Meiko andou com os pés descalços.
À noite, a rua asfaltada ainda apresentava traços do calor do sol poente: estava um pouco quente, um pouco úmida, muito serena e tranquila.
Andando, Meiko esfregou seus pés contra ela. Sentiu uma leve dor na sola. Uma dor vaga, como um soco no rosto durante o sono.
Onde Menma foi até agora?
Por causa dessa dor, Meiko começou a perder a noção do tempo. Ela não conseguia lembrar de nada. A única coisa que sabia era que um longo tempo havia passado desde então.
Meiko relembrou o instante em que ela desaparecera do mundo.
Doeu?
No instante em que tentou lembrar, uma dor fria e lancinante disparou através de suas costas.
Ela queria realizar um desejo.
Esse desejo só poderia ser realizado se todos os Super Protetores da Paz estivessem juntos.
Toda vez que ela pensava em algo sobre si mesma, uma dor atravessava todo o seu corpo. Mas não nessa vez. Esse foi o único fato que não a machucou quando pensou sobre ele.
Ela queria que todo mundo soubesse como o outro se sentia, como naquela época.
No entanto, por causa dos seus pensamentos insensíveis...
Jintan se machucou por minha causa.
A imagem de Jintan indo embora continuava a se repetir em sua mente.
Jintan disse que teve uma v ida difícil depois do acidente, e que todo mundo tinha mudado.
Meiko queria negar esse fato. Ela queria que os Super Protetores da Paz, incluindo Jintan, voltassem a ser como eram.
O problema era que todos depois daquele incidente ficaram vagos a Meiko. Ela não tinha o direito de tirar uma conclusão...E sabia disso.
— Ahahaha!
Um riso grosseiro interrompeu a hesitação de Meiko.
Hã...?
— Ahahaha! Naruko, você realmente foi lá... Na casa do Yadomi. Você é fabulosa!
— Eh. Sim. É tão chato!
Naruko e suas amigas do colégio passeavam em frente à estação.
Se elas não tivessem nenhum destino em especial, McDonald’s poderia ser uma ótima escolha. Ou elas poderiam andar um pouco mais e irem a um restaurante familiar pra matar o tempo. No entanto, elas decidiram se reunir em frente à estação e conversarem lá. Pra mostrar aos pedestres seu “equipamento”
Ela estava vestindo um sutiã com laços e unhas pintadas de azul-marinho, como na noite passada.
— Ahaha...!
Quando a risada dela soara tão alta? Naruko, às vezes, até achava que isso era inconcebível.
Desde o outono do segundo ano do ensino médio, ela passara a usar saias super curtas. Até mesmo começara a usar saltos altos desde o verão da terceira série.
Naruko pensou em Jinta. Hoje ela o vira de novo depois de um longo tempo, desde a cerimônia de abertura da escola. Mas Jinta...
O que ele pensa de mim?
Depois do incidente com Meiko, os Super Protetores da Paz se separaram.
Gradualmente, a expressão de Jintan mudou Se fosse resumir em uma palavra, seria “mal-humorado”
Algumas crianças dali precisavam encarar o exame de promoção para o colégio. Eles haviam entrado na mesma escola, mas toda vez que se encontravam no corredor, Jintan se afastava, fingindo que não havia a visto.
Naruko queria chamar a atenção de Jintan.
Ele diria alguma coisa a ela depois que ela tirasse os óculos?
Não, ele não disse.
Ele diria alguma coisa depois que ela começasse a usar saias supercurtas?
Não, ele não disse.
Houvera apenas uma vez, durante o terceiro ano do ensino médio, que ela pegou Jintan dizendo algo quando se encontraram.
— Parece palha...
Naquele tempo, Naruko havia comprado tinta pro cabelo e tentara pela primeira vez pintá-lo, mas ela confundira o tempo de descolorir e fizera com que seu cabelo perdesse muita cor.
No entanto, fora o suficiente para excitá-la.
Ver Jintan saindo e gritando assim fora excitante e alegre.
— O que eu faço agora? O tempo acabou.
A voz da amiga de Naruko empurrou-a de volta à realidade.
— Ah, sim.
— Não há nenhum bom aqui. Vamos apenas jogar um pouco e dar um fora daqui.
3
Light Novel Project
Naruko e as amigas concordaram em ir cantar num karaokê com garotos de outra escola dali a algum tempo. Festa com karaokê, conversar em frente à estação, ou comprar salgadinhos de cem ienes quando estavam com fome... Pegar a via expressa pra Tóquio nos feriados para comprar coisas que são exclusivas da cidade, essa era a vaidade em que ela estava submersa.
Elas estavam acostumadas a passar todos os dias juntas depois das aulas.
Elas deixaram as latas de bebida no banco onde haviam sentado e saíram.
Essa era sua vida normal.
Naruko imitava o comportamento delas.
Isso não era fácil pra Naruko, que amava limpar coisas. Se ela andasse alguns passos pra frente e jogasse as latas numa lixeira do lado da máquina de bebidas... Realmente queria fazer isso, mas...
— Naruko?
— Ah, desculpe. Esperem por mim!
Então ela deixou a lata sozinha. Ela não tinha tempo para cuidar de diferentes pensamentos em sua mente. Focava somente no que estava acontecendo diante dela: Não havia necessidade de cuidar de coisas abandonadas.
