Agora que eu penso nisso, Mogi-san não é do tipo que usa maquiagem. Isso não passou pela minha cabeça por um tempo, já que eu não sou um garoto que usa maquiagem, diferente de Maria.
Mas ela tem um estojo de maquiagem.
Por que?
Maria presumiu o seguinte.
--se tornou cansativo.
Eu não posso me lembrar, mas eu acho que originalmente, Mogi-san se preocupava bastante com a sua aparência. Mas durante a ‘Rejecting Classroom’ ela perdeu o motivo para se preocupar sobre isso e por tanto parou. O estojo está intocado dentro da mala dela desde 01 de Março – desde antes de a ‘Rejecting Classroom’ começar.
Mogi-san se cansou de por maquiagem e também se cansou de tirar o estojo da mala.
Somente alguém que manteve suas memórias por esses mais de 20.000 loops acabaria nessa situação.
O único que seria capaz disso--é o ‘portador’.
Portanto, a garota que eu amo; a garota que me ama – Kasumi Mogi é--a ‘portadora’.
«Tem algo que eu preciso te dizer, Kazu-kun.»
Durante o último loop – a 27.754ª repetição – Kokone ligou para o meu celular e disse o seguinte.
«A Kasumi ama você!»
Kokone sabia dos sentimentos da Mogi-san por mim. Eu tenho certeza que Mogi-san consultou ela sobre isso já que elas eram boas amigas até ontem.
Nós queríamos enganar Mogi-san.
Mas se nós fizéssemos isso, ela ficaria em guarda naturalmente. Maria já perdeu para ela inúmeras vezes. Se possível, nós não queremos dar para a Mogi-san a chance de se preparar.
Portanto, nós decidimos em usar Kokone como mensageira. Nós chegamos à conclusão de que poderíamos atrair a Mogi-san até nós se ela achasse que eu estivesse querendo me confessar.
Como resultado disso, nós--matamos Kokone.
Eu me lembrei das palavras de Mogi-san.
«...então, você sairia comigo?»
O quão frequente ela se confessava para mim? Por quanto tempo ela gostou de mim? Se era um amor recíproco, então porque--
«Por favor, espere até amanhã.»
Por que ela dizia isso?
Mogi-san estava parada sem esboçar nenhuma expressão, parecendo não estar consciente do sangue espalhado sobre ela.
--como sempre.
Ela sempre teve um rosto tão inexpressivo? Não, ela não tinha. Existe uma radiante e sorridente Mogi-san em uma parte de minhas memórias. Mas essa Mogi-san não parece ser real para mim, nem um pouco. A Mogi-san em minha mente é inexpressiva e silênciosa.
Mas e se essa Mogi-san radiante que não parece ser real para mim for à verdadeira?
Para onde a garota chamada Kasumi Mogi foi?
“Ela foi tomada.”
Como se estivesse respondendo minha pergunta, Maria recitou essas palavras.
“Ela foi totalmente tomada, durante essas infinitas repetições.”
Ela declarou enquanto lançava um olhar acusatório para Mogi-san.
Eu já pensei nisso há muito tempo atrás. Não tem como a mente humana aguentar um numero tão gigante de repetições.
E Mogi-san repetiu por 27.755 vezes.
A Mogi-san que repetiu o mesmo dia tantas vezes está agora coberta de sangue.
“...é sua culpa, Kazu-kun!”
Ela disse olhando para mim.
“É porque você me encurralou!”
“...Mogi-san, o que eu fiz?”
“Mogi-san”
Ela repetiu o que eu disse e o canto esquerdo de sua boca se ergueu.
“Eu com certeza disse, não disse? Eu realmente disse, não foi? Eu disse centenas de vezes, não é mesmo?”
“O-O que você...?”
“Eu disse ‘Me chame de «Kasumi»’, não disse?!”
...Eu não sei. Eu não sei... sobre isso...
“Eu disse centenas de vezes e você concordou centenas de vezes, não concordou? E mesmo assim, por quê? Por que você esquece logo em seguida?”
“Não é minha... culpa...”
“Não é sua culpa?! Eu me pergunto; o que não é sua culpa?”
Ela gritava histericamente. Mas seu rosto continuava inexpressivo.
Certamente, ela não tinha motivos para mudar de expressão durante essas milhares de repetições e esqueceu de como fazer isso. Ela não pode mais rir, chorar ou ficar zangada.
“Kazuki, não de ouvidos a ela.”
Mogi-san olhou para Maria finalmente.
“Não o chame pelo nome como se vocês fossem íntimos!”
“Eu sou livre para chamá-lo como eu quiser.”
“Você não é! ... porque o Kazu-kun lembra de você e não de mim...?”
“Kasumi, não foi você que fez as coisas assim? Porque é mais fácil repetir as coisas dessa forma.”
“Calada! Eu não queria isso!”
Agora que penso nisso, na última 27.754ª repetição, Mogi-san ficou assustada depois de ver que eu me lembrava da Maria.
Naquela hora eu estava certo de que ela estava aterrorizada pelo meu comportamento estranho. Mas agora que eu sei que ela é a ‘portadora’, minha percepção mudou. A decepção acumulada dela explodiu porque eu me lembrava da Maria e não dela, e por isso ela teve aquela reação.
“Kazu-kun...”
Eu não estou acostumado a ser chamado assim por ela.
Talvez ela tenha me perguntado antes se ela podia me chamar de «Kazu-kun», assim como ela me pediu para chamá-la de «Kasumi».
Eu posso ter esquecido, mas Mogi-san se lembra de tudo.
“Kazu-kun, você disse que me amava.”
“...Sim. Eu acredito que eu disse.”
“Eu concordei na hora! Eu te disse que eu também te amava!”
“......””
Suas palavras «Por favor, espere até amanhã» é tudo o que eu consigo me lembrar. Apenas isso. Eu não me lembro de mais nada.
“Você não se lembra, huh?”
Eu não pude abrir a boca para responder.
