terça-feira, 4 de junho de 2013

Suzumiya Haruhi no Yuuutsu - V.04 / Cap.06

O Desaparecimento de Suzumiya Haruhi [Download]
Tradução: kwijibo Revisão: GardenAll
Capítulo 6:
Swish, swish...
Um som cortante atravessou os meus ouvidos.
Lentamente fui recuperando a minha consciência do meio das trevas, minha mente então começou a pensar lentamente, como se estivesse sob uma forte anestesia.
Talvez tenha sido um sonho. Mas pelo que me lembro, parecia ter sido um sonho realmente interessante. Geralmente, quando você acorda, passa uns cinco minutos se ponderando sobre o quão incrível foi seu sonho, só para que os seus detalhes comecem a se desvanecer enquanto você escova os dentes ou toma café, e lá pelo fim da manhã você já se esqueceu dele completamente. Quando você percebe, a única coisa que resta é a impressão de que "era um sonho realmente interessante". Quem nunca passou por isso várias vezes?

Tem também aqueles sonhos que dificilmente são interessantes, mas que seus detalhes ficam impressos claramente em nossas mentes, e isso geralmente perdura um bocado de tempo. Talvez estas experiências sejam comparadas a este tipo de sonho, como da vez em que fiquei preso com Haruhi na dimensão restrita, algo que realmente aconteceu, mas subconscientemente tenho o tratado como não existente.
Essa era a primeira coisa que me veio a mente quando abri os olhos.
O teto era branco; claramente eu não estava em meu quarto. O translúcido brilho alaranjado do sol tingia as paredes, que eram tão brancas quanto o teto, formando todos os tipos de cores. Perguntava-me se era um amanhecer ou o crepúsculo.
"Ora ora."
Para uma mente que estava apenas começando a clarear, esta voz soava tão bem quanto o dobrar dos sinos de uma igreja para um fanático religioso.
"Parece-me que você finalmente acordou. Você parecia estar bastante confortável ai."
Virei a minha cabeça para encontrar o dono da voz. Ele estava sentado em uma cadeira próxima a cama, usando uma faca de cozinha para picar uma maçã em suas mãos. Swish swish - a casca se soltava suavemente da fruta, ficando suspensa no ar.
"Normalmente eu diria bom dia, mas não seria apropriado para um pôr-do-Sol.
Koizumi Itsuki revelou um sorriso gentil.
Koizumi colocou as fatias de maçã em uma bandeja e as deixou sobre um criado mudo. Tirando outra maçã de dentro de uma sacola, ele continuou com um sorriso;
"Graças a deus você acordou. Eu não tinha idéia do que faríamos. Ah... você parece bastante confuso. Está me reconhecendo?"
"Eu iria perguntar a mesma coisa. Você sabe quem eu sou?"
"Que pergunta estranha. É claro que sim."
Era fácil dizer qual Koizumi este era só de olhar para o seu uniforme.
Ele estava com um uniforme azul marinho, não o gakuran preto.
Era o uniforme da Escola Secundária do Norte.
Um dos meus braços estava para fora do cobertor. Presa a uma bolsa de soro cheia de um liquido transparente. Olhei para aquela coisa e perguntei;
"Que dia é hoje?"
Koizumi revelou uma expressão, que ao menos para ele, denotava surpresa.
"Essa é a primeira coisa que você pergunta depois de acordar? Parece-me que você tem noção da sua própria situação. A resposta para sua pergunta é: agora são um pouco depois das cinco da tarde do dia 21 de dezembro."
"Dia 21, huh..."
"Sim, se passaram três dias desde que você entrou em coma."
Três dias? Coma?
"Que lugar é esse?"
"Um hospital particular."
Olhei ao meu redor. Era um impressionante quarto particular e individual, e eu estava dormindo em uma cama. Para pagar um quarto desses, a minha família deve ser bastante rica, e eu nunca havia percebido.
"Um amigo do meu tio é o dono do hospital, então conseguimos um tratamento especial para você."
Bem, parece-me que a minha família não é tão rica assim afinal.
