O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi [Download]
Tradução: kwijibo Revisão: GardenAll
Capítulo 5:
" ... "
Sinceramente, não sei o que dizer. Nagato agora virou-se para Asahina-san (grande),
"Deixe-me transmitir as coordenadas espaço temporais do alvo."
"Oh, claro."
Asahina-san (grande) colocou a sua mão para frente, como um mastife real impelido a "dar a patinha" para seu mestre.
"Vá em frente..."
Nagato suavemente tocou nas costas da mão de Asahina-san, e então recuou... o que foi isso? De todo modo, Asahina-san pareceu satisfeita.
"Eu entendo agora, Nagato-san. Tudo que precisamos é ir para lá e 'consertá-la', não? Deverá ser uma tarefa fácil, pois 'ela' não terá poder algum..."
A viajante no tempo parecia determinada com os seus punhos fechados e suspensos no ar, a alienígena então disse,
"Por favor, esperem."
Sem estar usando os seus óculos, Nagato prosseguiu,
"Neste estado, vocês também estão vulneráveis as mudanças no continuum espaço-tempo. Medidas protetivas devem ser aplicadas."
Ela esticou a sua mão em minha direção.
"Sua mão."
Para quê? Ela quer me cumprimentar? Obedientemente levantei a minha mão esquerda. Senti os dedos frios de Nagato-san segurando o meu pulso, o que fez meu coração disparar por alguns segundos.
" ... "
Nagato aproximou seu rosto resoluto do meu braço.
"Whoa!"
Eu gritei involuntariamente. Esta é uma reação inevitável, eu acho. Ajoelhando-se, Nagato não apenas tocou meu pulso levemente com os seus lábios, mas revelou todos os seus dentes. Era como nas filmagens, onde ela constantemente atacava Asahina-san e a mordia.
Não doeu. Na verdade era como aquelas mordidas não muito hostis que Shamisen me dava algumas vezes enquanto eu o acariciava. Mesmo assim, não pude deixar de achar estranho aqueles dentes caninos atravessando a minha pele, era como ser perfurado por algo, mas sem sentir dor. Acho que a saliva de Nagato tem alguma propriedade anestésica. Foi algo como ser picado por um mosquito.
Depois de morder a minha mão por uns cinco ou dez segundos. Ela lentamente levantou a cabeça.
"Apliquei uma barreira de manipulação de dados furtiva e um escudo protetor a superfície do seu corpo."
Ela falou aquilo sem ao menos corar. Por outro lado, Asahina-san (grande), estava com as mãos sobre a boca e com um olhar surpreso no rosto. Eu me sentia um pouco tonto. Olhei para o meu pulso e haviam dois pequenos buracos como uma mordida de vampiro. Eu
as observei um pouco, só para que as perfurações começassem a desaparecer sem deixar rastros. Assim como Asahina-san durante o nosso fatídico filme, meu corpo também havia sido tomado pelas nanomáquinas de Nagato.
"Você também."
Sob a ordem de Nagato, uma atemorizada Asahina-san esticou novamente a sua mão.
"... já faz tempo que você me injetou. Deve ter sido difícil para você também, no passado..."
"Essa é a primeira vez que eu a injeto."
"É claro, certo. Eu havia esquecido..."
Fechando os seus olhos com força, a viajante do tempo esticou o pulso e aceitou o beijo de batismo dado pela alienígena. O tempo que ela levou para ter as nanomáquinas inseridas em seu corpo foi menor que o meu. Uma vez que tudo acabou, ela tossiu secamente.
"Vamos Kyon-kun, o verdadeiro desafio começa agora."
Sério? Este aquecimento demorou um bocado! Novamente, eu só estou fazendo isto, pois é o meu dever narrar estes fatos para todos, mesmo contra a minha vontade.
"Obrigado."
Tentei me manter calmo enquanto agradecia a dona do apartamento. A silenciosa Nagato permaneceu inerte. Não consegui encontrar nada significativo em sua expressão. Mas por algum motivo, eu sentia que Nagato, que estava ali de pé, se sentia terrivelmente solitária. Será que o motivo era porque ela estava se sentindo sozinha como eu havia especulado?
"Nagato, nos veremos depois. Eu e Haruhi iremos chegar, apenas nos espere na sala do Clube de Literatura até lá."
Como uma boneca que subitamente ganha vida, a interface orgânica alienígena, mexeu a cabeça mecanicamente.
"Eu irei esperar."
Esta frase foi o suficiente para acender uma chama misteriosa no meu coração. Mesmo que fosse uma luz tão pequena quanto um cigarro que alguém esqueceu de apagar. Quanto eu comecei a me questionar sobre de onde aquela centelha havia vindo, Asahina-san (grande), começou a falar,
"Só para manter você mais confortável,"
Ela segurou meus ombros com força.
"Você pode fechar os seus olhos?"
Eu segui as suas instruções. Asahina-san parecia estar em minha frente, segurando as minhas mãos.
"Kyon-kun."
A sua voz era muito agradável. Será que ela iria me beijar?
"Lá vamos nós."
Por favor, continue. Você pode me beijar o quanto quiser, quanto mais apaixonado melhor. Enquanto eu me perdia em meus devaneios...
Aquela tontura dramática começou. Que bom que fechei os meus olhos. Mesmo que eles estivessem abertos, estaria tão escuro como em um blecaute. Eu me sinto como em uma montanha russa sem cintos de segurança; Não tenho certeza se o meu sangue foi para a cabeça ou simplesmente foi drenado do meu corpo. Continuei me sentindo sem peso algum. Mesmo de olhos fechados ainda me sentia desnorteado. Não perdi a consciência graças ao calor das mãos de Asahina-san.
Quanto tempo já se passou? Quantos dias ou horas? Perdi a noção de tempo e espaço. Não sei se posso aguentar muito. Asahina-san, eu me sinto enjoado...
Enquanto procurava desastradamente por algum lugar para vomitar...
"Uhm... nós chegamos."
A saudosa sensação do meu pé sobre solo firme voltou. Senti a frieza do chão passando pelas minhas meias para dentro do meu corpo. O meu senso de gravidade voltou, e como uma ilusão, meu enjôo simplesmente desapareceu no ar.
"Pode abrir os olhos agora. Graças a Deus, este é o lugar que Nagato nos passou, e no tempo certo também."
Levantei a cabeça e vi o cintilar do céu estrelado, salpicado pelas constelações de inverno. O ar estava mais limpo, e as estrelas despontavam muito mais do que no verão. Virei-me, rapidamente reconhecendo o telhado do colégio por entre as residências locais.
Olhei ao meu redor, tentando confirmar a minha localização. Mesmo no escuro, eu não podia estar enganado. Eu estava parado aqui há poucas horas atrás. Ainda lembro-me de Haruhi com seu rabo de cavalo e de Koizumi com o meu uniforme de educação física.
Esse é o lugar onde Haruhi e Koizumi se trocaram. Que coincidência, eu acho!
Que horas são agora?
Olhando para o seu relógio, Asahina-san (grande) falou comigo.
"É meia noite e quarenta e oito do dia dezoito de dezembro. Em cinco minutos, todo o mundo irá mudar."
Se contarmos de quanto eu apertei a tecla de "Enter" no dia 20 de dezembro e voltei três anos no tempo, o dia 18 seria há dois dias. Nesta manhã, eu fui para a escola como sempre, sem ter idéia do que iria acontecer, só para entrar em um estado de pandemônio completo como resultado de ver o meu colégio completamente mudado. Haruhi subitamente desapareceu, Asakura voltou; Asahina-san não me reconhecia, enquanto Nagato havia se transformado em alguém completamente diferente.
Tudo começou ali, agora estava no momento em que a transformação se consumaria. Em outras palavras, eu não consegui evitar que isso acontecesse, e é por isso que estou aqui agora.
Estava nervoso, e tremendamente ansioso com o que iria acontecer...
"Ah não! Esqueci os meus sapatos!"
Asahina-san (grande) exclamou suavemente.
Como viajamos de um ambiente interno para cá, estamos sem sapatos. Como esperado de Asahina-san, nem mesmo a passagem do tempo pode expurgar o seu jeito desastrado.
"Será que Nagato-san vai cuidar bem deles?"
Esta ansiedade de Asahina-san me aliviou do meu próprio nervosismo. Tenho certeza de que ela vai cuidar deles. Afinal, ela foi capaz de preservar um tanzaku por três anos, então não acredito que ela vai perder um par se sapatos tão facilmente. Você sempre pode voltar para o seu apartamento e checar o armário...
Enquanto calmamente pensava sobre estas coisas, um arrepio atravessou todo o meu corpo subitamente.
Era por que eu estava sem sapatos, sem mencionar que saltar do verão para um inverno gelado só faz o frio se sentir mais intenso. Imediatamente pensei em vestir a blusa que tinha em meus braços: mas percebi que Asahina-san estava tremendo com seus braços apertados ao redor do corpo. Bem, suponho que usar uma blusa fina e uma minissaia nessa temperatura só vai fazer você congelar até a morte.
