sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Ano hi mita hana no namae o bokutachi wa mada shiranai - Vol.1 - Cap.03

Capítulo 03 — A Noite do Curry 

Meiko andou com os pés descalços.

  À  noite,  a  rua  asfaltada  ainda  apresentava  traços do  calor  do  sol  poente:  estava  um pouco quente, um pouco úmida, muito serena e tranquila.

  Andando, Meiko  esfregou  seus  pés  contra ela.  Sentiu  uma leve  dor  na sola. Uma  dor vaga, como um soco no rosto durante o sono.

      Onde Menma foi até agora?

  Por causa dessa  dor,  Meiko  começou  a  perder  a noção do tempo. Ela  não conseguia lembrar de nada. A única coisa que sabia era que um longo tempo havia passado desde então.

  Meiko relembrou o instante em que ela desaparecera do mundo.

  Doeu?

  No instante em que tentou lembrar, uma dor fria e lancinante disparou através de suas costas.

  Ela queria realizar um desejo.

  Esse  desejo  só  poderia  ser  realizado se  todos  os  Super  Protetores da  Paz  estivessem juntos.

  Toda vez  que  ela  pensava  em  algo sobre si  mesma,  uma dor atravessava  todo  o  seu corpo. Mas não nessa vez. Esse foi o único fato que não a machucou quando pensou sobre ele.

  Ela queria que todo mundo soubesse como o outro se sentia, como naquela época.

  No entanto, por causa dos seus pensamentos insensíveis...

  Jintan se machucou por minha causa.

  A imagem de Jintan indo embora continuava a se repetir em sua mente.

  Jintan  disse  que  teve  uma  v ida  difícil  depois  do  acidente,  e  que  todo  mundo  tinha mudado.

  Meiko  queria  negar  esse  fato.  Ela  queria  que  os  Super  Protetores  da  Paz,  incluindo Jintan, voltassem a ser como eram.

  O  problema  era  que  todos  depois  daquele incidente  ficaram  vagos  a  Meiko. Ela não tinha o direito de tirar uma conclusão...E sabia disso.

   —        Ahahaha!

  Um riso grosseiro interrompeu a hesitação de Meiko.

  Hã...?

  — Ahahaha! Naruko, você realmente foi lá... Na casa do Yadomi. Você é fabulosa!

  — Eh. Sim. É tão chato!

  Naruko e suas amigas do colégio passeavam em frente à estação.

  Se elas não tivessem nenhum destino em especial, McDonald’s poderia ser uma ótima escolha. Ou elas poderiam andar um pouco mais e irem a um restaurante familiar pra matar o tempo.  No  entanto,  elas  decidiram  se  reunir  em  frente  à  estação  e  conversarem  lá.  Pra mostrar aos pedestres seu “equipamento”

  Ela  estava  vestindo  um  sutiã  com  laços  e  unhas  pintadas  de  azul-marinho,  como na noite passada.

— Ahaha...!

  Quando  a  risada  dela  soara  tão  alta?  Naruko,  às  vezes,  até  achava  que  isso  era inconcebível.

  Desde  o  outono  do  segundo  ano  do  ensino  médio,  ela  passara  a  usar  saias  super curtas. Até mesmo começara a usar saltos altos desde o verão da terceira série.

  Naruko  pensou  em Jinta. Hoje ela o vira de  novo depois de  um  longo tempo, desde a cerimônia de abertura da escola. Mas Jinta...

  O que ele pensa de mim?

  Depois  do  incidente  com  Meiko,  os  Super  Protetores  da  Paz  se  separaram.
Gradualmente,  a  expressão  de  Jintan  mudou   Se  fosse  resumir  em  uma  palavra,  seria  “mal-humorado”

  Algumas crianças dali  precisavam encarar o  exame  de  promoção para  o colégio.  Eles haviam  entrado  na  mesma  escola,  mas  toda  vez  que  se  encontravam  no corredor,  Jintan  se afastava, fingindo que não havia a visto.

  Naruko queria chamar a atenção de Jintan.