"Bem, graças a intervenção da 'Organização', você poderia ficar aqui por um ano sem pagar praticamente nada, e sem que ninguém fizesse perguntas. Dito isso, fico aliviado que você só demorou três dias para acordar. Não, não tem nada a ver com o dinheiro. Meus superiores quase me mataram por deixar que algo desse tipo acontecesse sob dos meus cuidados, eu até tive de escrever uma carta pedindo desculpas."
Três dias atrás era dia 18. O que eu estava fazendo naquele dia? ... ah, eu me lembro. Estava a beira da morte por causa de uma hemorragia, então devem ter me internado... espera, isto não parece estar certo.
Ansiosamente, olhei para o avental hospitalar que eu estava vestindo, e coloquei minha mão sobre o meu abdômen.
Não sentia absolutamente nada. Normalmente uma ferida iria estar dormente, mas nem ao menos coçava. É impossível se curar de um ferimento assim em apenas três dias, só se me costuraram no momento em que eu me feri.
"Qual foi o motivo que me levou a ser internado? Foi por causa do meu coma?"
"Então você esqueceu? Bem, não posso te culpar, afinal você levou uma bela batida em sua cabeça."
Eu toquei o meu couro cabeludo, mas não achei nenhum curativo ou algo assim, só o meu cabelo.
"O mais incrível foi você não ter sofrido nenhum dano externo ou sangramento interno. Seu cérebro estava bem, o que foi uma grande surpresa para os médicos, ninguém sabia o que havia de errado com você."
"Mas..."
Koizumi continuou.
"Todos nós vimos você cair das escadas. Parecia ter sido algo horrível na hora. Sendo honesto, acho que ficamos completamente pálidos na hora. O barulho da queda foi tão ruim que não nos surpreendemos que você estivesse inconsciente. Você quer mais detalhes do que aconteceu?"
"Vá em frente."
De acordo com ele, eu estava descendo as escadas do prédio velho, e talvez tenha tropeçado em algo. Eu simplesmente rolei escada abaixo e dei com a cabeça no chão. Bam! Então não me mexi mais.
A maneira que Koizumi explicou dava a impressão de que realmente havia acontecido.
"As coisas ficaram bastante caóticas depois disso. Tivemos de chamar a ambulância e te levar inconsciente para o hospital. O rosto de Suzumiya-san estava completamente branco, foi a primeira vez que a vi assim. Ah, quem chamou a ambulância foi Nagato-san. Acho que a calma dela salvou a sua vida."
"E como Asahina-san reagiu?"
Koizumi deu de ombros e disse;
"Provavelmente da maneira que você imaginou. Ela ficou te segurando, enquanto chorava chamando o seu nome."
"Que horas do dia 18 isso aconteceu? E em que escada?"
Disparei as minhas perguntas sem descanso, afinal dia 18 foi o dia em que o mundo mudou drasticamente e eu entrei em pânico.
"Você esqueceu disso também? Foi um pouco depois da reunião da Brigada SOS durante a tarde. Aconteceu quando nós cinco iramos sair para comprar algumas coisas."
Comprar o que?
"Você também não se lembra disso? Tem certeza de que não está fingindo a sua amnésia?"
"Não importa, apenas continue."
O sorriso de Koizumi se tornou mais gentil.
"A pauta da reunião, hmm, eram os planos para o dia de Natal. Suzumiya-san disse que haveria uma festa para as crianças perto da sua casa, e que a Brigada SOS poderia se apresentar lá. Assim a fantasia de Asahina-san teria alguma utilidade. Ela se vestiria de Papai Noel e entregaria presentes as crianças. Um alegre evento organizado por Suzumiya-san."
Ai vamos nós de novo; ela é tão impulsiva!
"Bem, não seria realista o suficiente ter apenas um Papai Noel. Então, Suzumiya-san decidiu que um dos membros se vestiria de rena e carregaria Asahina-san para o palco. No final fizemos um sorteio... e imagine quem foi o sortudo vencedor? Lembra-se agora?"
