Senpai, você está pronta?
As duas se olharam por um segundo. No momento exato que pude ouvir os sons dos címbalos desaparecendo, fui rodeado por uma música que se movia para frente em um ritmo forte. Chiaki começou a tocar uma série de poderosas colcheias com o Chimbau, e no bumbo ela estava sobrepondo as colcheias com as tercinas. Os riffs da guitarra, que estavam lentamente crescendo e berrando, eram como os passos vacilantes de um viajante em direção ao oceano com uma bengala na sua mão.
Tentei bater de leve no ritmo da Chiaki, e então calmamente dedilhei o baixo. No começo, eu não conseguia acreditar que as notas graves que estavam pressionando contra o meu abdômen estavam vindo do meu baixo. As três melodias diferentes então começaram a se misturar totalmente, e se entrelaçaram.
E então, veio uma voz cantando...
É a voz da Kagurazaka-senpai.
Ela era como os sussurros da noite no deserto, apesar da sua voz estar levemente rouca, ela havia transmitido todo o caminho até o horizonte do outro lado.
É <Caxemira>4 de Led Zeppelin.
É uma música que eu já ouvi incontáveis vezes. Ouvi essa música na minha cama no meio da madrugada repetidamente. E agora, meus dedos estavam tocando o pulso da música.
Nos lugares que a música estava ficando silenciosa, a guitarra respondia com uma frase similar a da música. Chiaki manteve seus passos e marchava infinitamente e continuamente. Eu já havia apagado da minha mente qualquer coisa que a Senpai havia me dito. Quando a guitarra começou a tocar os sons esticados e sinuosos do estilo Arábico, comecei a procurar pelas notas graves que deveriam estar escondidas na música, e os teci com meus dedos.
Eu realmente senti como se a música pudesse continuar para sempre.
Por isso, quando a música finalmente parou, senti como se tivesse sido abandonado no meio de um deserto árido. O quarto estava cheio de um som retumbante, mas eu não conseguia mais diferenciar se isso era apenas barulho, o eco ou a memória que <Caxemira> deixou dentro dos meus ouvidos.
O rosto de Chiaki estava completamente vermelho, e ela estava me olhando com sua testa cheia de suor. Um sorriso aparentemente triunfante apareceu no seu rosto. Desviei meu olhar, e dessa vez, a graciosa vista da Kagurazaka-senpai entrou na minha frente.
4http://www.youtube.com/watch?v=sfR_HWMzgyc
Não sei o porquê, mas eu não conseguia olhá-la no rosto.
— Jovem, o que você pensa que o baixo é?
Levantei lentamente meu rosto. Não havia um sorriso no rosto da Senpai, mas seu olhar era gentil.
— Se formos ver a banda como uma pessoa, então o cantor principal é a cabeça, enquanto a guitarra são as mãos...
Senpai moveu seu olhar da sua mão e o direcionou a Chiaki.
— Se as baterias são as pernas, então que parte você acha que o baixo representa?
Eu não consegui responder a charada da Senpai. Do momento que eu nasci até hoje, sempre participei do papel de alguém que aceita as coisas.
Senpai finalmente fez um gentil sorriso e andou rapidamente na minha direção. Ela colocou sua mão no meu peito, o que me fez pular pela grande surpresa. Meu corpo congelou.
— É aqui, jovem.
Enquanto ela me encarava, olhando diretamente nos meus olhos, Senpai continuou:
— O coração. Você entende agora? Sem você, nós não poderíamos nos mover.
Fui deixado atônito, sem palavras. O que respondeu a ela no meu lugar foi o pulso do meu coração.
Se eu for ver a banda como uma pessoa.
Eu não estava indo para frente, seguindo os passos deles. Como alguém que estava se pondo em um som dividido com outras pessoas pela primeira vez, isso é algo que eu tenho certeza. Se eu estivesse ouvindo os meus CDs no meu quarto, sozinho, provavelmente nunca teria entendido isso.
Então, era provável que eu estivesse pensando a mesma coisa que a Senpai. Se apenas a Mafuyu estivesse aqui...
O som da guitarra. Se estivesse aqui...
Apertei o braço do meu baixo com força. Eu finalmente entendi... Essa é a razão pela qual eu estou tocando o baixo. Não é uma desculpa, mas uma razão de verdade, é para eu poder transmitir esse calor abrasador para Mafuyu.

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