“Consegue imaginar o quanto eu fiquei feliz? Eu me esforcei tanto o tempo durante todas aquelas repetições para fazer você olhar para mim. Eu mudei o meu cabelo, eu tentei por Mascara, eu fiz coisas para chamar a sua atenção, eu aprendi seus hobbies, eu observei seu jeito de falar... e você sabe o que aconteceu então? Um milagre aconteceu! Sua atitude mudou claramente. Eu entendi que você tinha interesse em mim. Você aceitou minha confissão que antes você havia rejeitado. Você até se confessou para mim. Quando você fez aquilo, eu achei que eu finalmente tinha sido recompensada. Eu achei que um feliz «a seguir» me aguardava. Eu achei que as repetições iam terminar. Mas quer saber? ...Kazu-kun, você--”
Mogi-san olhou para mim inexpressiva como sempre.
“--esquecia cada uma das vezes.”
Eu não pude aguentar o olhar dela e olhei para baixo.
“Mesmo quando você esquecia, eu tinha esperança de que você se lembraria na próxima vez. Cada vez você aceitava minha confissão, cada vez você se confessava para mim, você fez minhas expectativas crescerem cada vez mais. Mas no final, você não se lembrava. Eu logo perdi as esperanças de que você poderia se lembrar. Mas você sabe, se alguém se confessa para você, não tem como você não criar expectativas! Afinal de contas, um milagre pode acontecer. E eu me machucava cada uma das vezes.”
Eu não conseguia me imaginar saindo com ela. Mas ela tornou real o que eu não podia imaginar. Ela fez eu me apaixonar por ela. Talvez essa seja a razão pela qual minhas memórias são mantidas vagamente.
Mas mesmo assim todo o trabalho dela foi sem sentido no final.
Não tem nada a seguir, no final das contas.
Depois que ela me fez olhar para ela, foi o final.
O que havia a seguir era um amor completamente unilateral.
Um amor completamente não correspondido e sem recompensa, não importa se ela foi capaz de capturar meu interesse.
“Portanto, eu não queria que você se confessasse mais para mim. Mesmo assim, você sempre vinha. Você dizia que me amava. Apesar de eu ficar feliz, isso só tornava as coisas mais dolorosas... por isso eu comecei a dizer aquelas palavras.”
E então ela repetiu as palavras que eu certamente já ouvi inúmeras vezes.
“‘Por favor, espere até amanhã’.”
Eu senti meu peito apertar.
Essas palavras a machucavam mais do que qualquer um – mais até do que machucavam a mim.
Mas eu me pergunto por que ela não encerrou a ‘Rejecting Classroom’, então? O amor não correspondido dela não seria recompensado. Mesmo que esse não fosse seu único objetivo, ela sofria com isso.
“Kazu-kun... você entendeu? É sua culpa que eu estou sofrendo. É tudo, tudo, tuuudo sua culpa.”
“Você está sendo ridícula.”
Maria a interrompeu com uma expressão mal-humorada.
“Esse é o cumulo da irresponsabilidade. Você apenas está forçando a responsabilidade da sua ‘Rejecting Classroom’ em cima do Kazuki porque você não consegue aguentar mais o seu sofrimento.”
“...não! É culpa do Kazu-kun que eu estou sofrendo!”
“Sinta-se livre para achar o que quiser. Mas o Kazuki não pensa assim. Não é nem possível lembrar-se de você. Kazuki manteve as memórias dele dessa vez pelos seus próprios motivos. Não pelo seu amor podre.”
“Por que... por que você sabe disso!?”
“Por que, você pergunta?”
Maria sorriu ouvindo essa pergunta e zombou dela.
“A resposta é simples.”
Ela falou com indiferença.
“Porque eu observei Kazuki Hoshino mais do que qualquer um nesse mundo.”
“O qu--”
Ouvindo isso, Mogi-san ficou sem fala.
Ela tentou se opor, mas a boca dela apenas abria e fechava sem que nenhuma palavra fosse pronunciada.
Eu fiquei quieto por uma razão diferente da Mogi-san. Quero dizer, afinal de contas. É embaraçoso ouvir isso!
“C-Contudo, eu o observei pela mesma quantidade de--”
“O seu tempo não vale nada.”
Maria a negou com um argumento irracional.
“Você não percebe o quão inútil é o seu tempo apenas olhando para a presente situação? Olhe para você mesma no espelho. Olhe para suas mãos. Olhe para seus pés.”
No rosto da Mogi-san havia sangue coagulado a ponto de se tornar preto.
Na mão dela havia uma faca de cozinha.
Aos seus pés estava o corpo de Kokone.
“Sinta se livre para contestar o quanto quiser. Insista que você esteve observando o Kazuki por tanto tempo quanto eu. Se você puder acreditar que existe algum significado nas suas palavras.”
Mogi-san parecia arrasada e deixou seu olhar cair.
Eu não tinha nada para dizer a ela.
“......ufu, fufufu. Você observou o Kazu-kun mais tempo do que qualquer um nesse mundo? Acho que sim. Pode ser exatamente como você diz. Ufufufu, mas isso não importa! Isso não importa.”
Ela estava rindo com sua cabeça ainda virada para baixo.
“Hmph, eu tenho pena de você. Então você quebrou no final.”
“No final...? Ufufu... o que você está dizendo?”
Ela apontou a faca para Maria sem mover seu olhar ainda apontando para baixo.
“Você acha que eu ainda estava sã?”
Ela ergueu o rosto.
“Eu vou te dizer algo bom, Otonashi-san! As pessoas que são mortas por mim, desaparecem desse mundo!”
Seu rosto inexpressivo como sempre.
“Portanto, isso não importa! Não importa quanto tempo alguém tenha observado Kazu-kun que vai desaparecer de qualquer jeito!!”
Mogi-san colocou força em sua mão segurando a faca e investiu contra Maria. Eu gritei o nome da Maria por reflexo. Mas Maria apenas manteve seu olhar entediado em Mogi-san e não parecia estar incomodada de nenhuma forma.