"Coloque isso."
Pus a minha jaqueta sobre seus ombros agitados. Até eu estava tocado por este ato de cavalheirismo.
"Oh, obrigada. Desculpe-me por isso."
Não precisa se desculpar, não foi nada. Se você não tivesse me esperado três anos atrás, não teria chego até aqui. Só isso já é o suficiente para justificar tudo. Se necessário, tiraria todas as minhas roupas só para dar a você.
Asahina-san me deu um sorriso, que combinava perfeitamente uma beleza inocente e uma atitude sedutora. Falando sério, isto amoleceria as pernas e o coração de mais de metade da audiência.
"Está quase na hora."
Talvez exista uma vantagem em não usar sapatos, afinal não fazemos barulho andando por ai. Mesmo assim, nós não ousávamos respirar alto demais, e caminhávamos a pequenos passos até a entrada da Escola Secundária do Norte. Paramos em uma esquina e, como caçadores a espreita de sua presa, colocamos nossas cabeças para fora e olhamos para o caminho escuro a nossa frente.
Não haviam muitas luzes nesta área, então apenas havia um pequeno espaço iluminado para fora dos portões. Mesmo que fosse uma luz fraca, era fácil ver quem estava parado embaixo dela.
"Ai vem ela..."
Uma mão quente pousou em meu ombro. Conseguia sentir a respiração intensa e doce de Asahina-san entrando em meus ouvidos. Normalmente ficaria fascinado com isto, mas não acho que este seja um bom momento.
O conversor do espaço-tempo emergiu das sombras repousando na luz debaixo do poste.
Com um uniforme da Escola Secundária do Norte, era a pessoa que Nagato havia mencionado. "Aquela pessoa" era a culpada por alterar o meu mundo, separar a Brigada SOS, e transformar todos seus membros em humanos comuns. Apenas as minhas memórias permaneceram, mesmo que todo o resto do planeta tenha mudado.
Neste momento, "esta pessoa" começava a fazer o seu movimento.
Não podíamos nos apressar, tínhamos de esperar até que tudo mudasse. Esse havia sido o conselho de Nagato. Só devíamos injetar o programa de restauração após esta pessoa mudar completamente o mundo, caso contrário, o plano temporal em que eu ativei o
programa de escape nunca teria existido. Não entendo exatamente o que Nagato quis dizer com isso, mas Asahina-san parecia concordar bastante a respeito. Como as duas são grande conhecedoras do fluxo do tempo, cabe a um leigo como eu simplesmente aceitar o conselho. Aquela Nagato nunca iria mentir para mim, ela sempre esteve ao nosso lado com aquele olhar sério no rosto...
Segurei a pistola com força, e esperei em silêncio.
Andando em passos regulares, "aquela pessoa" chegou aos portões do colégio. Ela levantou a cabeça, olhando para o prédio engolido pelas sombras, e então parou.
A saia de seu uniforme se agitou com um forte sopro de vento.
Ela não parecia nos notar. Graças as nanomáquinas que Nagato nos injetou, criando uma barreira furtiva e um escudo protetor sobre nossos corpos.
"Aquela pessoa" subitamente levantou um dos seus braços e fez um gesto, como se pegasse algo no ar. Não era um movimento natural, era como se ela estivesse sendo controlada por algo, mas eu sabia que este não era o caso.
"Incrível..." - exclamou Asahina-san - "Que terremoto temporal poderoso. Ela realmente tem este tipo de poder... mesmo que eu tenha visto pessoalmente, ainda é difícil acreditar."
Eu não consegui ver coisa alguma. Os céus ainda estão escuros, e tudo parece estar no lugar, Mesmo assim, Asahina-san pareceu presenciar alguma coisa capaz de criar mudanças massivas no curso da história deste mundo. Ela vem do future, afinal de contas, então não é tão surpreendente que consiga enxergar.
Asahina-san (grande) se inclinou em minha direção. Originalmente, nós dois teríamos sido afetados por estas mudanças, mas estávamos protegidos depois da mordida de Nagato. Fiz bem em seguir este curso de ação e confiar nas duas, não acho que existam pessoas mais úteis. Porém, agora há mais uma coisa a ser feita, e não posso me dar ao luxo de estragar tudo agora.
Prendi a minha respiração quando a vi abaixando o braço e virando a cabeça em nossa direção. De inicio achei que ela tinha nos descoberto espiando, mas aparentemente só estava olhando ao seu redor.
"Não se preocupe, ela não nos percebeu. Parece-me que ela acabou de 'renascer'. O terremoto temporal já exerceu a sua alteração no mundo. Kyon-kun, é hora de agir,"
Asahina-san (grande) falou com um tom sério e rígido, dando o sinal para eu prosseguir.
Emergi das sombras em direção aos portões do colégio. Não havia porque ter pressa, ela não iria fugir para lugar algum. Como esperado, quando "aquela pessoa" me viu caminhando sob a luz do poste, ainda estava parada em frente ao portão. A única mudança visível era a expressão em seu rosto. Quando vi aquela cara cheia de surpresa, não pude evitar de ficar um pouco melancólico.
"Olá."
Eu a chamei. Como um amigo que não via há tempos, me aproximei.
"Sou eu, nos encontramos de novo."
Eu tinha sido capaz de deduzir isso pelo tom de voz de Asahina-san (grande). Das pessoas que eu conheço, ela era a única que a fazia se sentir oprimida assim - além de Haruhi, é claro. Pensando bem, depois do dia 18, mesmo que as identidades secretas dos membros da brigada tenham sumido,suas personalidades permaneceram intactas. Todas, exceto uma cujas ações, maneirismos e expressões, mudaram completamente.
Embaixo do céu escuro e nublado, com um uniforme da da Escola Secundária do Norte, esta pequena figura estava ali sem saber o que estava acontecendo. Ela não sabia porque estava ali, era como alguém que tinha sofrido uma crise de sonambulismo e só agora, depois de acordar, começou a olhar ao seu redor...
"Nagato."
Eu disse a ela,
"Isso tudo foi responsabilidade sua, não?"
Com seus óculos no rosto, era aquela Nagato. Depois do dia 18, Nagato Yuki tornara-se uma mera remanescente do Clube de Literatura. Não era mais nenhuma alienígena ou uma entidade misteriosa, apenas mais uma garota tímida e leitora ávida.
Nagato parecia cada vez mais confusa e atordoada, sem entender o que se passava ao seu redor,
"... por... por... por que você está aqui?"
"Eu iria perguntar exatamente isso, você sabe porque está aqui?"
"... estava dando uma volta,"
Nagato disse isso com os olhos arregalados. Em seu rosto os óculos refletiam timidamente as luzes do poste. Eu olhei para ela, e não pude evitar de pensar,
Não, não é bem assim, Nagato.
Ela apenas estava cansada. Tendo passado o dia sendo incomodada por Haruhi, enquanto estava ocupada salvando a minha vida, assim como secretamente planejando isso tudo pelas nossas costas - era normal que até ela se sentisse fatigada.
Há pouco tempo atrás, foi isto que Nagato me disse em seu apartamento:
"Os arquivos errôneos acumulados na base de dados de memória irão gerar uma reação anômala . Eu já havia previsto a inevitabilidade do fato. Em 18 de dezembro, três anos no futuro, eu irei reconstruir o mundo."
Ela continuou calmamente,
"Não existem contra-medidas disponíveis, porque não sabia que tais erros iriam ocorrer, e como eles se manifestariam."
Mas eu sabia.
Eu sei o motivo por trás das ações anormais e inexplicáveis de Nagato, e o motivo do acumulo de todos estes dados errôneos.
É o desejo mais básico. Mesmo para uma inteligência artificial comandada por um programa complexo, mesmo para uma andróide que nunca teve algo assim instalado. Após viver por algum tempo, é natural desenvolver este tipo de vontade. Você não irá entender isto nunca, mas eu entendo. E provavelmente Haruhi também.
Continuei a observar a expressão confusa de Nagato intrusivamente. E assim, a garota modelo do Clube de Literatura tornava-se cada vez menos confortável com a situação. Vendo o quão indefesa ela parecia, não pude evitar de gritar dentro de mim; Nagato! Isso é o que chamamos de emoções!
Isso é porque você não foi projetada para ter emoções, assim esta reação foi ainda mais intensa. Você provavelmente queria gritar, enlouquecer ou simplesmente gritar bem alto; Sua garota estúpida! Eu já cansei de aturar você! Certo? Não, ela não consegue pensar deste modo, o que é bem fácil de se entender. Suas ações devem ser perdoadas, até porque eu
mesmo sou parcialmente responsável por isto; afinal, me tornei excessivamente dependente dela, e me acostumei em deixar que ela cuidasse de tudo. Sempre pensei que, enquanto ela estivesse ajudando, eu poderia desligar o meu cérebro e ficar tranquilo. Sou um grande idiota, até maior do que Haruhi. Então, não tenho o mínimo direito de condena-la por nada.
