“Meu nome é Aya Otonashi. Prazer em conhecê-los.”
Disse a estudante transferida com um sorriso fraco.
23ª vez
“Meu nome é Aya Otonashi... Prazer.”
Disse a estudante transferida desinteressada, e sem nenhuma emoção em sua voz.
1050ª vez
“Meu nome é Aya Otonashi.”
Disse a estudante transferida entediada e sem ao menos olhar em nossa direção.
13118ª vez
Eu olhei para a estudante transferida, chamada Aya Otonashi, que eu ainda não sei o nome, parada sob a plataforma
“Meu nome é Aya Otonashi”
A estudante transferida murmurou apenas isso para seus colegas – em uma voz fraca como se não importasse se a entendemos ou não. Mesmo assim, sua voz era bastante clara.
Sim. Eu já sabia o nome dela. Apesar de que, esta é obviamente a primeira vez que eu o ouço.
Todos seguraram o ar. Não por causa da sua brusca e simples auto-introdução que nem ao menos contaria como uma apresentação. Mas provavelmente porque ela simplesmente é lindamente deslumbrante que se destaca apenas por estar na mesma sala.
Todos esperaram por suas próximas palavras.
Ela abriu a boca.
“Kazuki Hoshino.”
“... Huh?”
Ela chamou meu nome por alguma razão. Os olhares interrogativos da classe se concentraram em mim. Não me olhem assim, eu também não faço idéia.
“Estou aqui para destruir você.”
Uma súbita proclamação.
“Esta é a 13.118ª ‘Transferência’. Nem mesmo eu posso deixar de ficar irritada depois disso tudo. Então para mudar algo, eu proclamo guerra.”
Ela não se importa nem um pouco sobre os nossos colegas emudecidos e continua olhando apenas para mim.
“Kazuki Hoshino. Eu farei você se render. É melhor para você me dar o seu tesouro mais precioso logo. Resistir é inútil. ‘Por quê? ’ você pergunta? Simples. Porque eu estarei...”
Aya Otonashi esboçou um sorriso antes de continuar a sentença.
“...sempre do seu lado, não importa quanto tempo passe.”
10876ª vez
É dia «2 de Março». Hoje com certeza é dia «2 de Março».
Pergunto-me o porquê eu preciso afirmar isso para mim mesmo?
... Com certeza deve ser porque o céu ainda está nublado, mesmo que já estejamos em Março. Provavelmente é isso. É culpa do clima que eu me sinto um pouco melancólico, considerando os últimos dias, o céu azul tem estado escondido atrás das nuvens o tempo todo.
Ahh, imagino quando será que o clima vai abrir.
Eu já estava na sala antes da aula começar. Olhando pela janela enquanto me concentrava nesses pensamentos monótonos.
Acho que estou pensando nessas coisas porque não estou me sentindo bem. Não, minha saúde não está ruim. É o mesmo de sempre. Apenas, de alguma forma... me sinto desconfortável. Não consigo expressar isso direito, mas é como se subitamente eu fosse o único sem uma sombra. É o tipo ‘alguma coisa parece errada’ de ‘desconforto’.
... estranho, Eu não consigo entender o motivo. Não houve nada anormal ontem, essa manhã eu tomei café, escutei o novo álbum do meu cantor preferido no trem, e consegui um seguro 5 no programa de leitura da sorte que eu assisti por acaso.
De qualquer forma, não adianta em nada ficar quebrando minha cabeça sobre isso; ao invés disso, vou comer o meu Umaibō*. Hoje é sabor de carne de porco. Deixe-me dar uma mordida. Eu realmente poderia me encher disso; Esse gosto nunca é demais.
*Se traduz como ‘vareta deliciosa’, tem o formato parecido com um bolinho Ana Maria, sua consistência lembra Cheetos e é feito de milho.
“Umaibō de novo? Você realmente adora isso, não? Se você continuar comendo Umaibō todo dia, seu sangue vai ficar da cor de um, sabia?”
“... ahn, e que cor seria?”
“Não faço idéia!”