Não tinha a mínima lembrança de nada. Se alguém conseguir se lembrar de algo que nem ao menos faz parte de sua memória, então posso dizer que ele é um mentiroso impecável, ou simplesmente precisa ser internado em outro tipo de hospital. Mas acho que é inútil explicar isso para Koizumi.
"Não importa, só saiba que você foi o escolhido. Como tínhamos de arranjar uma fantasia de rena para você, fomos comprar alguns materiais, e foi bem nesta hora que você caiu."
"Acho que isso me pareceu bastante estúpido, até mesmo para os meus padrões."
Ouvindo-me dizer isso, Koizumi levantou as sobrancelhas.
"Como você estava para trás, ninguém viu como você caiu. Só vimos você caindo ao nosso lado, bem assim." - Koizumi demonstrou isso, deixando a maçã cair desastradamente de sua mão direita e a pegando com a esquerda - "Você basicamente rolou pela escada."
Koizumi continuou a descascar as maçãs.
"Fomos até lá rapidamente, mas você já estava imóvel. Suzumiya-san disse que ela acha que havia mais alguém no topo das escadas, e que havia visto a saia de alguém se mexendo lá em cima, mas que logo em seguida desapareceu. Também achei meio estranho, então fui checar estas informações, mas descobri que não havia ninguém lá além de nós. Até Nagato-san não sabia de nada. Se havia alguém ali, simplesmente desapareceu como um fantasma. Estivemos esperando você acordar esse tempo todo, para que pudéssemos perguntar quem havia feito isso com você..."
Não me lembro de nada. Naquele momento, tinha certeza que era a melhor resposta. Foi um acidente comum. Eu fui descuidado, azar o meu. Vamos deixar as coisas assim.
"Só você veio me visitar?"
Onde está Haruhi? Eu queria perguntar isso, mas não tive coragem. Koizumi deu uma risada leve e disse;
"Você esteve olhando ao seu redor o tempo todo. Está procurando por alguém? Não se preocupe, estamos alternando em quem cuida de você. Antes de você acordar, sempre havia alguém ao seu lado. Por sinal, esta quase hora de Asahina-san chegar."
Estava desconfortável com o olhar de Koizumi; parecia aqueles sujeitos surpresos com um amigo que acreditou em uma piada de primeiro de abril. O que ele estava insinuando?
"Oh, nada. Só estava com inveja de você. Considere este olhar como um de inveja."
O que você está dizendo por um cara que foi internado por bater a cabeça?
"Enquanto nós, membros comuns, tínhamos de dividir turnos para cuidar de você, a comandante achou que era parte de sua responsabilidade zelar pela segurança de seus membros..."
Koizumi elegantemente descascou a maçã e a cortou em um formato de coelho, a colocando logo em seguida sobre a bandeja.
"Suzumiya-san esteve aqui o tempo todo, ela não saiu deste lugar nos últimos três dias."
Virei para o outro lado da cama, para onde Koizumi estava apontando.
" ... "
E ali estava ela.
Completamente envolta em um saco de dormir, ali estava Haruhi, sua boca estava levemente aberta enquanto ela dormia profundamente.
"Estávamos todos preocupados com você, tanto eu quanto ela."
Isso soou muito dramático; até parece uma fala de novela.
"Você devia ter visto o quão nervosa Suzumiya-san ficou... mas deixaremos isso para outra hora. Afinal, você não tem que fazer algo agora?"
Por que todo mundo fica me dando ordens!? Primeiro era Asahina-san (grande), agora é o Koizumi... mas eu não os culpo. E também não dou a mínima se essas maçãs que ele cortou forem uma oferenda pra alguma divindade.
"É mesmo." - eu disse.
Realmente me deu vontade de desenhar algo na cara dela. Mas deixa para próxima, quando eu tiver mais tempo para isso.
Sentei sobre a cama, esticando o braço para tocar aquele rosto que parecia visivelmente irritado.
Seu cabelo ainda não estava longo o suficiente para um rabo de cavalo, o que me deu um pouco de saudades da sua versão alterada. Como se me provocasse, aquele seu cabelo escuro começou a se mover.