Esse foi o motivo que levou Nagato - esta garota aqui - inventar esta idéia estúpida de mudar o mundo.
Essa foi uma reação anômala ou um erro de programação?
Não é nada disso, não sejam tão incômodos.
Esse era apenas o desejo de Nagato - um mundo normal como este.
Ela apenas preservou as minhas memórias, enquanto alterou a de todos os outros, incluindo a sua própria.
E é agora que eu entendia a pergunta que havia me intrigado tanto nos últimos dias.
Por que eu fui o único que não foi afetado?
A resposta era simples. É porque ela queria que eu fizesse esta escolha.
O mundo alterado é melhor? Ou o original é melhor? Dentro do seu roteiro bem construído, a decisão final era minha
"Droga."
Pro inferno com as escolhas! Eu nunca tive uma de verdade!
Se eu apenas quisesse a Brigada SOS, então eu não precisaria voltar. Afinal, poderíamos começar de novo no mundo alterado. Haruhi e Koizumi podiam estar em outro colégio, mas não seria realmente um impedimento. Podemos muito bem tratar isso como um hobby extra-curricular. Esse cube misterioso se encontraria no café de sempre. Enquanto Haruhi pensaria em todo o tipo de coisas absurdas, Koizumi estaria sempre sorrindo; Asahina-san viveria em um estresse constante, e eu reclamaria de tudo isso com uma careta no rosto... a imagem dessa cena flutuou em minha mente. Nagato provavelmente estaria confusa também, mas mesmo assim ela ficaria em silêncio lendo o seu livro. Mas mesmo assim...
Essa não seria a Brigada SOS que eu conheço! Nagato não é uma alienígena, Asahina-san não veio do futuro, Koizumi é apenas um estudante comum, e Haruhi não tem poder sobrenatural algum. Seria um clube simples, normal e feliz.
Mas eu estou contente com isso? Não deveria ser ainda melhor?
Como eu pensei nisso? Não sou eu que constantemente reclama das constantes confusões de Haruhi que desafiam todo o senso comum?
Que saco.
Chega de tudo isso!
Você é idiota por acaso!?
Já cansei de você!
" ... "
Meu coração estava doendo
Um estudante normal que era forçado em diversas situações bizarras, constantemente reclamando para Haruhi, mas que mesmo assim sobrevivia para contar a história. Este é o papel que eu venho desempenhando.
E agora!? Sim, Kyon! Estou falando com você! Estou fazendo um questionamento importante, então escute com cuidado e responda. Você não pode fugir. Só um "sim" ou "não" já é o suficiente. Agora, feche a boca e escute, ai vem a pergunta:
Você acha essa divertida essa vida escolar estranha e extraordinária?
Pare de enrolar e responda, Kyon! Pense bem. E então? Poderia dizer o que você acha disso tudo, afinal? Não fique postergando e me diga. Em um mundo onde eu sou constantemente arrastado em círculos por Haruhi; atacado por alienígenas; ouço as teorias bizarras sobre viagem no tempo; faço questionamentos filosóficos com um esper; fico preso em uma dimensão paralela onde gigantes destroem tudo em sua frente; vivo com um gato que fala; salto incompreensivelmente pelo tempo; sem mencionar que tenho que seguir a ordem estrita de não deixar que Haruhi saiba nada disso, permitindo que a comandante da Brigada SOS continue alegremente pela sua busca pelo sobrenatural, mesmo que no final ela apenas esteja inconsciente da bagunça que está causando.
Você não acha um mundo assim interessante?
Ou você acha que isso é apenas um incomodo, e só quer dizer para ela que já chega? Afinal, você sempre diz que ela é uma idiota e tem a vontade de ignora-la para sempre. Bem, não é isso? Não é verdade? Em outras palavras, o que realmente você pensa?
Aquele outro mundo não é nem um pouco interessante.
Você tem certeza? De acordo com você, Haruhi é uma garota extremamente idiota que só atrapalha a sua vida pacífica. Não importa o tipo de idéia absurda que ela tem, você acaba sempre se sentindo deprimido. É claro que você não acha um mundo desses divertido. E não ouse dizer que eu estou mentindo! Você sabe a verdade.
Mas mesmo assim, na realidade você secretamente gosta de tudo isso. Pois o mundo é realmente um lugar interessante.
Você me pergunta por que eu acho isso?
Então deixe me dizer porquê.
Você não apertou a tecla "Enter"?
Você sabe, aquela que ativava o programa de escape de emergência que Nagato deixou para você.
Você está pronto?
A resposta que dei para esta pergunta foi um resoluto "sim".
Eu estou certo?
A nossa grande deusa Nagato foi tão longe a ponto de criar um mundo estável para você, e você declina sua oferta assim? Desde que você conheceu Suzumiya Haruhi em abril, você tem tratado aquela idiota como algo certo na sua vida. Você até mesmo quer voltar para aquele mundo louco onde existem alienígenas, espers e viajantes do tempo atravessando a escola livremente. E por que isso? Não é você que está se lamentando o tempo todo por ser tremendamente azarado?
Se esse fosse o caso, por que você não ignorou o programa de escape? Ao escolher ficar naquele mundo normal você iria conhecer Haruhi, Asahina-san, Koizumi e Nagato como pessoas comuns, e viver uma vida feliz sob a liderança de Haruhi. E como ela não tem poder algum, você simplesmente poderia dar adeus para todas as suas experiências surreais que vem ao seu encontro.
Naquele mundo Haruhi seria apenas uma garota comum que tem sérias tendências autoritárias; Asahina-san não mais teria a propriedade de viajante do tempo, mas mesmo assim continuaria a ser a nossa personagem bonitinha; Koizumi seria um rapaz normal sem nenhum apoio de uma "Organização" misteriosa; e, por fim, Nagato seria uma menina tímida, humilde e fanática por leitura, sem precisar carregar o peso de poderes incríveis e responsabilidade de observar ou proteger algo. Claro que, na maior parte do tempo, ela permaneceria sem expressão, mas ocasionalmente iria rir de alguma piada estúpida, e então corar furiosamente. Quem sabe, ela podia ser uma pessoa daquelas que se abrem lentamente quando se passa algum tempo com elas.
E, mesmo assim, você renega uma vida tão ilídica.
Por que isso?
Vou perguntar uma última vez. Me responda com sinceridade.
Você acha Haruhi, a garota problemática, e todos os eventos terríveis que ela causa, algo interessante? Desembuche!
"É claro que eu acho."
Tive de responder assim,
"Não é preciso sem nenhum gênio para perceber que é algo divertido. Não me pergunte mais uma coisa trivial dessas."
Se alguém me dizer que não acha algo incrível, então esta pessoa será um grande imbecil. Sua mente deve ser umas trinta vezes mais perturbada que a de Haruhi.
Quero dizer, tem alienígenas, viajantes no tempo e pessoas com poderes psíquicos bem ao nosso redor!
Só um deles já seria o suficiente para deixar as coisas interessantes, mas temos três personagens fantásticos de uma só vez! E ainda podemos incluir Haruhi, uma força poderosa prestes a explodir. É claro que, com isso, eu nunca mais vou ficar entediado na vida. Se alguém fizesse alguma objeção a respeito, pode ter certeza que eu iria bater nesta pessoa até não sobrar mais nada.
"Então é assim?"
Respondi para mim mesmo. Pode-se dizer que eu alcancei uma revelação.
"Ainda prefiro o mundo original. Este aqui não é adequado para mim. Desculpe, Nagato. Prefiro a sua versão antiga do que esta presente. Além do mais, gosto muito mais de você sem os óculos,"
Esta Nagato me olhou com um olhar extremamente confuso,
"Do que você está falando...?"
A Nagato Yuki que eu conheço nunca diria algo assim.
Esta garota não tem conhecimento do que vai ocorrer em três dias, quando eu descobri que havia algo de errado. Mas era de se esperar, pois esta Nagato acabou de surgir no mundo, e nunca me encontrou antes. Ela não se lembra do choque que foi me ver invadindo a sala do Clube de Literatura.
A única memória que esta Nagato tinha era a lembrança fabricada sobre a biblioteca. Além desta, a memória que dividimos agora é de tudo que ocorreu depois da mudança no mundo agora há pouco.
Há meses atrás, eu fiquei preso em um Espaço Restrito cinzento ao lado de Haruhi. De acordo com Koizumi, este era um novo mundo criado por ela.
Nagato provavelmente usou este poder. De algum modo, ela conseguiu replicar ou roubar este poder de Haruhi e o usou para gerar este mundo.
Com certeza este é um poder conveniente. Não importa quem seja, todos já tivemos a vontade de começar tudo do zero, ou voltar a algum momento e mudar as coisas para melhor.