A garota fazendo piadas despreocupadamente comigo é minha colega de classe Kokone Kirino. Seu cabelo marrom, que não é nem muito comprido e nem muito curto, está amarrado na forma de um rabo de cavalo no topo de sua cabeça. Kokone troca o estilo do cabelo o tempo todo, mas parece que ela gosta desse atual. Pelo menos eu tenho a sensação de que esse é o único estilo que eu tenho visto recentemente.
Kokone arbitrariamente ocupa o assento ao meu lado e começa a fazer a maquiagem, enquanto olha em seu espelho, usando uma ferramenta que eu como homem, não sei exatamente o que é. Eu gostaria que ela se concentrasse mais nas outras coisas com essa mesma atenção, não só na maquiagem.
“Agora que penso nisso, você tem várias coisas azuis, não?”
“Ah sim, eu gosto de azul... ah, é mesmo, Kazu-kun! Não tem algo diferente em mim hoje? Não tem?”
Diz ela subitamente e com os olhos brilhando.
“Mh...?”
Tem algo? Não tem como eu saber se você me perguntar isso assim do nada.
“Eu vou te dar uma dica! Houve uma mudança no meu lugar com mais charme!”
“Eh?”
Reflexivamente meus olhos se focaram nos seios dela.
“Whoa, ei! Porque os meus seios?!”
Bom, porque você anuncia em todos os lugares o tempo todo que você finalmente chegou ao tamanho D, por isso eu achei que...
“É óbvio que meus olhos são o meu charme! E de qualquer forma, seios não aumentam de tamanho de uma hora pra outra! Ou era isso o que você queria?! Seu pervertido obscuro! Maníaco de peitos!”
“... desculpe.”
Não tem como eu saber de um charme desses, mas vou pedir desculpas mesmo assim.
“... então?”
Ela olhou diretamente nos meus olhos com um olhar cheio de expectativa. Eu admito, ela tem olhos grandes. Senti-me um pouco tímido quando percebi isso.
“... Eu acho que seu rosto parece o mesmo de sempre?”
Respondi sem realmente olhar muito para o rosto dela.
“Eh? Como? Meu rosto está lindo como sempre, isso que você quis dizer?”
“Não, não foi isso.”
“Diga!”
Eu estou sendo forçado.
“Para falar a verdade, eu estou usando mascara hoje. Diga-me, como está? Como está?”
Não consigo perceber diferença nenhuma. Não vejo diferença alguma de ontem pra hoje.
“... bem, não tem como eu julgar algo desse tipo.”
Disse honestamente para ela admitindo minha derrota.
“’Algo desse tipo’... você diz?!”
Ela bateu em mim.
“Ai...”
“Tz! Que garoto chato”
Disse ela com uma voz forçada, mas... aah, talvez ela esteja realmente um pouco irritada. Kokone fez como se estivesse cuspindo em mim e foi falar com os outros alunos para mostrar o seu rosto mascarado.
“Haa...”
Agora eu estou cansado. Kokone pode ser divertida, mas eu não consigo lidar com o temperamento dela.
“Terminaram a briga de casal?”
A primeira coisa que entrou no meu campo de visão, quando eu me virei, foi uma orelha com três piercings. Só existe uma pessoa nesta escola que usa esse estilo.
“... Daiya. Aquilo não era uma briga de casal. Para onde você estava olhando para conseguir chegar a essa conclusão?”
Meu amigo Daiya Oomine, contudo, apenas zombou da minha objeção. Sim, arrogante como sempre. Bom, mas acho que seria estranho se alguém como ele, que usa esses tipos de acessórios e não apenas ignora as regras do colégio, mas também as enfrenta, fosse diferente.
“Mas você realmente não percebeu a mascara? Até eu pude perceber a diferença. E eu absolutamente, não tenho completamente nenhum interesse nela.”
“... sério?”
Eles são vizinhos e parece que são amigos desde o jardim de infância. Ele não estar interessado nela é uma mentira sem duvida alguma. Mesmo assim, não notar algo que até o Daiya notou pode ser um problema. Afinal de contas, ele é alguém que não se interessa pelos outros e parece nem ao menos olhar para as outras pessoas.