Haruhi havia acordado.
"...uhm ...hmmm?"
Haruhi deixou escapar um leve gemido enquanto se esforçava para abrir os olhos, e demorou algum tempo para perceber que havia alguém apertando o seu rosto...
"AH!?"
Ela tentou saltar para cima, mas falhou miseravelmente ao esquecer que havia se fechado dentro do saco de dormir. Então, rolando e se arrastando como uma sanguessuga, Haruhi eventualmente conseguiu se soltar, prontamente apontando para mim e me amaldiçoando para o resto da eternidade.
"Droga Kyon! Você não podia me avisar antes de me acordar!? Eu não estava mentalmente preparada!"
Acho que isso é impossível, sabe? Mas ver você assim gritando e reclamando é mais eficiente do que qualquer remédio para mim.
"Haruhi."
"O quê?"
"Limpe a sua baba."
Haruhi contorceu o seu rosto por alguns momentos, limpando rapidamente a boca com as mãos, me olhando visivelmente enraivecida.
"Você... você não desenhou nada na minha cara, não é?"
Eu fiquei tentado, admito.
"Hmph. Você não tem nada a dizer?"
Dei a resposta que ela devia estar esperando,
"Desculpe-me por fazer você se preocupar."
"Bem, fico feliz que você se sinta assim. Afinal, zelar pelo bem estar de toda a brigada é uma das grandes responsabilidades de um comandante!"
Havia um terceiro visitante me observando ao lado da porta.
"Ah, ahhh, aaaahhhh..."
Ela começou a fazer uma série de sons frenéticos. Ali, parada com um vaso em mãos, não estava ninguém menos do que a segundo anista do colégio do Norte, uma estudante de cabelos longos, um rosto puro e infantil, e um corpo delgado porém bem desenvolvido.
"Ei... Asahina-san, olá."
Não sei se deveria dizer algo como "Há quanto tempo!", porque pelo menos para mim não foi assim.
"Sniff..."
As lágrimas tomaram o rosto de Asahina-san,
"Graças a Deus... oh... graças a Deus..."
Eu queria abraça-la como da última vez, e acho que ela estava pensando a mesma coisa. Mesmo assim, ela parecia ter esquecido de colocar o vaso de lado e simplesmente estava ali, parada e chorando.
"Você não está exagerando um pouco? Ele só bateu a cabeça e desmaiou. Eu sabia desde o início que ele não podia ficar dormindo para sempre."
Um senso de agradecimento podia ser encontrado na voz de Haruhi, ela então continuou mesmo sem olhar para mim.
"Como eu disse, a Brigada SOS funciona 365 dias por ano, sem descanso. Ninguém é autorizado a tirar um dia de folga. Não vou aceitar uma desculpa boba como bater a cabeça e entrar em coma só para escapar das atividades, nunca mesmo. Você entende, Kyon? O preço de ficar fora de serviço por três dias é bastante alto. Haverão punições! Não uma punição normal, mas uma extra especial dobrada sobre a anterior!"
Koizumi começou a rir, Asahina-san molhava o chão com as suas lágrimas gigantescas, enquanto Haruhi virou o rosto para longe. O que alguém poderia facilmente interpretar como irritação, mas não era bem assim.
Olhei para eles e concordei com a cabeça, então dei de ombros.
"Tudo bem, incluindo a punição extra, o quanto eu vou ter que pagar?"
Haruhi olhou para mim, seu sorriso estava tão brilhante que era difícil acreditar que ela estava irritada a segundos atrás. Ela é uma garota muito simples afinal de contas.
No final, foi decidido que eu teria de pagar a conta de todos no café por três dias consecutivos. Eu pensava quando é que eu teria de acabar com as minhas economias...
"Mais uma coisa..."
Tem mais?
"Sim, você ainda não compensou por todo o trauma que você nos causou. Ah sim, Kyon, para a festa de Natal você irá se vestir de rena e terá de mostrar alguns truques fantásticos para nós. E fará isso até deixar todos nós gargalhando! Se você for chato demais, juro que vou chutar você para outra dimensão! A mesma coisa vale para a festa das crianças, você ouviu!?"
