27754ª vez
Eu estava sem rumo depois da ruína da minha relação com a Otonashi-san e a súbita ligação da Kokone em seguida. ...isso é só uma desculpa, na verdade.
Eu esqueci completamente.
Que um acidente iria com certeza acontecer no cruzamento.
Eu estou seguro. Eu lembrei graças a um reflexo que me ocorreu quando eu me aproximei daquele cruzamento, já que o choque de ser morto uma vez é grande de mais. Auto-preservação não é um problema.
Mas isso não era o suficiente para mim. Porque, esse acidente vai acontecer não importa o que, então outra pessoa vai ser atropelada.
Eu me esqueci disso. E por causa disso, eu não posso salvar essa pessoa. Apesar de eu saber que alguém ia ser atropelado, eu não impedi. Eu ter me esquecido nem ao menos conta como uma desculpa.
Eu sou horrível. É o mesmo que se eu tivesse matado essa pessoa. Kasumi Mogi estava lá.
A garota que eu amo estava lá.
O caminhão estava seguindo em direção a ela com uma velocidade absurda como sempre.
Eu incapaz de salvá-la da minha atual posição. Não importa o quão impulsivo eu corra em direção a ela, eu não sou capaz de salvá-la a essa distancia.
Ela vai ficar manchada de sangue. A garota que eu amo vai ficar manchada de sangue. A garota que eu amo vai, por minha culpa, ficar manchada de sangue. Que nem quando eu a ignorei de novo e de novo, por minha culpa de novo e de novo, a garota eu eu amo vai ficar manchada de sangue de novo e de novo.
"U-UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!!"
Eu corri na direção do caminhão. Para salvá-la? Não. Certamente não. Eu apenas não pude aguentar meus sentimentos de culpa e por isso quis agir como se eu tivesse feito algo. Puramente auto-satisfação.
Horrível. O quão horrível eu sou?
Então eu vi. “Eh...?”
A garota, que já não tinha mais nenhuma esperança, foi jogada para longe.
Não fui eu.
Eu estava em uma posição distante de onde eu jamais poderia alcançá-la. Consequentemente, só havia uma pessoa que poderia ter feito isso.
Apenas a garota que continuou lutando mesmo quando eu abandonei minhas memórias e agi como se não a conhecesse.
Mesmo que ela não pudesse fazê-lo a tempo. Mesmo que ela não pudesse fazê-lo a tempo de salvar a si mesma.
Mesmo assim, ela--
--Aya Otonashi se jogou. Ah, certo. Eu me lembro.
Eu já testemunhei essa exata mesma cena inúmeras vezes.
Para ela, isso vai sempre se repetir de qualquer jeito. Até mesmo o fato de que ela salvou alguém vai desaparecer. O que sobra é apenas as memórias da dor até a morte dela. E o medo de encontrar a morte. O desespero de saber que ela vai ter que repetir a mesma coisa de novo.
Mas, mesmo assim, Aya Otonashi se jogou em frente do caminhão. Para salvar outra pessoa de ser atropelada.
De novo e de novo. Milhares de vezes. Certo.
Porque eu esqueci isso?
O alto barulho de uma batida ressoou, mas o caminhão não parou seu curso e esmagou o muro a baixo com um som estrondoso. Eu me aproximei da Otonashi-san enquanto me impressionava pelo som. Do lado dela, Mogi-san estava caída paralisada na mesma posição em que ela foi jogada. Aparentemente ela sofreu um choque.
Eu olhei para Otonashi-san.
Sua perna esquerda estava torcida em uma posição anormal.
Ela estava suando frio, mas começou a falar com uma resolução como se ela não estivesse machucada.
“Da ultima vez, eu matei você.”
Apesar de que falar deveria ser doloroso para ela, ela disse claramente.
“Eu achei que tudo iria terminar se eu matasse o „portador‟. Eu estava relutante. Mas no momento que eu acreditei que essa era a única maneira de sair da „Rejecting Classroom‟. Eu aceitei me tornar um ser inferior a um humano. É difícil de acreditar, mas eu pensei naquela hora que poderia ficar tudo bem daquela maneira. O motivo é que, eu achei que o „eu‟, que se tornou um ser inferior a um humano, fosse desaparecer depois que eu saísse da „Rejecting Classroom‟.”