“... mas você sabe.”
Eu tenho a sensação de que ela usou essa mesma mascara ontem.
“Sim, agora eu entendi Kazu. Você revelou seus sentimentos interiores para aquela cadela dizendo ‘Eu não estou interessado em você’. Eu apoio isso. Vou tomar essa mesma atitude. Mas vou fazer isso de uma forma mais direta.”
“Seu presidente de classe maligno! Eu posso ouvir você claramente!”
Daiya ignorou o comentário da garota com ouvidos aguçados e continuou nossa conversa.
“Kazu, pra mudar o assunto sobre essa garota irrelevante: você sabia que uma aluna transferida está para vir hoje?”
“Uma aluna transferida?”
Confirmando novamente, hoje é «2 de Março». Porque alguém iria mudar de escola a esse ponto do ano?
“Uma aluna transferida?! Sem brincadeira?!”
Kokone, como já era de se esperar, ouviu nossa conversa e ergueu a voz para perguntar isto.
“Kiri. Eu não estou falando com você. Não venha se intrometer daí. Ah, mas não chegue mais perto também! Não faz bem pra minha saúde mental quando sua face desesperadamente maquiada entra no meu campo de visão.”
“O- O que?! Você não pode falar nada, Daiya! Você deveria começar a pensar logo sobre concertar essa sua personalidade mentirosa. Talvez ajude pendurar você de ponta-cabeça por 24 horas, talvez algum sangue vá para o seu cérebro e você se torne capaz de dizer algo útil.”
Esses dois realmente têm línguas afiadas... para tentar fazer com que eles parem de falar mal um do outro, eu ergui minha voz um tom mais alto para voltar ao tópico.
“Uma aluna transferida, certo? Eu acho que já ouvi falar disso.”
Com essas palavras, Daiya parou com a argumentação como planejado e olhou para mim.
“... quem te disse?”
E então perguntou isso com um rosto sério.
“Eh? Porque você quer saber?”
“Não responda uma pergunta com outra pergunta.”
“Err... quem foi mesmo? Não foi você?”
“Impossível. Eu acabei de ouvir isso quando fui à diretoria resolver um assunto. Não tinha como eu ter te falado antes de chegar à sala.”
“Sério?”
“Esse tipo de rumor se espalha quase instantaneamente. Mas nem essa tagarela, Kiri, parece saber sobre isso.”
Parece ser verdade considerando a reação dela agora a pouco. E não apenas ela; ninguém na classe seis do primeiro ano parece ter ouvido falar disso.
“Por isso eu achei que essa informação tinha sido escondida até o dia da transferência, que é hoje. Mas então, porque você sabia disso?”
“... err?”
Porque será?
“Bom, tanto faz. Mas não é estranho Kazu? Porque você acha que alguém mudaria de escola nesse ponto? Deve ter algum motivo especial. Por exemplo, e se fosse a filha
problemática de um presidente do conselho e, por isso, foi expulsa das outras escolas? Nesse caso faria sentido eles terem escondido isso até agora.”
“Daiya, não é bom criar um preconceito contra a aluna transferida por causa de palpites. Quero dizer, ela já esta em uma posição aonde os outros desconfiam dela. E todos estão secretamente te ouvindo.”
Os nossos colegas de classe, que estavam realmente nos ouvindo secretamente, sorriram amargamente.
“Ah? Porque eu deveria me importar?”
“Uwaa...”
No momento em que eu deixei escapar um suspiro por causa da atitude de Daiya, o sinal soou. Nossos colegas se apressaram para seus assentos.
Kokone, que senta ao lado da janela, abriu o vidro e se debruçou para fora. Parece que ela quer ver a aluna transferida o mais cedo o possível.
“Oh!”
Aparentemente tendo achado alguém que parece com uma aluna transferida, Kokone ergueu sua voz. E logo depois de soltar este ‘Oh’, voltou a se sentar em seu lugar com uma expressão congelada, embora ela estivesse tão animada quando estava olhando pela janela antes.