Com um olhar brilhante como a luz que atravessa um prisma, mais uma vez, Haruhi começara a disparar ordens para mim.
Mesmo que eu estivesse acordado, não significava que eu poderia ser liberado logo de cara. Depois de uma outra consulta médica, tive de fazer todo o tipo de exames em máquinas absurdas. Foi uma complicação tão grande que parecia que eles queriam me transformar em um ciborgue ou coisa do tipo. Depois de passar o dia todo em consultas, eu
teria de passar a noite no hospital mais uma vez. Apesar de que no meu ponto de vista, esta seria a minha primeira noite. Como nunca estive em um hospital assim, era melhor aproveitar a experiência.
Haruhi, Koizumi e Asahina-san estavam de saída quando a minha mãe e minha irmã chegaram para me visitar. Haruhi falou com elas de forma extremamente polida, eu não sabia que ela conseguia ser tão educada, o que de certa forma foi uma surpresa.
Passei a noite ocupado conversando com a minha mãe e a minha irmã, porém a minha mente estava ocupada com outros tipos de pensamentos
Se as coisas tivessem continuado do jeito que estavam, o que teria acontecido? Nagato, Koizumi e Asahina-san seriam pessoas normais sem poderes sobrenaturais ou algo parecido. Nagato seria a tímida estudante do Clube de Literatura, Asahina-san seria apenas uma veterana inalcançavel e Koizumi seria um estudante transferido comum em outra escola.
E Haruhi provavelmente seria uma só garota excêntrica e constantemente irritada.
Talvez uma história interessante pudesse surgir neste cenário. Sem a pretensão de descobrir a verdade sobre o mundo ou de consertar as mudanças que aconteceram. Seria uma história normal, sem elos com este mundo disfuncional e estranho em que vivemos.
Mas eu, provavelmente, não teria lugar nesta história. Tudo que eu poderia fazer é viver pacificamente a minha vida e me formar sem maiores incidentes.
Em que mundo eu estaria mais feliz?
Acho que é uma resposta muito fácil de se dar agora.
Só poderia ser feliz "neste mundo". Se não, porque mais arriscaria a minha vida para voltar para cá?
E você? Que mundo você escolheria? Acho que a resposta é bastante óbvia. Ou sou só eu que penso assim?
Depois que a minha família foi embora e que as luzes se apagaram, a única coisa que pude fazer era olhar para o teto. Como não tinha nada mais interessante para fazer, decidi fechar os meus olhos.
Nos últimos três dias, neste mundo é claro, passei o tempo todo dormindo.
Neste caso...
Se o mundo ficou assim, quer dizer que ele foi alterado.
Este mundo mudou duas vezes. O mundo distorcido que Nagato criou voltou ao seu estado natural. Então quem fez a segunda mudança?
Não pode ter sido Haruhi. Nestes três dias ela não tinha nenhum tipo de poder, enquanto a Haruhi deste mundo nem mesmo teve consciência de que o mundo mudou.
Então, quem pode ter sido?
Salvando a minha vida ao parar a lâmina de Asakura com as mãos vazias, só havia uma pessoa no mundo que poderia ter feito algo assim...
Nagato.
Neste raciocínio, antes que eu perdesse a consciência, vi duas Asahina-sans. A segunda não era a versão adulta, mas a minha veterana Asahina-san. Ninguém menos do que a bela estudante do futuro a qual me é tão familiar.
Havia mais alguém, a voz misteriosa, que falou comigo no final. Eu sei que conheço aquela voz.
Tentei me lembrar quem era, mas rapidamente percebi que não precisava nem tentar.
Era a minha própria voz.
"Então, quer dizer que é assim?"
Neste caso...
Eu ainda iria voltar para aquele período de tempo. Desta vez chegaria mais cedo na madrugada do dia 18 de dezembro, acompanhado por Asahina-san e Nagato.
Só então o mundo voltaria ao seu estado atual.