Mesmo assim, uma pessoa comum nunca iria ter um desejo assim realizado. É até melhor desistir desse tipo de pensamento. Eu mesmo não queria começar de novo, e é por isso que voltei daquele mundo cinzento que Haruhi criou.
Este incidente causou a transferência deste poder praticamente divino de Haruhi para Nagato. A primeira nem ao menos percebeu alguma coisa, enquanto isso a segunda perdeu o controle e decidiu mudar o planeta.
"Nagato."
Andei até a figura tensa e nervosa que estava ali parada. Nagato permaneceu imóvel e olhava de volta para mim.
"Não importa quantas vezes eu tenha que dizer isso, a resposta será sempre a mesma. Por favor, faça tudo voltar ao normal, incluindo você. Vamos viver para lutar outro dia na sala de nosso clube. Se você precisar, estarei lá para você. Ultimamente Haruhi não tem enlouquecido sem motivo, então não tem porque você usar um poder nocivo assim para mudar o mundo à força. Só mantenha as coisas como eram."
Os olhos sob os óculos emanavam um sentimento de pavor.
"Kyon-kun..."
Asahina-san segurou a manga da minha blusa e disse,
"Não adianta explicar nada para esta Nagato-san. Ela também mudou. No momento, ela é só uma garota normal sem poder algum..."
Subitamente pensei em uma coisa.
A Haruhi de cabelos longos que me chamava de John. Sem nenhum poder divino ou demoníaco, ela era apenas uma colegial comum que invadiu a minha escola sem nenhum sinal de hesitação. Seus olhos brilhavam enquanto eu contava minha história sobre a Brigada SOS, exclamando, "Isso parece divertido!"
Com um sorriso largo no rosto o tempo todo, aquele Koizumi disse que gostava de Haruhi. Vestindo o meu uniforme de educação física, o estudante modelo fazia todo o tipo de expressões complicadas.
Me entregando um convite para o Clube de Literatura, esta Nagato de óculos discutia a sua memória fabricada comigo. Seu sorriso era como o nascer no sol no horizonte, não posso deixar de sentir a vontade de ver aquele sorriso novamente.
Percebi que nunca mais veria essas pessoas. Para ser honesto, eu sentirei a falta deles. É triste pensar que são existências fabricadas. Eles não são as pessoas que eu conheço. É uma pena que não terei a chance de me despedir deles, mas já tomei uma decisão. Quero voltar para a Haruhi, Koizumi, Nagato e Asahina-san do meu mundo.
"Desculpe-me."
Empunhei a arma e a apontei para Nagato, que congelou no lugar. Ao ver a sua reação não consegui impedir de me sentir um criminoso, mas já vim tão longe, não há porque hesitar.
"Tudo vai voltar ao normal logo. Vamos poder ir a vários lugares novamente, comer nosso ensopado de Natal e visitar a mansão no meio da neve. Você até pode ser a grande detive dessa vez. Afinal, não vejo ninguém mais capaz do que você para resolver o casso assim que ele acontecesse, certo? Vai ser..."
"Kyon-kun! Cuidado... KYAA!!"
Assim que Asahina-san gritou, senti alguém acertar as minhas costas. Thud! Uma trombada intensa tirou o meu equilíbrio, até mesmo a sombra feita pelo poste estava se agitando. Contra a luz, em uma sombra comprida, estava a silhueta de mais uma pessoa. O quê? Quem é?
"Não vou deixar você machucar a Nagato-san!"
Virei o meu rosto sobre o ombro e vi o rosto pálido de uma garota.
Asakura Ryouko.
"Mas o que..."
Não consegui dizer mais nada, subitamente senti algo gelado penetrando o meu abdômen. Era um objeto fino que havia encontrado o seu caminho até o fundo do meu peito. Tão frio. Essa desorientação superou de longe a dor. O que está acontecendo? Como pode ser? Por que Asakura está aqui?
"Hee hee."
Para mim, aquele sorriso parecia algo macabro que havia aparecido misteriosamente em uma máscara sem expressão. Asakura recuou, puxando para fora a faca sangrenta que ela havia usado para me atacar.
Perdi completamente a força nas pernas, e acabei caindo no chão como um pião que não conseguia mais girar. Em minha frente, todo este tempo, as pernas de Nagato também cederam, caindo no chão agitadas e cheias de medo.
"Asakura...-san?
Como se cumprimentasse alegremente um conhecido, Asakura-san agitou a faca banhado no meu sangue pelo ar, dizendo;
"Olá Nagato-san. Não se preocupe, enquanto eu estiver aqui, irei eliminar qualquer um que seja uma ameaça para você. Afinal, é para isso que eu fui criada."
Asakura sorriu e continuou,
"Afinal, esse era o seu desejo, não é?"
Era uma mentira. Nagato nunca teria desejado algo assim. Ela não é do tipo que mata um pássaro só porque ele não canta como ela quer. Absolutamente não. Como Nagato começou a agir anormalmente, essa Asakura também foi recriada com um comportamento anormal, basicamente se tornando uma sombra para Nagato...
Asakura lentamente pousou sobre o meu corpo. Sua silhueta rapidamente bloqueou a lua da minha visão.
"Permita-me mandar você para uma última jornada. Se você estiver morto, tudo vai ficar bem. A culpa é sua por fazer Nagato-san sofrer, antes de mais nada. Não dói? Tenho certeza que sim. Melhor aproveitar enquanto pode, porque possivelmente é a última coisa que você vai sentir."
A faca larga levantou-se lentamente, com a sua ponta diretamente sobre o meu coração. Eu sangrava sem parar. Será que esse era o fim?... lutei para manter a mente funcionando, mas tudo ficava cada vez mais enevoado. Estava perdendo o senso de realidade. Então Asakura, sua psicopata maluca, essa é a sua missão? Ser o backup de Nagato Yuki...?
A arma começou a sua trajetória para baixo...
Em um piscar de olhos, uma mão surgiu do outro lado.
"... !!!"
Alguém havia segurado a lâmina com as mãos nuas.
"Mas o que...?"
Só com as mãos...!? Onde é que eu havia visto isso antes?
Minha visão estava cada vez mais borrada, então não conseguia ver quem era. Não havia luz o suficiente, alguém se importa em acender as lâmpadas? Ela estava contra a luz do poste, então não enxergava o seu rosto direito. Tudo que via era que era uma garota de cabelo curto... com um uniforme da Escola Secundária do Norte... sem óculos... era tudo isso que eu conseguia ver... Koizumi!... onde está o encarregado da iluminação quando se precisa dele!?
"Huh...!?"
Essa exclamação suave veio de Nagato, que estava sentada no chão ao meu lado. Seus óculos refletiam o brilho do poste, então não conseguia ver claramente o seu rosto. Será que ela estava com medo? Ou cheia de surpresa?
"Como? Mas você está...!? Por que...?"
Asakura gritou. Ela parecia estar falando com a garota que defletiu o seu ataque, mas esta permaneceu quieta e nada disse em resposta.
Podia estar imaginando coisas, mas conseguia ouvir a voz de Asahina-san bem ao meu lado.
"Me descupe... Kyon-kun, eu devia ter imaginado, mas mesmo assim..."
"Kyon-kun! Kyon-kun!... não! Você não pode!"
Haviam duas Asahina-sans. Uma era a adulta, e a outra era a jovem que eu conheço. Ambas tinham lágrimas escorrendo pelos rosto, e estavam chacoalhando o meu corpo. Ei vocês, parem com isso, dói sabia...?
... huh? O que a Asahina-san (pequena) está fazendo aqui? Até entendo que a adulta esteja aqui ao meu lado chorando, afinal ela veio comigo para cá; mas de onde essa outra
surgiu? Acho que eu entendi agora. São aquelas visões da sua vida todo que acontecem logo antes da morte...
Isso era muito mais assustador do que a dor e a sensação do sangue escorrendo sem parar do seu corpo.
Droga, eu vou morrer.
Enquanto me arrependia de não ter deixado um testamento, senti algo, ou melhor, alguém aparecer sobre mim. Aquela pessoa me ajudou a levantar e pegou a arma de Nagato que estava caída no chão.
Uma voz familiar, que não consigo discernir direito, atingiu os meus ouvidos.
"Desculpe-me. Tenho os meus motivos por não te resgatar antes, mas não me odeie por isso. Afinal, doeu tanto em mim quanto em você. Bem, vamos dar um jeito no resto. Não, na verdade já está tudo certo, sabemos o nosso papel e você sabe o seu. Agora descanse um pouco."
Do que ele está falando? E para quem? Fazer o que? E dar um jeito onde? As imagens do ataque fatal de Asakura, a tímida Nagato caída sobre os joelhos em pânico, as duas Asahina-sans e de Haruhi com um uniforme diferente, rapidamente se fundiram em minha mente, até se tornar uma única coisa indistinta.
E eu gradualmente perdi a consciência.