Naruko começou a pensar sobre quando ela se tornara esse tipo de pessoa.
Naquele mesmo momento, Menma olhou para essa Naruko.
Anaru desordeira...
Menma estava um pouco chocada. Não por querer repreendê-la pela bagunça, mas sim porque a Naruko que ela conhecia nunca faria tal ato.
Ela fazia tudo de acordo com as regras e amava limpar coisas. Quando Meiko comia um cone doce, ela até mesmo pegava as migalhas que caíam ao seu lado.
Não parece que Anaru está realmente sorrindo...
Seus lábios pintados com batom rosa formavam um triângulo, uma expressão de sorriso. Até mesmo os olhos estavam curvados... Mas não era o sorriso que Meiko conhecia.
Tendo confirmado que Naruko e as amigas tinham saído, Meiko pegou a lata e jogou-a no lixo. Ela bateu no fundo com um estalo.
As folhas do familiar caquizeiro sussurravam com o vento da noite.
Meiko tinha ido para a casa da família que a criara.
Ela sentia que não havia motivos urgentes para voltar àquele lugar. Meiko tinha uma vaga lembrança, mas não sentia como se pertencesse àquele lugar. Lembrava-se da casa como se a houvesse visitado ontem. Esse sentimento fez com que se assustasse por algum motivo.
O que eu devo fazer...
Ela poderia entrar? Estava com medo de fazê-lo, mas não sabia o porquê.
Suas coxas ficaram tensas, e seu polegar dobrado abriu inconscientemente. De repente, um cheiro rico e atraente encheu o nariz de Meiko...
— Curry!
Meiko desabou.
Era o curry favorito de Meiko. Grãos de milho triturados misturados com um monte de outras coisas até virar um doce curry. Seu irmão, Satoshi, gostava muito, e seu pai o comia com molho inglês.
Quando ela pensou nisso, o conceito de tempo vago ficou um pouco mais claro pra ela, e o sentimento de pertencer voltou.
Neste momento, a maçaneta da porta que Meiko estava segurando...
— Boa noite...
Ela empurrou-a um pouco, abrindo uma pequena fresta pra poder espiar dentro da casa e dar uma olhada na sala de estar.
Os ombros de Meiko estremeceram.
Quando Meiko vira Jinta, Naruko, Chiriko e Atsumu de novo, tudo que sentira fora pura felicidade.
Mas quando ela viu sua própria família na sala de estar...
Seu pai estava com um monte de cabelos brancos. Satoshi crescera muito, parecendo um homem jovem. E sua mãe... Estava com rugas nos cantos dos olhos.
Mudanças. Todos mudaram. Jintan e os outros mudaram. Contudo...
Ah...né? O quê...
Tudo estava diferente. Não era a casa dos Honma que ela tinha em suas memórias.
Eles não se falavam. Papai estava lendo um jornal. Satoshi estava jogando um DS. Na mesa havia pratos com sobras de curry No passado, mamãe teria dito numa voz vívida “Os pratos devem ser postos na pia!”
Mas mamãe estava colocando uma pequena tigela de curry em um santuário que não existia quando Meiko morava lá.
Então ela apertou a campainha e juntou as mãos, sentando -se ereta, com as meias finas pressionando suavemente a pele de seu pé.
Meiko parou de se mover.
Meiko não se lembrava daquele santuário. Subitamente, Meiko entendeu o que aquilo significava, e não se aproximou... não se aproximou da mãe que tanto amava.
— Mãe, pode parar de dar ao santuário uma tigela de curry toda vez que você faz?
Satoshi...?
Jogando o DS, Satoshi reclamou, sem mesmo uma leve intenção de levantar a cabeça e olhar pra mamãe.
— É muito chato.
— Você não deveria dizer isso.
Mamãe tinha uma expressão que Meiko nunca havia visto.
— Porque sua irmã é um pouco atrapalhada.
Sua mãe começou a chorar, e continuou, docemente:
Tentando esconder as lágrimas que começaram a brotar, sua mãe continuou docemente:
— Sua irmã talvez nem tenha percebido que já está morta.
As palavras de sua mãe a deram arrepios, fazendo-a tremer.
Devido ao seu tremor, a taça ao lado dela caiu, sendo lançada ao chão.
— Satoshi. O que está fazendo? Vá pegar.
— Ei. Não fui eu!
Satoshi fora acusado injustamente por seu pai de novo. Meiko não estava sequer sentindo o desejo de protegê-lo. Ela apenas murmurou distraidamente:
— Menma sabe...
Mesmo que houvesse um monte de coisas que ela não entendia, esta era a casa. Não era a casa dos Honma que ela um dia conhecera, e ela já sabia profundamente essa verdade intragável.
— Menma sabe que já está morta.
Quando foi para fora, o vento morno da noite soprava contra ela.
Já estou morta , Meiko pensou. Talvez isso tenha sido doloroso... Muito mais doloroso que aceitar tomar a vacina contra encefalite japonesa.
Porém, novamente, ela não tinha essa memória. A memória perdida, a dor perdida, teve de ser aceita por sua mãe e outros familiares, carregada até agora.
Desculpe...
Ela proferiu secretamente em seu coração.
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