Ela apenas segurou normalmente o braço da Mogi-san que estava segurando a faca e a manteve imóvel daquele jeito.
“Ugh...”
A diferença de força era gritante. A um ponto em que eu me sentia envergonhado de sequer ter gritado pelo nome da Maria.
“Sinto muito. Veja bem, eu aprendi uma grande variedade de artes marciais. Ver através de seus movimentos descuidados é tão fácil quanto torcer o braço de um bebê.”
A faca caiu no chão fazendo barulho.
Sem sua arma, Mogi-san só podia observar sua faca no chão pasma.
“... tão fácil quanto torcer o braço de um bebê...?”
Mogi-san sussurrou isso ainda olhando para a faca.
“......ufufu”
Mesmo assim, mesmo sentindo dor, ela estava rindo.
“O que é tão engraçado?”
“«O que é tão engraçado?» ela perguntou! Ufu... ahaha, hahahahahahahahaa!”
Ela estava gargalhando com sua boca largamente aberta. Apesar de que seu rosto coberto de sangue estava longe de mostrar uma expressão feliz. Apesar de estar rindo, os cantos de sua boca não estavam erguidos. Ao invés de estar com os olhos estreitados, eles estavam arregalados.
Maria franziu seu rosto em desgosto ao ouvir essa gargalhada.
“É claro que é engraçado!! Afinal de contas, você comparou segurar meu braço com torcer o braço de um bebê! Você, de todas as pessoas! Você, Aya Otonashi disse isso! Isso é soberbo! Se não for soberbo, o que isso seria?!”
“Eu não faço a mínima idéia do que você acha tão divertido.”
“Sério? Então me diga, você é realmente capaz de torcer o braço de um bebê?”
Eu ainda não entendia o motivo da risada da Mogi-san.
Mas Maria ficou sem palavras.
“Você me pegou. Sim, que bom para você. Parabéns. E então? Qual era seu objetivo mesmo?”
“......”
“Eu sei qual é. Afinal de contas, eu o ouvi inúmeras vezes. É o fim desse mundo que fica se repetindo, certo? É obter a ‘caixa’, certo? O que você precisa fazer para tê-la? Você só precisa me matar para acabar com isso?”
“...eu diria que sim.”
“Eu sei que você aprendeu artes marciais! Você mesma me disse isso! O que você... o que você está fazendo, agindo como se estivesse um passo a frente de mim? Isso não é soberbo? Você por acaso achou que eu não sabia disso? Que constrangedor! É constrangedor, não? Você sabe... eu voltei ao passado tantas vezes quanto você. E eu te conheço muito bem! Você me desarmou. Você está segurando meu braço. E então--?”
Mogi-san voltou a sua expressão séria e falou em uma voz baixa;
“O que você vai fazer comigo agora?”
“......”
Maria não respondeu.
“Oh a gentil, gentil Otonashi-san. Você, que não pode me matar. Você, que não pode me torturar. Você, que não pode nem mesmo quebrar um osso meu. Seria você, que tão elegantemente odeia violência, capaz de torcer o braço de um oh tão frágil bebê? Não. Você não pode. É claro que você não pode.”
Eu entendo. Então esse era o principal problema que fez a Maria perder.
Quando violência é a única solução, Maria não pode fazer nada. E Mogi-san sabe disso.
“Pense nisso por um momento. Você não acha que eu já tive a chance de matar você e te ‘rejeitar’ durante todo esse tempo? Você sabe por que eu não fiz isso, apesar de você ser obviamente um incomodo? Primeiro, é conveniente que você me salve do acidente! Mas isso não é tudo. Eu percebi desde a primeira vez que você descobriu que eu tenho a ‘caixa’ e falhou em me persuadir.”
Maria rangeu os dentes.
“Você--nem ao menos conta como uma oponente.”
Há algum tempo atrás, Daiya me disse. Que o «Protagonista» é inferior a «Estudante Transferida» por causa da diferença na quantidade de informação.
Mas essa tese estava errada.
A Kasumi Mogi«Protagonista» tem mais informação que Aya Otonashi«Estudante Transferida».
“Eu já tive o bastante desse seu comportamento.”
Mogi-san disse propositalmente em um tom de voz entediado.
“...mas agora é diferente. Kazuki está aqui.”
“Parece que sim. Então, devemos tentar um novo desenvolvimento?”
Mogi-san chutou a empunhadura da faca. Ela veio girando em minha direção e parou ao meu pé.
“Pegue-a, Kazu-kun.”
Pegá-la? A faca?
Eu olhei novamente para a faca de cozinha aos meus pés.
Ela estava ainda mais coberta em sangue emitindo um brilho vermelho profundo.
“Diga, Kazu-kun. Você me ama? Se sim--”
Eu ergui meu rosto e observei os lábios dela se movendo.
“--eu vou te matar, então de essa faca para mim.”
----o que?
Eu não entendo. Eu sei o significado das palavras que ela disse. Mas eu não entendo o que ela acabou de falar.
“Você não me ouviu? Eu disse para você trazer a faca para que eu possa matar você.”
Ela repetiu para que eu entendesse.
“Mogi, o que você está fazendo, dizendo essas loucuras! Você não ama o Kazuki?! E mesmo assim, por que você está pedindo isso dele?!”
“Você está certa. Eu amo ele! Mas exatamente por causa disso eu quero que ele morra. Eu não disse? É culpa dele que eu estou sofrendo. Portanto, eu quero que ele desapareça. Não é uma conclusão lógica?”
Ela disse como se fosse completamente natural.
“Para começo de conversa, por que você acha que eu fingi ser atraída, apesar de eu saber que o Kazu-kun viria? Eu tenho um objetivo! Eu fiz uma decisão. --eu decidi matar o Kazu-kun.”
Ela disse essas palavras enquanto me observava pelo canto do olho.