  Ele diria alguma coisa a ela depois que ela tirasse os óculos?

  Não, ele não disse.

  Ele diria alguma coisa depois que ela começasse a usar saias supercurtas?

  Não, ele não disse.

  Houvera  apenas  uma  vez,  durante  o  terceiro  ano  do  ensino  médio,  que  ela  pegou Jintan dizendo algo quando se encontraram.

  — Parece palha...

  Naquele tempo, Naruko havia  comprado  tinta pro cabelo e tentara pela primeira vez pintá-lo, mas ela confundira o tempo de descolorir e fizera com que seu cabelo perdesse muita cor.

  No entanto, fora o suficiente para excitá-la.

  Ver Jintan saindo e gritando assim fora excitante e alegre.

  — O que eu faço agora? O tempo acabou.

  A voz da amiga de Naruko empurrou-a de volta à realidade.

  — Ah, sim.

  — Não há nenhum bom aqui. Vamos apenas jogar um pouco e dar um fora daqui.

3
Light Novel Project
 

  Naruko  e  as  amigas  concordaram  em  ir  cantar  num  karaokê  com  garotos  de  outra escola  dali  a  algum  tempo.  Festa  com  karaokê,  conversar  em  frente  à  estação,  ou  comprar salgadinhos de cem  ienes  quando  estavam com fome...  Pegar  a  via expressa pra  Tóquio  nos feriados  para  comprar  coisas  que  são  exclusivas  da  cidade,  essa  era  a  vaidade  em  que  ela estava submersa.

      Elas estavam acostumadas a passar todos os dias juntas depois das aulas.

  Elas deixaram as latas de bebida no banco onde haviam sentado e saíram.

  Essa era sua vida normal.

  Naruko imitava o comportamento delas.

  Isso não era  fácil pra  Naruko,  que amava limpar  coisas.  Se  ela andasse alguns passos pra frente e jogasse as  latas numa lixeira do lado da máquina de bebidas... Realmente queria fazer isso, mas...

  — Naruko?

  — Ah, desculpe. Esperem por mim!

  Então  ela  deixou  a  lata  sozinha.  Ela  não  tinha  tempo  para  cuidar  de  diferentes pensamentos  em  sua  mente.  Focava  somente  no  que  estava  acontecendo  diante  dela:  Não havia necessidade de cuidar de coisas abandonadas.

  Naruko começou a pensar sobre quando ela se tornara esse tipo de pessoa.

  Naquele mesmo momento, Menma olhou para essa Naruko.

      Anaru desordeira...

  Menma  estava  um  pouco chocada.  Não  por  querer  repreendê-la  pela  bagunça,  mas sim porque a Naruko que ela conhecia nunca faria tal ato.

  Ela fazia  tudo  de acordo com  as regras  e  amava  limpar  coisas.  Quando Meiko  comia um cone doce, ela até mesmo pegava as migalhas que caíam ao seu lado.

      Não parece que Anaru está realmente sorrindo...


  Seus  lábios  pintados  com  batom  rosa  formavam  um  triângulo,  uma  expressão  de sorriso. Até mesmo os olhos estavam curvados... Mas não era o sorriso que Meiko conhecia.

  Tendo confirmado que Naruko e as amigas tinham saído, Meiko pegou a lata e jogou-a no lixo. Ela bateu no fundo com um estalo.

 As folhas do familiar caquizeiro sussurravam com o vento da noite.

  Meiko tinha ido para a casa da família que a criara.

  Ela sentia  que não havia motivos urgentes para  voltar àquele  lugar. Meiko tinha uma vaga lembrança, mas não sentia como se pertencesse àquele lugar. Lembrava-se da casa como se a houvesse visitado ontem. Esse sentimento fez com que se assustasse por algum motivo.

  O que eu devo fazer...

  Ela poderia entrar? Estava com medo de fazê-lo, mas não sabia o porquê.

  Suas  coxas  ficaram  tensas,  e  seu  polegar  dobrado  abriu  inconscientemente.  De repente, um cheiro rico e atraente encheu o nariz de Meiko...