Tradução: kwijibo Revisão: GardenAll
Capítulo 5:
" ... "
Sinceramente, não sei o que dizer. Nagato agora virou-se para Asahina-san (grande),
"Deixe-me transmitir as coordenadas espaço temporais do alvo."
"Oh, claro."
Asahina-san (grande) colocou a sua mão para frente, como um mastife real impelido a "dar a patinha" para seu mestre.
"Vá em frente..."
Nagato suavemente tocou nas costas da mão de Asahina-san, e então recuou... o que foi isso? De todo modo, Asahina-san pareceu satisfeita.
"Eu entendo agora, Nagato-san. Tudo que precisamos é ir para lá e 'consertá-la', não? Deverá ser uma tarefa fácil, pois 'ela' não terá poder algum..."
A viajante no tempo parecia determinada com os seus punhos fechados e suspensos no ar, a alienígena então disse,
"Por favor, esperem."
Sem estar usando os seus óculos, Nagato prosseguiu,
"Neste estado, vocês também estão vulneráveis as mudanças no continuum espaço-tempo. Medidas protetivas devem ser aplicadas."
Ela esticou a sua mão em minha direção.
"Sua mão."
Para quê? Ela quer me cumprimentar? Obedientemente levantei a minha mão esquerda. Senti os dedos frios de Nagato-san segurando o meu pulso, o que fez meu coração disparar por alguns segundos.
" ... "
Nagato aproximou seu rosto resoluto do meu braço.
"Whoa!"
Eu gritei involuntariamente. Esta é uma reação inevitável, eu acho. Ajoelhando-se, Nagato não apenas tocou meu pulso levemente com os seus lábios, mas revelou todos os seus dentes. Era como nas filmagens, onde ela constantemente atacava Asahina-san e a mordia.
Não doeu. Na verdade era como aquelas mordidas não muito hostis que Shamisen me dava algumas vezes enquanto eu o acariciava. Mesmo assim, não pude deixar de achar estranho aqueles dentes caninos atravessando a minha pele, era como ser perfurado por algo, mas sem sentir dor. Acho que a saliva de Nagato tem alguma propriedade anestésica. Foi algo como ser picado por um mosquito.
Depois de morder a minha mão por uns cinco ou dez segundos. Ela lentamente levantou a cabeça.
"Apliquei uma barreira de manipulação de dados furtiva e um escudo protetor a superfície do seu corpo."
Ela falou aquilo sem ao menos corar. Por outro lado, Asahina-san (grande), estava com as mãos sobre a boca e com um olhar surpreso no rosto. Eu me sentia um pouco tonto. Olhei para o meu pulso e haviam dois pequenos buracos como uma mordida de vampiro. Eu
as observei um pouco, só para que as perfurações começassem a desaparecer sem deixar rastros. Assim como Asahina-san durante o nosso fatídico filme, meu corpo também havia sido tomado pelas nanomáquinas de Nagato.
"Você também."
Sob a ordem de Nagato, uma atemorizada Asahina-san esticou novamente a sua mão.
"... já faz tempo que você me injetou. Deve ter sido difícil para você também, no passado..."
"Essa é a primeira vez que eu a injeto."
"É claro, certo. Eu havia esquecido..."
Fechando os seus olhos com força, a viajante do tempo esticou o pulso e aceitou o beijo de batismo dado pela alienígena. O tempo que ela levou para ter as nanomáquinas inseridas em seu corpo foi menor que o meu. Uma vez que tudo acabou, ela tossiu secamente.
"Vamos Kyon-kun, o verdadeiro desafio começa agora."
Sério? Este aquecimento demorou um bocado! Novamente, eu só estou fazendo isto, pois é o meu dever narrar estes fatos para todos, mesmo contra a minha vontade.
"Obrigado."
Tentei me manter calmo enquanto agradecia a dona do apartamento. A silenciosa Nagato permaneceu inerte. Não consegui encontrar nada significativo em sua expressão. Mas por algum motivo, eu sentia que Nagato, que estava ali de pé, se sentia terrivelmente solitária. Será que o motivo era porque ela estava se sentindo sozinha como eu havia especulado?
"Nagato, nos veremos depois. Eu e Haruhi iremos chegar, apenas nos espere na sala do Clube de Literatura até lá."
Como uma boneca que subitamente ganha vida, a interface orgânica alienígena, mexeu a cabeça mecanicamente.
"Eu irei esperar."
Esta frase foi o suficiente para acender uma chama misteriosa no meu coração. Mesmo que fosse uma luz tão pequena quanto um cigarro que alguém esqueceu de apagar. Quanto eu comecei a me questionar sobre de onde aquela centelha havia vindo, Asahina-san (grande), começou a falar,
"Só para manter você mais confortável,"
Ela segurou meus ombros com força.
"Você pode fechar os seus olhos?"
Eu segui as suas instruções. Asahina-san parecia estar em minha frente, segurando as minhas mãos.
"Kyon-kun."
A sua voz era muito agradável. Será que ela iria me beijar?
"Lá vamos nós."
Por favor, continue. Você pode me beijar o quanto quiser, quanto mais apaixonado melhor. Enquanto eu me perdia em meus devaneios...
Aquela tontura dramática começou. Que bom que fechei os meus olhos. Mesmo que eles estivessem abertos, estaria tão escuro como em um blecaute. Eu me sinto como em uma montanha russa sem cintos de segurança; Não tenho certeza se o meu sangue foi para a cabeça ou simplesmente foi drenado do meu corpo. Continuei me sentindo sem peso algum. Mesmo de olhos fechados ainda me sentia desnorteado. Não perdi a consciência graças ao calor das mãos de Asahina-san.
Quanto tempo já se passou? Quantos dias ou horas? Perdi a noção de tempo e espaço. Não sei se posso aguentar muito. Asahina-san, eu me sinto enjoado...
Enquanto procurava desastradamente por algum lugar para vomitar...
"Uhm... nós chegamos."
A saudosa sensação do meu pé sobre solo firme voltou. Senti a frieza do chão passando pelas minhas meias para dentro do meu corpo. O meu senso de gravidade voltou, e como uma ilusão, meu enjôo simplesmente desapareceu no ar.
"Pode abrir os olhos agora. Graças a Deus, este é o lugar que Nagato nos passou, e no tempo certo também."
Levantei a cabeça e vi o cintilar do céu estrelado, salpicado pelas constelações de inverno. O ar estava mais limpo, e as estrelas despontavam muito mais do que no verão. Virei-me, rapidamente reconhecendo o telhado do colégio por entre as residências locais.
Olhei ao meu redor, tentando confirmar a minha localização. Mesmo no escuro, eu não podia estar enganado. Eu estava parado aqui há poucas horas atrás. Ainda lembro-me de Haruhi com seu rabo de cavalo e de Koizumi com o meu uniforme de educação física.
Esse é o lugar onde Haruhi e Koizumi se trocaram. Que coincidência, eu acho!
Que horas são agora?
Olhando para o seu relógio, Asahina-san (grande) falou comigo.
"É meia noite e quarenta e oito do dia dezoito de dezembro. Em cinco minutos, todo o mundo irá mudar."
Se contarmos de quanto eu apertei a tecla de "Enter" no dia 20 de dezembro e voltei três anos no tempo, o dia 18 seria há dois dias. Nesta manhã, eu fui para a escola como sempre, sem ter idéia do que iria acontecer, só para entrar em um estado de pandemônio completo como resultado de ver o meu colégio completamente mudado. Haruhi subitamente desapareceu, Asakura voltou; Asahina-san não me reconhecia, enquanto Nagato havia se transformado em alguém completamente diferente.
Tudo começou ali, agora estava no momento em que a transformação se consumaria. Em outras palavras, eu não consegui evitar que isso acontecesse, e é por isso que estou aqui agora.
Estava nervoso, e tremendamente ansioso com o que iria acontecer...
"Ah não! Esqueci os meus sapatos!"
Asahina-san (grande) exclamou suavemente.
Como viajamos de um ambiente interno para cá, estamos sem sapatos. Como esperado de Asahina-san, nem mesmo a passagem do tempo pode expurgar o seu jeito desastrado.
"Será que Nagato-san vai cuidar bem deles?"
Esta ansiedade de Asahina-san me aliviou do meu próprio nervosismo. Tenho certeza de que ela vai cuidar deles. Afinal, ela foi capaz de preservar um tanzaku por três anos, então não acredito que ela vai perder um par se sapatos tão facilmente. Você sempre pode voltar para o seu apartamento e checar o armário...
Enquanto calmamente pensava sobre estas coisas, um arrepio atravessou todo o meu corpo subitamente.
Era por que eu estava sem sapatos, sem mencionar que saltar do verão para um inverno gelado só faz o frio se sentir mais intenso. Imediatamente pensei em vestir a blusa que tinha em meus braços: mas percebi que Asahina-san estava tremendo com seus braços apertados ao redor do corpo. Bem, suponho que usar uma blusa fina e uma minissaia nessa temperatura só vai fazer você congelar até a morte.