“Eu posso ‘rejeitar’ o Kazu-kun se eu matá-lo. Ele vai desaparecer da minha frente. Se isso acontecer, eu tenho certeza que eu não vou mais sofrer. Eu vou ser capaz de ficar aqui para sempre.”
“Mogi, por que você está falando essas besteiras--ugh! Ah--”
Maria gemeu subitamente e se ajoelhou. Ela estava segurando seu lado esquerdo.
“...? Maria?”
Alguma coisa havia sido apunhalada em seu lado esquerdo.
...eh? Apunhalada?
“Ah--Ma-Maria!”
Maria se concentrou na coisa que estava apunhalada no seu corpo. Rangendo os dentes, ela puxou o corpo estranho para fora. Ela gemeu em silêncio novamente por causa da dor. Olhando com raiva para Mogi-san, ela jogou fora o objeto que ela tinha puxado.
Eu olhei para o objeto que rolou no chão fazendo barulho. Era um canivete.
“Você foi negligente. Você pode ter aprendido artes marciais, mas isso não te faz imune a ataques surpresa. Essa faca barata, que até mesmo deixa um garoto resistir após ser esfaqueado por ela, deve ser o suficiente para o seu corpo fino, certo? Eu sinto muito, mas você não pode mudar o seu porte nesse mundo não importa o quanto você treine!”
Maria tentou se levantar, mas sua ferida estava muito profunda, pelo que eu podia ver, então ela não conseguiu se erguer. O sangue escorria constantemente do seu lado esquerdo onde ela estava segurando.
“Eu tive varias experiências também, você sabe. Então eu achei que seria melhor ter isso comigo. Eu sempre carrego essa faca escondida.”
Mogi-san andou em minha direção até ela ficar diante de mim. Ela se abaixou e pegou a faca de cozinha.
“Ah--”
Apesar de ela estar completamente indefesa em relação a mim, eu fui apenas capaz de soltar esse som. Eu estava imóvel como se eu tivesse sido petrificado. Eu não podia fazer nada a não ser ficar parado como um prego encravado.
Meu corpo foi deixado para trás. Minha mente travou acreditando que isso não podia estar acontecendo e não aceitou a cena diante dos meus olhos.
“Eu não disse, Aya Otonashi? Pessoas que estão para desaparecer não importam.
Mogi-san montou em cima da Maria e ergueu a faca.
A faca, que antes estava erguida, desceu sem hesitação. De novo e de novo. De novo e de novo. Até ter certeza de que a respiração da Maria parou.
Durante isso, Maria não deixou escapar nem mesmo um gemido sequer.
“Se você continuasse sendo uma mera coisa desagradável como uma mosca que se amontoa nas fezes, eu teria poupado sua vida. Mas não, você tinha que dar em cima do meu Kazu-kun!”
Cuspindo isso, Mogi-san se levantou.
Maria não podia mais se mover.
Mogi-san observou a faca que ela usou para atravessar o corpo de Maria varias vezes, e então ela jogou a faca no chão diante de mim.
Eu olhei para a faca reflexivamente. Para a faca encharcada com o sangue da Kokone e da Maria.
“Muito bem, você é o próximo Kazu-kun.”
Eu me ajoelhei e relutante, toquei a faca. Minha mão se afastou instintivamente ao sentir a viscosidade do sangue. Eu engoli minha própria saliva. Minha mão começou a tremer. Eu não conseguia segurá-la apropriadamente. Eu fechei meus olhos e a segurei de alguma maneira. Então eu abri meus olhos novamente. O fato de que eu estou segurando a arma que matou a Kokone e a Maria fez com que minha mão tremesse ainda mais. Eu quase a deixei cair. Então eu a segurei com as duas mãos para suprimir o tremor.
Aah, eu não posso.
Fazer algo com essa faca não é possível para mim.
“O que você está fazendo, Kazu-kun? Vamos... me de a faca!”
Não, não sou apenas eu. Ninguém poderia fazer algo com essa faca.
Portanto--
“...Quem fez você fazer isso, Mogi-san?”
Mogi-san, também não deveria ser capaz de fazer isso. Não tem como ela ser capaz.
A menos que ela esteja sendo manipulada por alguém.
Ela me lançou um olhar confuso.
“...o que você está falando? Você está tentando dizer que alguém me mandou fazer isso? Você está bem, Kazu-kun? Não tem como isso acontecer, tem?”
“Mas eu me apaixonei por você.”
“......e o que você quer conseguir dizendo isso?””
“Mesmo depois de ter repetido o mesmo dia por mais de 20.000 vezes, mesmo sendo encurralada – Mogi-san jamais faria isso. A garota por quem eu me apaixonei jamais faria algo assim!”
Mogi-san hesitou por um momento pelas minhas palavras, mas então ela franziu a testa e respondeu.
“...entendo. Então, apelando para as minhas emoções, você quer fazer com que eu te poupe, huh? Eu estou desapontada. Eu nunca achei que você poderia ser tão injusto. Então você não quer morrer pelo meu bem, huh?”
Não tem como eu querer. Primeiro, eu não quero morrer, e eu não acredito que ela vai ser salva desse jeito.
“......Kazu-kun, você acha que alguém não deve matar em circunstância alguma?”
“...Sim.”
“Ufufu. Como você é direito. Sim, isso está completamente certo. Tão perfeitamente certo, não está?”
Dizendo isso, ela espiou dentro dos meus olhos.
“--então, até você morrer... não, então aproveite sua estadia aqui por toda a eternidade.”
E disse essas palavras friamente.
Provavelmente ela sabe que isso é a última coisa que eu quero.
“Afinal de contas--se eu entregar essa ‘caixa’, eu vou morrer.”
Em outras palavras, ela vai morrer se a ‘Rejecting Classroom’ terminar? Maria não falou nada sobre isso.
“Você entende? Tirar essa ‘caixa’ é o mesmo que me matar. Você acha que eu estou mentindo? Você acha que eu só estou dizendo qualquer coisa para proteger a ‘caixa’? Eu não estou! É fácil se você pensar sobre isso! Quero dizer, por que você acha que eu desejei voltar ao passado?”