Pergunto-me se tem algo errado?
Kokone sorriu e murmurou ‘isto é incrível!’. Provavelmente não apenas eu, mas toda a sala queria perguntar o que estava acontecendo, mas o professor responsável pela classe entrou na sala naquele momento. A silhueta de uma garota podia ser vista através do vidro nublado da porta. Com certeza é a aluna transferida. Após uma olhada pela classe, o professor percebeu que todos estavam interessados na pessoa atrás da porta, e a chamou logo em seguida.
A silhueta atrás do vidro nublado se moveu.
E então eu vi -- ela.
Em um momento–
Como se eu tivesse sido jogado de um penhasco, o cenário mudou de uma vez só.
Primeiro eu ouvi um som. Um som áspero, como se o cenário fosse sendo apagado, virando de dentro para fora. E então forçada e violentamente um após o outro, vários cenários semelhantes vieram se empurrando para dentro. Sinto como se estivesse perdendo minha consciência, mas então ela volta e é amontoada forçadamente dentro de uma pequena caixa metálica. Déjà vu. Déjà vu.
“Meu nome é Aya Otonashi.” Já entendi.
“Meu nome é Aya Otonashi.” Já entendi.
“Meu nome é Aya Otonashi.” Pare, eu já entendi!
Eu rejeitei a gigantesca quantidade de informação que estava tentando se infiltrar dentro de mim. Quero dizer, não tem como isso tudo caber. Meu cérebro vai sobrecarregar. Não dá para processar isso tudo.
“Ah...”
O que,
Que coisa incompreensível––eu estou...?
Percebi que o que passava pela minha cabeça era incompreensível por isso parei meus pensamentos–––E então eu voltei.
Eh? O que eu acabei de pensar?
Depois de esquecer isso, voltei minha atenção para frente e olhei para ela. Eu olhei para a estudante transferida, chamada Aya Otonashi, que eu ainda não sei o nome.
“Meu nome é Aya Otonashi.”
A estudante transferida murmurou apenas. Em uma voz fraca como se não importasse se a entendemos ou não.
Aya Otonashi desceu da plataforma
Por causa de sua apresentação extremamente simples, a sala ficou barulhenta.
Sem se importar com seus colegas perdidos ela veio caminhando.
Em minha direção.
Olhando diretamente para o meu rosto.
Ela se sentou naturalmente no assento vazio ao meu lado, quase como se este assento estivesse preparado para ela desde o começo.
Otonashi-san fez uma expressão carrancuda de forma suspeita para mim enquanto eu a observava silenciosamente incapaz de fazer qualquer coisa.
... acho que eu deveria dizer algo.
“......err, prazer em conhecê-la.”
Ela paralisou, porém, sua expressão não mudou nem um pouco.
“Isso é tudo?”
“Eh...?”
“Eu perguntei para você, se isso é tudo.”
Tem mais alguma coisa? Mesmo que você diga, eu não posso pensar em nada. Afinal essa é a primeira vez que nos encontramos.
Mas a atmosfera parecia me forçar a dizer algo.
“......err, seu uniforme. Esse uniforme é da sua antiga escola?”
Otonashi-san não reage de forma alguma a minhas palavras frenéticas e apenas continua a me observar.
“... eh, então?”
Vendo minha confusão, Otonashi-san deixou escapar um suspiro por alguma razão e sorriu. Um sorriso como se ela estivesse impressionada com uma criança de raciocínio lento.
“Deixe-me te dizer uma coisa boa, Hoshino.”
...eh? Eu já disse para ela o meu nome?
Mas essa questão se tornou insignificante. Otonashi-san me disse algo em seguida que me fez ficar completamente paralisado por cinco segundos.
“Kasumi Mogi está vestindo uma calcinha azul claro hoje.”
✵
Durante a aula de educação física, Kasumi Mogi continua usando seu uniforme comum e não seu uniforme de ginástica.