Asahina-san seria responsável por nos levar até lá, enquanto a missão de Nagato seria de impedir a sua versão do passado que saíra de controle nos três dias anteriores, apesar de não saber se ela usaria os poderes emprestados de Haruhi ou aqueles dados pela Entidade Sensciente de Dados Integrados.
E eu também tinha um papel a cumprir.
Bem, era o que eu pensava, afinal. Caso contrário, não teria ouvido a minha própria voz naquele momento, e também não estaria aqui. Para preservar minha existência presente, eu iria precisar voltar e repetir as mesmas coisas para o meu eu do passado.
"Desculpe-me. Tenho os meus motivos por não te resgatar antes, mas não me odeie por isso. Afinal, doeu tanto em mim quanto em você. Bem, vamos dar um jeito no resto. Não, na verdade já está tudo certo, sabemos o nosso papel e você sabe o seu. Agora, descanse um pouco."
Eu repeti esta frase em minha cabeça. Era isso que eu havia dito, se me lembro bem. Mesmo que não possa garantir a fidelidade de todas as palavras, o significado deve ser o mesmo.
O meu papel predestinado seria o de disparar a arma, no lugar do "eu" que havia sido esfaqueado.
Esse era o motivo que não pude salvar o meu eu do passado de ser atacado por Asakura, compreendo isto bem. Pelo tom de voz da minha contraparte do futuro, eles não pareciam estar com muita pressa. Provavelmente, eles se esconderam por perto de antemão. Asahina-san e Nagato também apareceram bem a tempo, pois não poderia ser rápido demais ou lento demais. Eu teria de ser perfurado por Asakura. Por quê? Pois isso havia de acontecer com o meu eu do passado. Citando Asahina-san;
"Este é um evento predeterminado,"
Já era tarde da noite, mas eu não estava muito disposto a dormir.
Eu estava esperando. Esperando pelo que, você pergunta? É claro que pela única pessoa que ainda faltava me visitar. Seria bastante cômico se ela não aparecesse.
Eu deitei na cama e fiquei olhando para o teto todo o tempo. Mesmo que já fosse tarde e o tempo das visitas já tivesse acabado, minha paciência havia sido recompensada.
A porta lentamente se abriu, e a luz do corredor projetou a sombra de uma pequena figura pelo chão.
Ali estava a última pessoa a me visitar, Nagato Yuki.
Como sempre, ela me falou sem um pingo de emoção na voz.
"Sou responsável por tudo que aconteceu."
Por algum motivo, a sua voz calma me enchia de nostalgia.
"Minha punição está sendo decidida."
Levantei a cabeça e perguntei;
"Decidida por quem?"
"Pela Entidade Sensciente de Dados Integrados."
Ela falava com calma, como se estivesse acontecendo com outra pessoa.
É claro. Nagato já sabia há tempos que ela causaria tanta confusão no dia 18 de dezembro. Afinal, nós a visitamos três anos atrás com essa história para contar. Ela soube o tempo todo e, mesmo assim, tentou incansavelmente impedir que acontecesse. Mas não havia como parar a maré. Mesmo que você saiba o que está destinado a acontecer, as vezes não há como escapar. Não, na verdade isso podia ter sido evitado...
Subitamente, pensei que o comportamento que Nagato mostrou após o verão era diferente do que havia sido antes.
"Mas," - eu a interrompi - "se você sabia que iria de descontrolar, já há três anos, você poderia ter me dito alguma coisa, não podia? Mesmo depois do festival, ou do campeonato de beisebol. Se esse fosse o caso, eu podia ter tomado providências antes. Assim, tudo que precisaríamos fazer era chamar todo mundo e voltar novamente ao passado."
Mesmo na expressão fria como o gelo que Nagato exibia, havia algo que se assemelhava a um sorriso
"Se eu tivesse dito isso antes, a minha versão autônoma poderia ter apagado todas as suas memórias e alterado o mundo. Deste modo, ninguém pode garantir que algo assim não tenha ocorrido ou venha a ocorrer. O melhor que pude fazer era manter você em seu estado original até a chegada do dia 18 de dezembro."