Quando alguém deseja voltar no tempo? Talvez quando algo que não possa ser desfeito acontece...?
“Diga, você não acha que é estranho? Que eu sempre seja atropelada por aquele caminhão. Bom, teve vezes em que Aya Otonashi se sacrificou por mim, realmente... ah, falando nisso, teve vezes em que você se sacrificou por mim. Mas basicamente sou sempre eu, certo?”
“Ah—”
Não me diga que--
Finalmente eu percebi essa possibilidade.
Por que a Mogi-san não termina a ‘Rejecting Classroom’?
Aquele acidente de transito é um fenômeno inevitável dentro da ‘Rejecting Classroom’. Alguém, especialmente Mogi-san, vai sofrer um acidente. Eu não sei o porque, mas isso é certeza.
«Eu acho que--coisas que já aconteceram não podem ser revertidas.»
Eu disse essas palavras uma vez. E Maria respondeu o seguinte. ‘O que você sente é provavelmente o normal. E o criador da ‘Rejecting Classroom’ também sentia a mesma coisa.’
Então, assumindo que eu tenha a oportunidade de destruir a ‘caixa’. Ao mesmo tempo significaria--
“Você está preparado para me deixar morrer em um acidente?”
--matar a garota que eu amo?
Clonk--esse som ecoou. Eu me perguntei que som era, mas era o som da faca que estava em minha mão caindo.
“Que miserável. Você não é nem ao menos capaz de me dar a faca...”
Mogi-san veio até o meu lado e pegou a faca que eu deixei cair.
Ela provavelmente vai me matar agora.
Tendo acumulado pecado sob pecado, ela não pode justificar a si mesma de outra maneira a não ser continuar acumulando pecados. Se ela não fizer, sua consciência vai se destruir. Ela não tem mais como voltar atrás. Essa garota que perdeu a capacidade de controlar a si mesma vai ficar violenta e me matar.
Eu tenho certeza que--«Kasumi Mogi» deixou de ser «Kasumi Mogi» quando ela matou pela primeira vez.
Em sua face inexpressiva estava o sangue de duas pessoas.
Dobrando os joelhos, ela se ajustou para ficar na mesma altura que eu que não podia me levantar.
Ainda segurando a faca, ela me envolveu em seus braços. Os braços dela se cruzaram atrás do meu pescoço, aonde ela pressionou a lamina na minha artéria carótida.
Mogi-san aproximou o seu rosto para perto de mim e abriu sua boca.
“Se você puder, por favor, fique assim com os seus olhos fechados.”
Eu fechei os olhos como ela pediu.
Algo macio tocou meus lábios.
Eu imediatamente percebi do que era esse toque.
No final, certo sentimento brotou dentro de mim. Esse sentimento que não apareceu nem mesmo quando eu vi o corpo de Kokone, ou Maria sendo esfaqueada.
Raiva.
Eu não posso--perdoar isso.
“Não é a primeira vez que eu te beijo, sabia? Desculpe por ser sempre tão forçado.”
Eu não posso perdoar isso. Afinal de contas eu não me lembro. E tenho certeza que não vou me lembrar dessa vez também.
“Adeus, Kazu-kun. Eu amei você!”
Ela está satisfeita criando memórias que ela não pode compartilhar com ninguém? Talvez Mogi-san esteja satisfeita com isso. Quero dizer, ela se acostumou a estar sozinha até esse ponto.
Uma dor afiada percorreu a parte de trás do meu pescoço.
Traindo Mogi-san, que queria que eu ficasse de olhos fechados, eu abri meus olhos.
Ela ficou agitada, mas não pode desviar o olhar a tempo já que foi tão súbito. Aah, finalmente nossos olhares se cruzaram apropriadamente.
Eu segurei a mão dela.
Eu percebi pelo canto da minha visão como o liquido vermelho que escorria do meu pescoço para as mãos dela jorrava.
“...o que você está fazendo?”
“Eu... não posso perdoar.”
“Você não pode me perdoar? Fufu... Eu não ligo! Eu sei disso! Mas não importa! Isso é um adeus de qualquer forma.”
“Não é isso.”
“Não é você que eu não posso perdoar. É essa ‘Rejecting Classroom’ que está longe de ser um cotidiano normal!”
Eu coloquei força na mão a qual eu estava segurando o pulso dela. A mão delicada dela estava presa por mim. Minha visão escureceu por um momento. O sangramento no meu pescoço pode ser fatal.
“Me largue--!”
“Eu não vou!”
Eu ainda não sei o que fazer. Eu tenho certeza que não posso matar ela. Mas eu claramente percebi que essa ‘Rejecting Classroom’ é imperdoável. Portanto, eu não posso de maneira alguma desaparecer agora.
“Me deixe te matar! Por favor, me deixe te matar!”
Ela gritou. Apesar de essas supostamente serem palavras de rejeição, para mim soou como se ela estivesse gritando de dor. Quase como se estivesse se lamentando.
...ah, entendo. Eu finalmente percebi.
Ela está chorando.
Por fora, ela continuava inexpressiva como sempre. Ela não derramava lagrimas. Eu olhei diretamente para ela. Ela desviou o olhar imediatamente. Suas pernas estavam tremendo o tempo todo, sendo tão finas, elas mal pareciam ser capazes de sustentá-la. Ela, que perdeu suas expressões, não é capaz de perceber seus próprios sentimentos. Ela não consegue nem perceber que ela está chorando. Suas lágrimas não caem mais. Porque ela secou há muito tempo atrás, com certeza.
Desculpe-me por não ter percebido antes.
“Eu não vou deixar você me matar. Eu não vou deixar você me rejeitar.”
“Não brinque comigo! Não me atormente ainda mais!”
Me desculpe, mas eu não posso ouvir seu pedido.