  — Curry!

  Meiko desabou.

  Era o curry favorito de Meiko. Grãos de milho triturados misturados com um monte de outras  coisas  até  virar  um  doce  curry. Seu irmão,  Satoshi,  gostava muito,  e  seu  pai  o  comia com molho inglês.

  Quando ela pensou nisso, o conceito de tempo vago ficou um pouco mais claro pra ela, e o sentimento de pertencer voltou.

  Neste momento, a maçaneta da porta que Meiko estava segurando...

  — Boa noite...

  Ela  empurrou-a  um  pouco,  abrindo  uma  pequena  fresta  pra  poder  espiar  dentro  da casa e dar uma olhada na sala de estar.

  Os ombros de Meiko estremeceram.

  Quando  Meiko  vira  Jinta,  Naruko,  Chiriko  e  Atsumu  de  novo,  tudo  que  sentira  fora pura felicidade.

  Mas quando ela viu sua própria família na sala de estar...

  Seu pai estava com um monte de cabelos  brancos. Satoshi crescera muito, parecendo um homem jovem. E sua mãe... Estava com rugas nos cantos dos olhos.

  Mudanças. Todos mudaram. Jintan e os outros mudaram. Contudo...

  Ah...né? O quê...

  Tudo estava diferente. Não era a casa dos Honma que ela tinha em suas memórias.

  Eles  não  se  falavam. Papai estava lendo um  jornal. Satoshi  estava  jogando um DS. Na mesa  havia  pratos com sobras de  curry  No passado,  mamãe teria dito numa voz vívida  “Os pratos devem ser postos na pia!”

  Mas mamãe estava colocando uma pequena tigela de curry em um santuário que não existia quando Meiko morava lá.

  Então ela  apertou  a  campainha  e  juntou  as  mãos,  sentando -se  ereta,  com  as  meias finas pressionando suavemente a pele de seu pé.

  Meiko parou de se mover.

  Meiko não se lembrava daquele santuário. Subitamente, Meiko entendeu o que aquilo significava, e não se aproximou... não se aproximou da mãe que tanto amava.

  — Mãe, pode parar de dar ao santuário uma tigela de curry toda vez que você faz?

      Satoshi...?

  Jogando o DS, Satoshi reclamou, sem mesmo uma leve intenção de levantar a cabeça e olhar pra mamãe.

  — É muito chato.

  — Você não deveria dizer isso.

  Mamãe tinha uma expressão que Meiko nunca havia visto.

  — Porque sua irmã é um pouco atrapalhada.

  Sua mãe começou a chorar, e continuou, docemente:

  Tentando  esconder  as  lágrimas  que  começaram  a  brotar,  sua  mãe  continuou docemente:

  — Sua irmã talvez nem tenha percebido que já está morta.

  As palavras de sua mãe a deram arrepios, fazendo-a tremer.

  Devido ao seu tremor, a taça ao lado dela caiu, sendo lançada ao chão.

  — Satoshi. O que está fazendo? Vá pegar.

  — Ei. Não fui eu!

  Satoshi  fora  acusado  injustamente  por  seu  pai  de  novo.  Meiko  não  estava  sequer sentindo o desejo de protegê-lo. Ela apenas murmurou distraidamente:

  — Menma sabe...

  Mesmo que  houvesse um monte de coisas que ela não entendia, esta era a casa. Não era a  casa  dos  Honma  que  ela um dia conhecera, e  ela já  sabia profundamente essa  verdade intragável.

  — Menma sabe que já está morta.

  Quando foi para fora, o vento morno da noite soprava contra ela.

      Já estou morta , Meiko pensou. Talvez isso tenha sido doloroso... Muito mais  doloroso que aceitar tomar a vacina contra encefalite japonesa.

  Porém,  novamente,  ela não  tinha  essa  memória.  A memória  perdida,  a  dor  perdida, teve de ser aceita por sua mãe e outros familiares, carregada até agora.

  Desculpe...

  Ela proferiu secretamente em seu coração.


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