Hoje, sem trocar de uniforme, ela está novamente assistindo os garotos jogarem futebol. Sua face exibindo uma expressão fixa como um ornamento.
As pernas brancas que se estendem debaixo de sua saia são incrivelmente finas, da à impressão de que elas poderiam quebrar a qualquer momento.
E eu, por alguma razão, estou dormindo com minha cabeça apoiada no colo dela.
Ah, sim. Eu também não faço a mínima idéia do que esta acontecendo. Apesar de certamente haver uma sensação de felicidade, eu não sou capaz de aproveitar esse momento porque estou desesperadamente tentando controlar meu sangramento nasal. Essa situação não terminaria bem se eu não fizesse isso.
Apesar de tudo, eu me lembro como acabamos nessa situação. Quando eu perdi minha habilidade de me concentrar por causa da Otonashi-san, eu fui atingido pela bola de futebol no rosto e meu nariz começou a sangrar. Então Mogi-san que estava preocupada comigo, por alguma razão, me deixou dormir com a cabeça no colo dela.
As pernas dela não são exatamente macias, e para dizer a verdade, até machuca um pouco.
Imagino o porquê dela se importar comigo tanto assim? Olhando para o rosto dela eu não posso dizer nada pelo seu rosto sem expressão.
Mas eu estou feliz.
Muito, muito feliz.
A declaração de Otonashi-san sobre a ‘calcinha’.
É claro que eu estava surpreso. Não apenas pela falta de contexto e pela imprevisibilidade com que aquilo me atingiu. O que eu quero dizer é; Otonashi-san disse ‘Me deixe te dizer uma coisa boa’. Então ela declarou que, informações sobre «Kasumi Mogi» são «uma coisa boa» para mim.
Mas, minha paixão por Mogi-san, não foi notada nem por Daiya e nem por Kokone. Então não tem como Otonashi-san, que eu conheci hoje pela primeira vez, ter notado. Mesmo assim ela fez aquela observação.
“......diga, Mogi-san.”
“O que foi?”
Respondeu Mogi-san em uma voz suave. Por algum motivo sua voz me lembra a de um pequeno pássaro, o que combina com sua aparência pequena e delicada.
“Hoje, Otonashi-san falou com você?”
“...a estudante transferida? ...não.”
“Vocês não são conhecidas também, certo?”
Mogi-san confirmou assentindo com a cabeça.
“Ela fez algo suspeito para você?”
Após pensar por um momento ela balançou a cabeça de um lado para o outro. Os leves movimentos fizeram seus cabelos oscilarem.
“Porque você esta perguntando esse tipo de coisa...?”
Mogi-san perguntou inclinando a cabeça.
“Ah, nada... se não aconteceu nada então está tudo bem.”
Quando eu voltei a olhar para a quadra de esportes, Otonashi-san estava sozinha no centro do pátio em uma pose assustadora, não mostrando qualquer interesse pela bola ou pelas garotas pulando atrás da mesma. Quando a bola casualmente rolou em sua direção, ela chutou de volta levemente. ...err, aquela pessoa não era do outro time?
“Mmhh”
Talvez eu esteja pensando demais, ela não deve ter percebido meus sentimentos.
Otonashi-san causa impacto apenas pela sua aparência e atitude. Eu só fiquei muito preocupado com essa situação porque uma pessoa como ela do nada veio me dizer algo como aquilo. Uma lógica que qualquer um pode entender.
E mesmo assim––porque eu não consigo aceitar essa lógica?
Otonashi-san olhou em minha direção.
E ficou parada daquele mesmo jeito sem desviar seu olhar.
Olhando diretamente nos meus olhos. Ela ergueu o canto da boca vigorosamente. E apesar da aula ainda não ter terminado, ela veio caminhando em minha direção.
Quando percebi, eu já estava de pé. Abandonando o privilégio de dormir com a cabeça apoiada no colo de Mogi-san, o que deveria ser a felicidade suprema para mim. Meu corpo inteiro estava tremendo. Sem metáforas; eu realmente estava tremendo.