Portanto--
“De forma alguma eu vou deixar você ficar aqui sozinha!”
Eu gritei.
Pode ser minha imaginação, mas eu sinto que ela perdeu a força por um momento.
Mesmo assim.
“Ah--”
Minha visão escureceu completamente. Um impacto no osso da minha face fez com que a minha visão voltasse temporariamente. O cenário tinha mudado do que era antes do blackout. Os chinelos manchados de sangue da Mogi-san estavam diante dos meus olhos. Minha mão não estava mais segurando o pulso dela e estava caída sem forças no chão.
Não é como se ela tivesse feito algo comigo. Eu apenas cai sozinho.
Eu achei que finalmente tinha encontrado um meio de persuadir ela e agora eu não posso nem me mover. Eu tenho problemas até em mover minha boca.
“Eu sou uma idiota.”
Eu ouvi a voz dela.
“Só por causa disso, só por essas palavras, eu--”
Eu não sabia com que rosto ela estava dizendo essas coisas já que eu não podia levantar minha cabeça.
“............Eu tenho que... matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar. Eu tenho que matar.”
Como se estivesse dando uma ordem para si mesma, ela repetia essas palavras.
Os chinelos dela se moveram. O sangue de alguém espirrou no meu rosto. Eu vi de relance o reflexo da faca de cozinha. --ah, ela está pensando em usar isso.
“Mas agora é adeus, Kazu-kun.”
Ela se ajoelhou e acariciou minhas costas gentilmente.
“---Eu tenho que matar.”
E então ela enfiou a faca.
“--Eu tenho que me matar.”
Em seu próprio corpo.
27755ª vez
“--Eu tenho que me matar.”
Eu me ordenei desesperadamente. Esse é a única maneira. A única maneira de prevenir que eu seja possuída pelo falso «eu» novamente.
Eu vou abandonar tudo.
Essa é a única forma que eu consigo pensar de pagar pelos meus pecados.
Eu atravessei a faca no meio do meu corpo.
Eu caí sob o corpo de Kazu-kun que estava caído. O rosto dele agora estava bem próximo ao meu. Ele finalmente percebeu o meu falso eu, e estava me observando com os olhos arregalados.
Por favor, não faça essa expressão. Para acalmar ele, eu tentei sorrir--mas eu percebi que eu não podia sorrir. Afinal de contas, eu não tenho sorrido ou chorado a eras.
A temperatura do meu corpo estava sumindo cada vez mais.
Eu espero que a sujeira dentro de mim também suma completamente.
«De forma alguma eu vou deixar você ficar aqui sozinha!»
Obrigado. Mas é impossível. Era impossível desde o começo, há muito tempo atrás.
Não estou certa? Quero dizer--
--eu já morri há muito tempo atrás.
0ª vez
Aah, eu vou morrer.
Eu fui jogada para longe pelo caminhão e estava pensando nisso enquanto meu tempo era prolongado a uma incrível extensão. Eu não sobreviveria a tal impacto. Eu vou morrer. Minha vida vai terminar aqui.
N-Não, eu não quero--
Eram as tolas palavras de alguém que jamais pensou seriamente sobre o que morrer significa seriamente, apesar de ter pensado em morrer varias vezes.
Morrer. O fim. Não tem nada adiante. Eu percebi o quão assustador esse fato é, agora que eu estava prestes a morrer.
Se for para isso ser assim, então eu preferia que isso acontecesse antes do meu mundo ter sido mudado pelo amor!
Apesar de eu conhecer o amor agora,
Apesar de eu ter um objetivo,
Apesar de eu ainda não ter feito nada com a pessoa que eu amo--
--isso é cruel de mais.
“Mhm, uma situação que me interessa.”
Esse homem (mulher?) apareceu do nada. Eu não faço idéia de como ele apareceu. Para começo de conversa, como essa pessoa pode falar comigo tão normalmente? Eu também não conseguia ver claramente onde ele estava. Eu estava toda torcida então eu nem sabia direito para que direção eu estava olhando. E mesmo assim, essa pessoa não desviou seu olhar de mim. Essa é uma situação impossível. Ah, não, isso não está certo. Eu estou em algum lugar desconhecido. Essa pessoa está parada em frente a mim. Eu não sei onde eu estou. Esse lugar não deixa nenhuma impressão forte, mas é um lugar especial.
“Não me entenda errado, quando eu falo dessa situação, não é sobre você ser vítima de um acidente. Esse tipo de coisa é comum e acontece no mundo todo. O que chamou minha atenção, é que esse acidente aconteceu próximo ao garoto em que eu tenho interesse.”
O que essa pessoa está dizendo?
Eu ouvi falar que você tem um flashback de toda a sua vida quando você morre, mas eu não ouvi nada sobre ser trazida para esse lugar e conversar com essa pessoa.
Essa pessoa é o ceifador ou algo assim?
Essa pessoa que não se parece com ninguém, mas que poderia se parecer com qualquer um.
Mas de uma coisa eu tinha certeza. Essa pessoa é fantástica. Sua aparência, sua voz e sua fragrância me fascinam.
“Eu quero ver como esse garoto reage a ‘caixas’ usadas próximas a ele. Ah, mas é claro que eu também estou interessado em como você vai usar a sua ‘caixa’. Afinal de contas, eu estou interessado em toda a humanidade. Bom, mas naturalmente, sobre você é apenas «enquanto aquela pessoa estiver envolvida».”
Dizendo essas coisas incompreensíveis, a pessoa sorriu.
“Você tem um desejo?”
Um desejo?
É claro que eu tenho um.
“Essa é uma ‘caixa’ que garante qualquer desejo.”
Eu a aceitei.
Imediatamente eu entendi que aquilo era real. Portanto, eu estava determinada a não largar dessa‘caixa’.