"Coloque isso."
Pus a minha jaqueta sobre seus ombros agitados. Até eu estava tocado por este ato de cavalheirismo.
"Oh, obrigada. Desculpe-me por isso."
Não precisa se desculpar, não foi nada. Se você não tivesse me esperado três anos atrás, não teria chego até aqui. Só isso já é o suficiente para justificar tudo. Se necessário, tiraria todas as minhas roupas só para dar a você.
Asahina-san me deu um sorriso, que combinava perfeitamente uma beleza inocente e uma atitude sedutora. Falando sério, isto amoleceria as pernas e o coração de mais de metade da audiência.
"Está quase na hora."
Talvez exista uma vantagem em não usar sapatos, afinal não fazemos barulho andando por ai. Mesmo assim, nós não ousávamos respirar alto demais, e caminhávamos a pequenos passos até a entrada da Escola Secundária do Norte. Paramos em uma esquina e, como caçadores a espreita de sua presa, colocamos nossas cabeças para fora e olhamos para o caminho escuro a nossa frente.
Não haviam muitas luzes nesta área, então apenas havia um pequeno espaço iluminado para fora dos portões. Mesmo que fosse uma luz fraca, era fácil ver quem estava parado embaixo dela.
"Ai vem ela..."
Uma mão quente pousou em meu ombro. Conseguia sentir a respiração intensa e doce de Asahina-san entrando em meus ouvidos. Normalmente ficaria fascinado com isto, mas não acho que este seja um bom momento.
O conversor do espaço-tempo emergiu das sombras repousando na luz debaixo do poste.
Com um uniforme da Escola Secundária do Norte, era a pessoa que Nagato havia mencionado. "Aquela pessoa" era a culpada por alterar o meu mundo, separar a Brigada SOS, e transformar todos seus membros em humanos comuns. Apenas as minhas memórias permaneceram, mesmo que todo o resto do planeta tenha mudado.
Neste momento, "esta pessoa" começava a fazer o seu movimento.
Não podíamos nos apressar, tínhamos de esperar até que tudo mudasse. Esse havia sido o conselho de Nagato. Só devíamos injetar o programa de restauração após esta pessoa mudar completamente o mundo, caso contrário, o plano temporal em que eu ativei o
programa de escape nunca teria existido. Não entendo exatamente o que Nagato quis dizer com isso, mas Asahina-san parecia concordar bastante a respeito. Como as duas são grande conhecedoras do fluxo do tempo, cabe a um leigo como eu simplesmente aceitar o conselho. Aquela Nagato nunca iria mentir para mim, ela sempre esteve ao nosso lado com aquele olhar sério no rosto...
Segurei a pistola com força, e esperei em silêncio.
Andando em passos regulares, "aquela pessoa" chegou aos portões do colégio. Ela levantou a cabeça, olhando para o prédio engolido pelas sombras, e então parou.
A saia de seu uniforme se agitou com um forte sopro de vento.
Ela não parecia nos notar. Graças as nanomáquinas que Nagato nos injetou, criando uma barreira furtiva e um escudo protetor sobre nossos corpos.
"Aquela pessoa" subitamente levantou um dos seus braços e fez um gesto, como se pegasse algo no ar. Não era um movimento natural, era como se ela estivesse sendo controlada por algo, mas eu sabia que este não era o caso.
"Incrível..." - exclamou Asahina-san - "Que terremoto temporal poderoso. Ela realmente tem este tipo de poder... mesmo que eu tenha visto pessoalmente, ainda é difícil acreditar."
Eu não consegui ver coisa alguma. Os céus ainda estão escuros, e tudo parece estar no lugar, Mesmo assim, Asahina-san pareceu presenciar alguma coisa capaz de criar mudanças massivas no curso da história deste mundo. Ela vem do future, afinal de contas, então não é tão surpreendente que consiga enxergar.
Asahina-san (grande) se inclinou em minha direção. Originalmente, nós dois teríamos sido afetados por estas mudanças, mas estávamos protegidos depois da mordida de Nagato. Fiz bem em seguir este curso de ação e confiar nas duas, não acho que existam pessoas mais úteis. Porém, agora há mais uma coisa a ser feita, e não posso me dar ao luxo de estragar tudo agora.
Prendi a minha respiração quando a vi abaixando o braço e virando a cabeça em nossa direção. De inicio achei que ela tinha nos descoberto espiando, mas aparentemente só estava olhando ao seu redor.
"Não se preocupe, ela não nos percebeu. Parece-me que ela acabou de 'renascer'. O terremoto temporal já exerceu a sua alteração no mundo. Kyon-kun, é hora de agir,"
Asahina-san (grande) falou com um tom sério e rígido, dando o sinal para eu prosseguir.
Emergi das sombras em direção aos portões do colégio. Não havia porque ter pressa, ela não iria fugir para lugar algum. Como esperado, quando "aquela pessoa" me viu caminhando sob a luz do poste, ainda estava parada em frente ao portão. A única mudança visível era a expressão em seu rosto. Quando vi aquela cara cheia de surpresa, não pude evitar de ficar um pouco melancólico.
"Olá."
Eu a chamei. Como um amigo que não via há tempos, me aproximei.
"Sou eu, nos encontramos de novo."
Eu tinha sido capaz de deduzir isso pelo tom de voz de Asahina-san (grande). Das pessoas que eu conheço, ela era a única que a fazia se sentir oprimida assim - além de Haruhi, é claro. Pensando bem, depois do dia 18, mesmo que as identidades secretas dos membros da brigada tenham sumido,suas personalidades permaneceram intactas. Todas, exceto uma cujas ações, maneirismos e expressões, mudaram completamente.
Embaixo do céu escuro e nublado, com um uniforme da da Escola Secundária do Norte, esta pequena figura estava ali sem saber o que estava acontecendo. Ela não sabia porque estava ali, era como alguém que tinha sofrido uma crise de sonambulismo e só agora, depois de acordar, começou a olhar ao seu redor...
"Nagato."
Eu disse a ela,
"Isso tudo foi responsabilidade sua, não?"
Com seus óculos no rosto, era aquela Nagato. Depois do dia 18, Nagato Yuki tornara-se uma mera remanescente do Clube de Literatura. Não era mais nenhuma alienígena ou uma entidade misteriosa, apenas mais uma garota tímida e leitora ávida.
Nagato parecia cada vez mais confusa e atordoada, sem entender o que se passava ao seu redor,
"... por... por... por que você está aqui?"
"Eu iria perguntar exatamente isso, você sabe porque está aqui?"
"... estava dando uma volta,"
Nagato disse isso com os olhos arregalados. Em seu rosto os óculos refletiam timidamente as luzes do poste. Eu olhei para ela, e não pude evitar de pensar,
Não, não é bem assim, Nagato.
Ela apenas estava cansada. Tendo passado o dia sendo incomodada por Haruhi, enquanto estava ocupada salvando a minha vida, assim como secretamente planejando isso tudo pelas nossas costas - era normal que até ela se sentisse fatigada.
Há pouco tempo atrás, foi isto que Nagato me disse em seu apartamento:
"Os arquivos errôneos acumulados na base de dados de memória irão gerar uma reação anômala . Eu já havia previsto a inevitabilidade do fato. Em 18 de dezembro, três anos no futuro, eu irei reconstruir o mundo."
Ela continuou calmamente,
"Não existem contra-medidas disponíveis, porque não sabia que tais erros iriam ocorrer, e como eles se manifestariam."
Mas eu sabia.
Eu sei o motivo por trás das ações anormais e inexplicáveis de Nagato, e o motivo do acumulo de todos estes dados errôneos.
É o desejo mais básico. Mesmo para uma inteligência artificial comandada por um programa complexo, mesmo para uma andróide que nunca teve algo assim instalado. Após viver por algum tempo, é natural desenvolver este tipo de vontade. Você não irá entender isto nunca, mas eu entendo. E provavelmente Haruhi também.
Continuei a observar a expressão confusa de Nagato intrusivamente. E assim, a garota modelo do Clube de Literatura tornava-se cada vez menos confortável com a situação. Vendo o quão indefesa ela parecia, não pude evitar de gritar dentro de mim; Nagato! Isso é o que chamamos de emoções!
Isso é porque você não foi projetada para ter emoções, assim esta reação foi ainda mais intensa. Você provavelmente queria gritar, enlouquecer ou simplesmente gritar bem alto; Sua garota estúpida! Eu já cansei de aturar você! Certo? Não, ela não consegue pensar deste modo, o que é bem fácil de se entender. Suas ações devem ser perdoadas, até porque eu
mesmo sou parcialmente responsável por isto; afinal, me tornei excessivamente dependente dela, e me acostumei em deixar que ela cuidasse de tudo. Sempre pensei que, enquanto ela estivesse ajudando, eu poderia desligar o meu cérebro e ficar tranquilo. Sou um grande idiota, até maior do que Haruhi. Então, não tenho o mínimo direito de condena-la por nada.