Mogi-san parece ter percebido Otonashi-san também, porque ela ficou tensa de ansiedade e se levantou assim como eu.
Ainda com um sorriso ousado, Otonashi-san apontou para mim... não, para Mogi-san.
Só então.
Uma súbita rajada de vento. Foi totalmente súbito. Ninguém poderia ter previsto.
Essa súbita rajada ergueu a saia de Mogi-san.
“~~~!!”
Ela imediatamente puxou sua saia para baixo. Mas só a parte da frente. Eu estava em pé atrás dela. Assim que a rajada passou, Mogi-san se virou para olhar para mim. Ela ainda estava sem expressão alguma como sempre, mas suas bochechas pareciam levemente avermelhadas para mim.
Seus lábios se moveram para dizer “Você viu?”. Não, ela deve ter dito, mas pelo menos eu não consegui ouvir sua voz baixa. Chacoalhei minha cabeça freneticamente. Acho
que por causa das minhas ações frenéticas ficou óbvio que eu vi. Mas ela não disse mais nada e apenas deixou seu olhar cair.
Otonashi-san veio instantaneamente em minha direção.
Eu vi sua expressão por um instante.
“Aah––“
Então eu compreendi o porquê eu estava tremendo daquele jeito. Pude perceber o significado por trás daquela expressão. Um sentimento jamais apontado para mim durante toda a minha vida até esse momento.
––Hostilidade.
Por quê? Porque contra alguém como eu?
Otonashi-san levantou o canto de sua boca e franziu as sobrancelhas para mim.
Enquanto eu estava apenas tremendo sem poder me mover, ela colocou sua mão no meu ombro e aproximou seus lábios da minha orelha.
“Era azul claro não era?”
Ela já sabia de tudo. Meus sentimentos por Mogi-san, que uma rajada de vento ia expor a calcinha dela para mim, ela já sabia de tudo.
Essa declaração não é nenhum tipo de piada. Isso foi––um aviso insinuando que ela me entende, que ela compreende minha forma de pensar, que ela me tem sob domínio.
“Hoshino, com isso você deve ter lembrado, certo?”
Otonashi-san continuou me encarando enquanto eu estava petrificado. Ficamos assim por alguns momentos, mas então ela pareceu se desapontar comigo por eu não ter respondido, então ela olhou para baixo e suspirou.
“Foi inútil mesmo eu tendo ido tão longe... entendi você está um nível mais estúpido hoje.”
Ela murmurou suas reclamações.
“Se você esqueceu, lembre agora. Meu nome é «Maria».”
... «Maria»? Não, err... você é «Aya Otonashi», não é?
“...E-É o seu pseudônimo ou algo do tipo?”
“Calado.”
Ela franziu o rosto sem nem ao menos tentar esconder sua irritação.
“Bom. Você não é um oponente muito ameaçador desse jeito, mas já que é assim vou agir a favor da minha própria conveniência.”
Otonashi-san se virou apontando suas costas para mim.
“Ah, espere...”
Eu a parei acidentalmente. Ela voltou a se virar em minha direção parecendo estressada. Eu intencionalmente estremeci por causa do seu olhar.
Eu não tenho certeza. Mas julgando pelas atitudes dela, talvez––
“Pode ser que nós já tenhamos nos encontrado antes?”
Ouvindo essas palavras, ela ergueu o canto da boca.
“Sim, nos éramos amantes na nossa vida passada. Oh meu amado Hathaway, como é miserável seu estado atual! Você não era um idiota antes quando veio me elogiar, a princesa de um país inimigo.”
“.........err, eh?”
Eu estava sem palavras. Otonashi-san parecia satisfeita me vendo nessa situação, e pela primeira vez hoje mostrou um sorriso que realmente se parecia com um.
“Estou brincando”
✵
No próximo dia.
Eu vi o corpo de Aya Otonashi.
8946ª vez
Após ouvir minhas palavras Mogi-san pensou um pouco, seus olhos com uma expressão triste. Então anunciou, parecendo realmente desconfortável, o seguinte.
“Por favor, espere até amanhã.”
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