Por favor, se esse final não puder ser mudado, então, por favor, me deixe apenas refazer as coisas um pouco. Mesmo que seja só ontem é o bastante. Tem algo que eu ainda preciso fazer. Se eu puder apenas refazer ontem, eu posso expressar meus sentimentos. Se eu puder fazer apenas isso, eu tenho certeza que eu não vou ter arrependimentos. Não importa qual seja a conclusão, eu não vou ter arrependimentos. Por favor, faça o tempo voltar só um pouco. Eu sei que isso é impossível. Mas mesmo assim, esse é o meu desejo.
Quando eu desejei, a tampa da ‘caixa’ abriu como a boca de um animal carnívoro, se misturou com o ambiente e desapareceu.
Sim, certo. Deve estar certo dessa maneira.
“Huhu--”
A pessoa sorrindo de uma maneira charmosa comentou o meu desejo em uma única frase.
“--então você se conteve.”
E então ele desapareceu.
Eu fui jogada para fora desse lugar especial que não deixa nenhuma impressão.
Eu pousei em uma câmara envolta em escuridão, onde um cheiro podre invadiu meu nariz, como se inúmeros corpos tivessem sido abandonados aqui. Era um lugar nojento, se fosse comparado, uma prisão seria como o paraíso. Aah, se eu ficar aqui por uma hora que seja eu vou desmaiar. Mas esse lugar está começando a se tornar branco, quase como se estivesse sendo pintado. Eu perdi os limites do quarto de visão porque tudo se tornou branco. Uma fragrância que parece ter sido feita de doces fez com que o cheiro podre sumisse. Cada vez que eu piscava, quadro negro, mesas, cadeiras e outros objetos necessários eram adicionados. Todos os objetos estavam lá, então à única coisa que falta é chamar os personagens necessários. Adicionar as pessoas que entraram na nossa sala ontem. Se eu fizer isso, eu posso refazer as coisas. Eu posso refazer o ontem.
Mas não importa o quão bem feito seja a pintura, esse lugar ainda é aquela câmara, a qual até uma prisão parece ser melhor.
Meu mundo após a morte, embalado em um branco, branco, branco desespero.
Então, sim. Se eu perceber que sou incapaz de alcançar o meu objetivo--
--eu vou ter que destruir essa caixa por mim mesma, antes que essa bela decoração se desprenda e antes que eu possa ver essa cena lamentável.
5000ª vez
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu brincando com essa estúpida idéia sem sentido quando eu o consultei.
6000ª vez
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu pela enésima vez brincando com essa solução desesperada quando eu o consultei.
7000ª vez
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu brincando com essa solução lógica.
8000ª vez
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu brincando com sua teoria como se estivesse se auto-afirmando.
9000ª vez
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu brincando com esse fato óbvio para alguém que está encurralada como eu.
9999ª vez
Eu já ouvi os meios de matá-lo de sua própria boca.
“Como fazer alguém não querer encontrar outra pessoa nunca mais?”
Haruaki já sugeriu o mesmo método varias vezes. Eu já ouvi isso tantas vezes que estou cansada disso. Eu cheguei à conclusão de que, sentir culpa em relação à certa pessoa é a melhor maneira de fazer alguém não querer mais encontrar certa pessoa. Como sempre.
E como sempre, ele me disse a maneira de criar sentimentos de culpa em relação a alguém.
“Porque não apenas matá-lo?”
Haruaki-kun sugeriu brincando, esse que é o único método possível para alguém em minha situação.
“Em ultimo caso, você sabe. Bom, apesar de que, se você matar essa pessoa, não é nem um problema de encontrar ou não encontrar mais, hehe!”
Porque existe a necessidade de ‘rejeitar’ o Haruaki-kun? É porque eu acho que isso é o que mais vai afetar a mim e o Kazu-kun quando ele desaparecer.
Viver nesse mundo lembra jogar um jogo de Tetris que você não pode terminar. No começo você da o seu melhor para fazer um novo recorde. Isso é legal. Mas depois de um tempo isso se torna indiferente. Afinal de contas, não importa se você fizer um novo recorde ou não, é só um jogo que vai ser reiniciado. E daí você tem que começar tudo de novo. Nada muda mesmo quando você acaba em um Game Over. Você faz o seu melhor para se divertir, mas com esse sentimento, os blocos atingem o topo em um instante. Isso se torna entediante. Se torna desinteressante. Se torna difícil. Se torna penoso. Você perde a motivação até mesmo para virar os blocos. É indiferente. E apesar de ser indiferente, os blocos não param de cair. E não importa o quão freqüente eles atinjam o topo, você não pode parar o jogo. Se você parar, você morre. E eu não quero isso. Afinal de contas eu tenho um objetivo a cumprir. Eu tenho que viver o dia de hoje sem deixar nenhum arrependimento para trás. Então eu tenho que mudar esse sistema de alguma maneira.
Haruaki é uma parte importante desse sistema.
Portanto, eu tenho que ‘rejeitá-lo’.
“......você pode me dizer mais uma vez o que eu devo fazer para criar sentimentos de culpa?”
“...Kasumi, qual o problema? Bom, apesar de que eu não me importo...”
Haruaki disse como sempre.
“Porque não apenas matá-lo?”
Com essa, é a 1.000ª resposta.
Certo! Esse é o único meio. Sim. Então não há mais nada para se fazer. Você entende certo? Afinal de contas, você me disse isso 1.000 vezes, então você compreende não é mesmo? Ou melhor, você quer que eu faça isso não é mesmo?
--você quer ser morto por mim, certo?
10000ª vez
“Por favor, pare! Eu imploro, não me mate!”
Eu não me importei com as palavras dele.
Eu vou matar Haruaki Usui.
Afinal de contas, ele sugeriu isso por ele mesmo!
Eu ***ei Haruaki Usui.
E então eu desapareci. A pessoa que era conhecida como Kasumi Mogi desapareceu. Eu acho que não vou ser capaz de encontrar a ‘mim mesma’ outra vez, aquela eu foi esmagada pela agonia, virou pó e foi jogada fora em algum lugar. Independente disso, meu corpo vai continuar ressuscitando eternamente. Ele vai ressuscitar independente de estar vazio por dentro.