"Você não deixou o programa de escape para mim? Isso já foi o suficiente!"
Enquanto a agradecia, comecei a ficar furioso, mas não era com Nagato ou comigo mesmo.
Aquela voz neutra ecoava pelas paredes do hospital,
"Não posso garantir que não vou me descontrolar novamente no futuro. Enquanto eu existir, meus erros internos irão continuar se acumulando. Esta é uma possibilidade muito perigosa."
"ISSO É UMA IMBECILIDADE! Transmita esta mensagem para mim."
Ouvindo a minha resposta, a cabeça de Nagato moveu-se para trás uns dois centímetros, ela até mesmo piscou.
Fui para perto dela, e segurei a sua pequena mão pálida. Nagato nem ao menos resistiu.
"Digo isso para os seu chefes, então escute bem: se ele pensar, nem que por um segundo, em sumir com você, juro que farei deixar o circo pegar fogo. Vamos trazer você de volta, não importa o que aconteça. Posso não ter nenhum poder, mas sou muito bom em provocar a Haruhi."
Eu realmente tinha um ás na manga para convencer Haruhi. Tudo que precisava dizer para ela era; "Meu nome é John Smith"
Esta era a verdade. Mesmo que tivesse tantos poderes quanto um vagabundo qualquer, aquela idiota tinha todo o tipo de poderes incríveis. Se Nagato sumisse, eu diria tudo para aquela garota até que ela acreditasse em mim. Então, iríamos em uma jornada para resgata-la. Mesmo que os chefes de Nagato a escondessem em algum lugar ou a eliminassem, tenho absoluta certeza que Haruhi daria um jeito de reverter a situação, ou pelo menos eu a faria ter alguma idéia. Quem sabe até mesmo Koizumi e Asahina-san poderiam nos dar uma mão. Então, quem é que liga para alguma entidade de dados de algum canto irrelevante no universo!? Quem se importa se eles existem ou não!?
Nagato era nossa amiga. Se algum dos membros da Brigada SOS sumisse, Haruhi não descansaria até resolver a situação. E não era só Nagato, se fosse qualquer outro de nós, mesmo que por vontade própria, Haruhi não iria desistir e fazer de tudo para nos trazer de volta. Esse é o jeito de Suzumiya Haruhi, a teimosa, egoísta, problemática e desconsiderada rainha da Brigada SOS.
Olhei furiosamente para Nagato.
"Se os seus chefes tentarem qualquer coisa, então vou me unir a Haruhi para transformarmos este mundo completamente. Em três dias teremos um mundo igual a esse, onde você existe e a Entidade Sensciente de Dados Integrados não. Aposto que eles vão ficar realmente decepcionados se algo assim acontecer. Uma missão de observação? Observação uma ova!"
Minha fúria aumentava enquanto eu falava.
Não tenho idéia de como é a Entidade de Dados, mas aposto que eles são espertos. Provavelmente conseguem calcular até o centésimo milionésimo número do pi em uns dois segundos e fazer todo o tipo de coisas avançadas.
Se isso era verdade, eu tinha que dizer algo a eles.
Tenho certeza que vocês poderiam ter dado a Nagato uma personalidade mais humana. Antes de se tornar uma assassina psicótica, Asakura era bastante popular em nossa sala, sem mencionar que era uma garota acessível e amigável. Ela até mesmo chamava as colegas para fazer compras nos fins de semana. Se vocês podem criar algo assim, por que transformar Nagato em uma colegial solitária lendo um livro sozinha no Clube de Literatura? Se a personalidade dela não fosse essa, então não conseguiria convencer Haruhi? Quem foi o responsável por essa decisão imbecil?
Nessa hora, percebi que estava segurando a mão de Nagato com força. Mesmo assim, ela não parecia desconfortável ou tentando me evitar.
Nagato simplesmente olhou diretamente para mim, e lentamente meneou a cabeça,
"Eu vou transmitir a mensagem."
A sua voz tranquila acrescentou com leveza;
"Obrigada."

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