Esse foi o motivo que levou Nagato - esta garota aqui - inventar esta idéia estúpida de mudar o mundo.
Essa foi uma reação anômala ou um erro de programação?
Não é nada disso, não sejam tão incômodos.
Esse era apenas o desejo de Nagato - um mundo normal como este.
Ela apenas preservou as minhas memórias, enquanto alterou a de todos os outros, incluindo a sua própria.
E é agora que eu entendia a pergunta que havia me intrigado tanto nos últimos dias.
Por que eu fui o único que não foi afetado?
A resposta era simples. É porque ela queria que eu fizesse esta escolha.
O mundo alterado é melhor? Ou o original é melhor? Dentro do seu roteiro bem construído, a decisão final era minha
"Droga."
Pro inferno com as escolhas! Eu nunca tive uma de verdade!
Se eu apenas quisesse a Brigada SOS, então eu não precisaria voltar. Afinal, poderíamos começar de novo no mundo alterado. Haruhi e Koizumi podiam estar em outro colégio, mas não seria realmente um impedimento. Podemos muito bem tratar isso como um hobby extra-curricular. Esse cube misterioso se encontraria no café de sempre. Enquanto Haruhi pensaria em todo o tipo de coisas absurdas, Koizumi estaria sempre sorrindo; Asahina-san viveria em um estresse constante, e eu reclamaria de tudo isso com uma careta no rosto... a imagem dessa cena flutuou em minha mente. Nagato provavelmente estaria confusa também, mas mesmo assim ela ficaria em silêncio lendo o seu livro. Mas mesmo assim...
Essa não seria a Brigada SOS que eu conheço! Nagato não é uma alienígena, Asahina-san não veio do futuro, Koizumi é apenas um estudante comum, e Haruhi não tem poder sobrenatural algum. Seria um clube simples, normal e feliz.
Mas eu estou contente com isso? Não deveria ser ainda melhor?
Como eu pensei nisso? Não sou eu que constantemente reclama das constantes confusões de Haruhi que desafiam todo o senso comum?
Que saco.
Chega de tudo isso!
Você é idiota por acaso!?
Já cansei de você!
" ... "
Meu coração estava doendo
Um estudante normal que era forçado em diversas situações bizarras, constantemente reclamando para Haruhi, mas que mesmo assim sobrevivia para contar a história. Este é o papel que eu venho desempenhando.
E agora!? Sim, Kyon! Estou falando com você! Estou fazendo um questionamento importante, então escute com cuidado e responda. Você não pode fugir. Só um "sim" ou "não" já é o suficiente. Agora, feche a boca e escute, ai vem a pergunta:
Você acha essa divertida essa vida escolar estranha e extraordinária?
Pare de enrolar e responda, Kyon! Pense bem. E então? Poderia dizer o que você acha disso tudo, afinal? Não fique postergando e me diga. Em um mundo onde eu sou constantemente arrastado em círculos por Haruhi; atacado por alienígenas; ouço as teorias bizarras sobre viagem no tempo; faço questionamentos filosóficos com um esper; fico preso em uma dimensão paralela onde gigantes destroem tudo em sua frente; vivo com um gato que fala; salto incompreensivelmente pelo tempo; sem mencionar que tenho que seguir a ordem estrita de não deixar que Haruhi saiba nada disso, permitindo que a comandante da Brigada SOS continue alegremente pela sua busca pelo sobrenatural, mesmo que no final ela apenas esteja inconsciente da bagunça que está causando.
Você não acha um mundo assim interessante?
Ou você acha que isso é apenas um incomodo, e só quer dizer para ela que já chega? Afinal, você sempre diz que ela é uma idiota e tem a vontade de ignora-la para sempre. Bem, não é isso? Não é verdade? Em outras palavras, o que realmente você pensa?
Aquele outro mundo não é nem um pouco interessante.
Você tem certeza? De acordo com você, Haruhi é uma garota extremamente idiota que só atrapalha a sua vida pacífica. Não importa o tipo de idéia absurda que ela tem, você acaba sempre se sentindo deprimido. É claro que você não acha um mundo desses divertido. E não ouse dizer que eu estou mentindo! Você sabe a verdade.
Mas mesmo assim, na realidade você secretamente gosta de tudo isso. Pois o mundo é realmente um lugar interessante.
Você me pergunta por que eu acho isso?
Então deixe me dizer porquê.
Você não apertou a tecla "Enter"?
Você sabe, aquela que ativava o programa de escape de emergência que Nagato deixou para você.
Você está pronto?
A resposta que dei para esta pergunta foi um resoluto "sim".
Eu estou certo?
A nossa grande deusa Nagato foi tão longe a ponto de criar um mundo estável para você, e você declina sua oferta assim? Desde que você conheceu Suzumiya Haruhi em abril, você tem tratado aquela idiota como algo certo na sua vida. Você até mesmo quer voltar para aquele mundo louco onde existem alienígenas, espers e viajantes do tempo atravessando a escola livremente. E por que isso? Não é você que está se lamentando o tempo todo por ser tremendamente azarado?
Se esse fosse o caso, por que você não ignorou o programa de escape? Ao escolher ficar naquele mundo normal você iria conhecer Haruhi, Asahina-san, Koizumi e Nagato como pessoas comuns, e viver uma vida feliz sob a liderança de Haruhi. E como ela não tem poder algum, você simplesmente poderia dar adeus para todas as suas experiências surreais que vem ao seu encontro.
Naquele mundo Haruhi seria apenas uma garota comum que tem sérias tendências autoritárias; Asahina-san não mais teria a propriedade de viajante do tempo, mas mesmo assim continuaria a ser a nossa personagem bonitinha; Koizumi seria um rapaz normal sem nenhum apoio de uma "Organização" misteriosa; e, por fim, Nagato seria uma menina tímida, humilde e fanática por leitura, sem precisar carregar o peso de poderes incríveis e responsabilidade de observar ou proteger algo. Claro que, na maior parte do tempo, ela permaneceria sem expressão, mas ocasionalmente iria rir de alguma piada estúpida, e então corar furiosamente. Quem sabe, ela podia ser uma pessoa daquelas que se abrem lentamente quando se passa algum tempo com elas.
E, mesmo assim, você renega uma vida tão ilídica.
Por que isso?
Vou perguntar uma última vez. Me responda com sinceridade.
Você acha Haruhi, a garota problemática, e todos os eventos terríveis que ela causa, algo interessante? Desembuche!
"É claro que eu acho."
Tive de responder assim,
"Não é preciso sem nenhum gênio para perceber que é algo divertido. Não me pergunte mais uma coisa trivial dessas."
Se alguém me dizer que não acha algo incrível, então esta pessoa será um grande imbecil. Sua mente deve ser umas trinta vezes mais perturbada que a de Haruhi.
Quero dizer, tem alienígenas, viajantes no tempo e pessoas com poderes psíquicos bem ao nosso redor!
Só um deles já seria o suficiente para deixar as coisas interessantes, mas temos três personagens fantásticos de uma só vez! E ainda podemos incluir Haruhi, uma força poderosa prestes a explodir. É claro que, com isso, eu nunca mais vou ficar entediado na vida. Se alguém fizesse alguma objeção a respeito, pode ter certeza que eu iria bater nesta pessoa até não sobrar mais nada.
"Então é assim?"
Respondi para mim mesmo. Pode-se dizer que eu alcancei uma revelação.
"Ainda prefiro o mundo original. Este aqui não é adequado para mim. Desculpe, Nagato. Prefiro a sua versão antiga do que esta presente. Além do mais, gosto muito mais de você sem os óculos,"
Esta Nagato me olhou com um olhar extremamente confuso,
"Do que você está falando...?"
A Nagato Yuki que eu conheço nunca diria algo assim.
Esta garota não tem conhecimento do que vai ocorrer em três dias, quando eu descobri que havia algo de errado. Mas era de se esperar, pois esta Nagato acabou de surgir no mundo, e nunca me encontrou antes. Ela não se lembra do choque que foi me ver invadindo a sala do Clube de Literatura.
A única memória que esta Nagato tinha era a lembrança fabricada sobre a biblioteca. Além desta, a memória que dividimos agora é de tudo que ocorreu depois da mudança no mundo agora há pouco.
Há meses atrás, eu fiquei preso em um Espaço Restrito cinzento ao lado de Haruhi. De acordo com Koizumi, este era um novo mundo criado por ela.
Nagato provavelmente usou este poder. De algum modo, ela conseguiu replicar ou roubar este poder de Haruhi e o usou para gerar este mundo.
Com certeza este é um poder conveniente. Não importa quem seja, todos já tivemos a vontade de começar tudo do zero, ou voltar a algum momento e mudar as coisas para melhor.