Eu senti algo invadindo meu corpo vazio.
Algo que nasceu dentro dessa ‘caixa’ imunda. Algo inacreditavelmente grotesco que tinha um cheiro tão nojento como se um amontoado de insetos mortos estivesse colado uns nos outros com fezes. Eu rejeitei isso. Eu continuamente rejeitei isso. Mas eu já sabia. Mesmo que eu rejeite isso inúmeras vezes, essa coisa vai me invadir aos poucos pelas minhas aberturas. Essa coisa fareja meus pontos fracos como uma hiena e quando os devora eu fico manchada com essa tinta negra. Eu me tornei suja e perdi noção de mim mesma. Eu me tornei uma falsa eu, que apesar de tudo não era ninguém mais do que eu mesma.
Mesmo assim, eu ainda não posso terminar.
Afinal de contas, eu desejei por um hoje sem arrependimentos.
--hoje sem arrependimentos?
“Hahaha.”
Eu sou estúpida? Não tem como existir algo assim. Esse é o meu mundo após a morte. Não tem como meus arrependimentos na vida real desaparecerem se eu fizer algo nesse mundo após a morte. Mesmo que o Kazuki se confessasse para mim nesse mundo, seria sem sentido. Como eu poderia ficar satisfeita em um hoje separado sem conexão com nada em lugar nenhum? ...veja, nada me vem a mente.
Meu resultado que eu espero há tanto tempo.
Para poder perseguir isso, eu fiz o meu melhor o tempo todo até agora nesse mundo completamente paralisado.
Mas eu ainda nem faço idéia do que esse resultado que eu espero a tanto tempo é.
Eu desejei isso por todo esse tempo sem ao menos saber o que era.
E então eu cheguei à conclusão de que esse resultado não existe.
“Eu não quero morrer!”
Aah--certo, finalmente eu percebi.
Então esse era o meu ‘desejo’.
Então é por isso que ‘desejos’ não podem ser compensados por toda a eternidade.
Eu distorci a ‘caixa’ tanto porque eu não sabia disso. Esse meu ‘desejo’ distorcido se tornou um «apego» e não pode mais desaparecer. Isso está dentro da ‘caixa’, portanto isso não vai desaparecer.
Esse «apego» continua lá e é o que move esse falso eu.
Então eu tenho certeza que, mesmo que eu desapareça, essa ‘caixa’ jamais irá.
27755ª vez
“De forma alguma eu vou deixar você ficar aqui sozinha!”
Com apenas essas palavras, Kazu-kun me fez voltar a ser a antiga Kasumi Mogi apenas por um instante.
“Eu sou uma idiota.”
Apesar de que eu já tinha decidido. Apesar de eu ter decidido desde o começo que eu destruiria a ‘caixa’ antes de eu ter que ver essa cena lamentável.
Mas a minha determinação se tornou cada vez mais fraca durante essas intermináveis repetições e acabou por desaparecer.
Uma vez, quando eu matei alguém cujo nome eu não me lembro mais, eu deveria ter me tornado incapaz de voltar.
“Só por causa disso, só por essas palavras, eu--”
--pude voltar ao meu antigo eu.
Meu amor me salvou no último momento.
Mas eu sei que eu vou ser dominada de novo em pouco tempo.
Eu vou ser dominada por essa ‘caixa’.
Portanto, enquanto eu ainda sou «Kasumi Mogi»--eu tenho que me matar.
“Adeus, Kazu-kun.”
E agora, essa ‘caixa’ que era tão conveniente, mas foi incapaz de me trazer alegria vai acabar.
Eu posso morrer caída sob o meu amado. Talvez isso seja, no final, algum tipo de felicidade. Portanto isso é o bastante para mim. É o bastante para mim.
Eu fechei meus olhos.
Eu certamente não os abrirei por um t--
“Quem te deu o direito de morrer?”
Eu me assustei e abri meus olhos.
Essa pessoa inidentificável que me entregou a ‘caixa’ estava ali. Kazu-kun não parecia perceber ele, então eu acho que ele só é visível para mim.
Quando nossos olhares se encontraram, essa pessoa sorriu calmamente.
“Eu ainda quero observar esse garoto. É problemático para mim se você acabar com essa oportunidade de observação ilimitada de sua própria vontade.”
O que? ...O que ele está dizendo?
“Bom, eu acho que não é tão excitante com situações similares o tempo todo. Vamos ver... é contra os meus princípios, mas eu posso tomar conta da ‘caixa’? Eu vou mexer nela um pouco. Você estava planejando destruí-la de qualquer maneira, então você não se importa certo?”
Sem esperar pela minha resposta, ele colocou a mão no meu peito. No momento em que ele encostou.
“Ugh, aaaah! AAaaAAahhh!!”
Uma dor intensa que eu jamais poderia imaginar. Uma dor que fez até mesmo eu gritar, apesar de eu ter me acostumado a ser atropelada por caminhões e nem ao menos soltei minha voz quando perfurei meu próprio peito. O tipo de dor era diferente. Era uma sensação como se minha alma fosse cortada em milhares de pedaços. Uma dor que ataca diretamente nos nervos sem nenhuma barreira.
Ele tirou a ‘caixa’ do tamanho da palma de uma mão e sorriu.
“Aah, eu acho que você já sabe disso, mas essa ‘caixa’ não funciona mais sem você. Então eu vou colocar você dentro da ‘caixa’.”
Quando ele disse isso, ele começou a me dobrar.
Ele me dobrou e dobrou, e então ele me espremeu dentro da ‘caixa’.
Kazu-kun. Por favor, Kazu-kun.
Eu sei que eu estou sendo egoísta. Eu sei que é absurdo, depois de tudo que eu fiz com você. Mas, mas--Eu não aguento--Eu não aguento mais--
Kazu-kun, me ajude--
Grupo de Tradução desta Novel(Deste Cap.):
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