Mesmo assim, uma pessoa comum nunca iria ter um desejo assim realizado. É até melhor desistir desse tipo de pensamento. Eu mesmo não queria começar de novo, e é por isso que voltei daquele mundo cinzento que Haruhi criou.
Este incidente causou a transferência deste poder praticamente divino de Haruhi para Nagato. A primeira nem ao menos percebeu alguma coisa, enquanto isso a segunda perdeu o controle e decidiu mudar o planeta.
"Nagato."
Andei até a figura tensa e nervosa que estava ali parada. Nagato permaneceu imóvel e olhava de volta para mim.
"Não importa quantas vezes eu tenha que dizer isso, a resposta será sempre a mesma. Por favor, faça tudo voltar ao normal, incluindo você. Vamos viver para lutar outro dia na sala de nosso clube. Se você precisar, estarei lá para você. Ultimamente Haruhi não tem enlouquecido sem motivo, então não tem porque você usar um poder nocivo assim para mudar o mundo à força. Só mantenha as coisas como eram."
Os olhos sob os óculos emanavam um sentimento de pavor.
"Kyon-kun..."
Asahina-san segurou a manga da minha blusa e disse,
"Não adianta explicar nada para esta Nagato-san. Ela também mudou. No momento, ela é só uma garota normal sem poder algum..."
Subitamente pensei em uma coisa.
A Haruhi de cabelos longos que me chamava de John. Sem nenhum poder divino ou demoníaco, ela era apenas uma colegial comum que invadiu a minha escola sem nenhum sinal de hesitação. Seus olhos brilhavam enquanto eu contava minha história sobre a Brigada SOS, exclamando, "Isso parece divertido!"
Com um sorriso largo no rosto o tempo todo, aquele Koizumi disse que gostava de Haruhi. Vestindo o meu uniforme de educação física, o estudante modelo fazia todo o tipo de expressões complicadas.
Me entregando um convite para o Clube de Literatura, esta Nagato de óculos discutia a sua memória fabricada comigo. Seu sorriso era como o nascer no sol no horizonte, não posso deixar de sentir a vontade de ver aquele sorriso novamente.
Percebi que nunca mais veria essas pessoas. Para ser honesto, eu sentirei a falta deles. É triste pensar que são existências fabricadas. Eles não são as pessoas que eu conheço. É uma pena que não terei a chance de me despedir deles, mas já tomei uma decisão. Quero voltar para a Haruhi, Koizumi, Nagato e Asahina-san do meu mundo.
"Desculpe-me."
Empunhei a arma e a apontei para Nagato, que congelou no lugar. Ao ver a sua reação não consegui impedir de me sentir um criminoso, mas já vim tão longe, não há porque hesitar.
"Tudo vai voltar ao normal logo. Vamos poder ir a vários lugares novamente, comer nosso ensopado de Natal e visitar a mansão no meio da neve. Você até pode ser a grande detive dessa vez. Afinal, não vejo ninguém mais capaz do que você para resolver o casso assim que ele acontecesse, certo? Vai ser..."
"Kyon-kun! Cuidado... KYAA!!"
Assim que Asahina-san gritou, senti alguém acertar as minhas costas. Thud! Uma trombada intensa tirou o meu equilíbrio, até mesmo a sombra feita pelo poste estava se agitando. Contra a luz, em uma sombra comprida, estava a silhueta de mais uma pessoa. O quê? Quem é?
"Não vou deixar você machucar a Nagato-san!"
Virei o meu rosto sobre o ombro e vi o rosto pálido de uma garota.
Asakura Ryouko.
"Mas o que..."
Não consegui dizer mais nada, subitamente senti algo gelado penetrando o meu abdômen. Era um objeto fino que havia encontrado o seu caminho até o fundo do meu peito. Tão frio. Essa desorientação superou de longe a dor. O que está acontecendo? Como pode ser? Por que Asakura está aqui?
"Hee hee."
Para mim, aquele sorriso parecia algo macabro que havia aparecido misteriosamente em uma máscara sem expressão. Asakura recuou, puxando para fora a faca sangrenta que ela havia usado para me atacar.
Perdi completamente a força nas pernas, e acabei caindo no chão como um pião que não conseguia mais girar. Em minha frente, todo este tempo, as pernas de Nagato também cederam, caindo no chão agitadas e cheias de medo.
"Asakura...-san?
Como se cumprimentasse alegremente um conhecido, Asakura-san agitou a faca banhado no meu sangue pelo ar, dizendo;
"Olá Nagato-san. Não se preocupe, enquanto eu estiver aqui, irei eliminar qualquer um que seja uma ameaça para você. Afinal, é para isso que eu fui criada."
Asakura sorriu e continuou,
"Afinal, esse era o seu desejo, não é?"
Era uma mentira. Nagato nunca teria desejado algo assim. Ela não é do tipo que mata um pássaro só porque ele não canta como ela quer. Absolutamente não. Como Nagato começou a agir anormalmente, essa Asakura também foi recriada com um comportamento anormal, basicamente se tornando uma sombra para Nagato...
Asakura lentamente pousou sobre o meu corpo. Sua silhueta rapidamente bloqueou a lua da minha visão.
"Permita-me mandar você para uma última jornada. Se você estiver morto, tudo vai ficar bem. A culpa é sua por fazer Nagato-san sofrer, antes de mais nada. Não dói? Tenho certeza que sim. Melhor aproveitar enquanto pode, porque possivelmente é a última coisa que você vai sentir."
A faca larga levantou-se lentamente, com a sua ponta diretamente sobre o meu coração. Eu sangrava sem parar. Será que esse era o fim?... lutei para manter a mente funcionando, mas tudo ficava cada vez mais enevoado. Estava perdendo o senso de realidade. Então Asakura, sua psicopata maluca, essa é a sua missão? Ser o backup de Nagato Yuki...?
A arma começou a sua trajetória para baixo...
Em um piscar de olhos, uma mão surgiu do outro lado.
"... !!!"
Alguém havia segurado a lâmina com as mãos nuas.
"Mas o que...?"
Só com as mãos...!? Onde é que eu havia visto isso antes?
Minha visão estava cada vez mais borrada, então não conseguia ver quem era. Não havia luz o suficiente, alguém se importa em acender as lâmpadas? Ela estava contra a luz do poste, então não enxergava o seu rosto direito. Tudo que via era que era uma garota de cabelo curto... com um uniforme da Escola Secundária do Norte... sem óculos... era tudo isso que eu conseguia ver... Koizumi!... onde está o encarregado da iluminação quando se precisa dele!?
"Huh...!?"
Essa exclamação suave veio de Nagato, que estava sentada no chão ao meu lado. Seus óculos refletiam o brilho do poste, então não conseguia ver claramente o seu rosto. Será que ela estava com medo? Ou cheia de surpresa?
"Como? Mas você está...!? Por que...?"
Asakura gritou. Ela parecia estar falando com a garota que defletiu o seu ataque, mas esta permaneceu quieta e nada disse em resposta.
Podia estar imaginando coisas, mas conseguia ouvir a voz de Asahina-san bem ao meu lado.
"Me descupe... Kyon-kun, eu devia ter imaginado, mas mesmo assim..."
"Kyon-kun! Kyon-kun!... não! Você não pode!"
Haviam duas Asahina-sans. Uma era a adulta, e a outra era a jovem que eu conheço. Ambas tinham lágrimas escorrendo pelos rosto, e estavam chacoalhando o meu corpo. Ei vocês, parem com isso, dói sabia...?
... huh? O que a Asahina-san (pequena) está fazendo aqui? Até entendo que a adulta esteja aqui ao meu lado chorando, afinal ela veio comigo para cá; mas de onde essa outra
surgiu? Acho que eu entendi agora. São aquelas visões da sua vida todo que acontecem logo antes da morte...
Isso era muito mais assustador do que a dor e a sensação do sangue escorrendo sem parar do seu corpo.
Droga, eu vou morrer.
Enquanto me arrependia de não ter deixado um testamento, senti algo, ou melhor, alguém aparecer sobre mim. Aquela pessoa me ajudou a levantar e pegou a arma de Nagato que estava caída no chão.
Uma voz familiar, que não consigo discernir direito, atingiu os meus ouvidos.
"Desculpe-me. Tenho os meus motivos por não te resgatar antes, mas não me odeie por isso. Afinal, doeu tanto em mim quanto em você. Bem, vamos dar um jeito no resto. Não, na verdade já está tudo certo, sabemos o nosso papel e você sabe o seu. Agora descanse um pouco."
Do que ele está falando? E para quem? Fazer o que? E dar um jeito onde? As imagens do ataque fatal de Asakura, a tímida Nagato caída sobre os joelhos em pânico, as duas Asahina-sans e de Haruhi com um uniforme diferente, rapidamente se fundiram em minha mente, até se tornar uma única coisa indistinta.
E eu gradualmente perdi a consciência.
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