Eu finalmente entendi porque ela agiu como se tivesse esquecido tudo naquela hora. Ela não podia perdoar a si mesma.
Por aprovar minha morte quando eu fui a vítima do acidente.
Ela se sentia tão culpada a um nível em que ela estava para abandonar a idéia de sair da
„Rejecting Classroom‟ e obter a „caixa‟ que ela tanto queria.
« Então porque você me matou?!!»
Ela se sentia tão culpada que não pode nem mesmo responder contra essas palavras.
O quão cruel foram aquelas palavras que eu disse para ela? E elas nem eram verdade no final de contas.
Da última vez, eu me joguei para salvar a Mogi-san e morri por causa do acidente. Eu considerei isso como culpa da Otonashi-san, assim como sempre considerei as mortes da Mogi-san como culpa dela.
Por causa desse preconceito eu gritei algo como «Você me matou». Eu devia ter percebido esse mal entendido no momento em que ela negou os assassinatos. Na verdade ela apenas não foi capaz de me salvar.
Por alguma razão esse acidente sempre acontece. Alguém é atropelado com certeza. Apenas aconteceu de ser eu aquela vez por coincidência.
“Mph, eu só posso rir da minha própria idiotice. Não tem como a culpa desaparecer só porque eu iria me esquecer. E sério, a „Rejecting Classroom‟ não acabou e eu tive que lidar com o meu eu que se tornou um ser abaixo de um humano. Eu não posso imaginar uma situação aonde a „retribuição‟ do mundo se aplicaria melhor.”
Após dizer isso, ela vomitou sangue.
“Otonashi-san, você não precisa falar se isso te machuca...”
“Vai ter alguma outra chance para falar? Eu já me acostumei com essa dor. Isso não é nada. Essa dor momentânea é muito melhor do que sentir dor cronicamente por causa de uma doença.”
Você não pode chamar isso de estar „acostumada‟!
“Eu não perdi minhas memórias, nem sai da „Rejecting Classroom‟. Fufu... eu acho que eu já sabia. Que eu não iria ser libertada da „Rejecting Classroom‟.”
“...porquê?”
“É simples. Eu sei disso. Minha tenacidade não me libertaria tão facilmente.”
Otonashi-san se levantou cambaleando. Mesmo que ela pudesse continuar deitada, mas eu acho que ela não pode aguentar me ver olhando ela por cima.
A perna dela não funcionou no final das contas. Ela tossiu sangue violentamente. Mas então ela se levantou usando o muro como suporte e olhou para mim.
Provavelmente porque Otonashi-san se levantou, a Mogi-san inexpressível e petrificada também começou a se mexer também. Então ela me encarou timidamente.
“Você está bem, Mogi-san?” “......hy!!”
Ela gritou subitamente.
“O-Oquê vocês estavam falando... agora a pouco...? Mmhm, não apenas agora, desde ontem... o que vocês dois?”
...o que? Pra quem você está olhando com esses olhos? Para quem você está olhando com esses olhos assustados?
...eu sei. Eu sou quem está na mira do olhar dela.
De alguma forma eu fui incapaz de deixá-la sozinha e tentei tocar o rosto dela. “N-Não me toque!”
Aah... você está certa. O que eu estou fazendo? Porque eu estou tentando confortá-la, apesar de eu ser aquele que a está assustando? Ou será que eu pensei que isso fosse acalmá-la? Eu realmente pensei que eu poderia acalmá-la? ...não tem como eu ser capaz disso.
“... o quê... é você...?”
Eu firmei o meu punho. Eu não posso explicar nada para ela. Então eu não tenho outra escolha a não ser suportar esse olhar.
Eu adoraria explicar a situação toda agora mesmo para ela. Talvez ela nem ao menos compreenda minha situação.
Mas--Eu não devo fazer isso.
Afinal de contas eu tenho que lutar. Eu tenho que lutar contra a „Rejecting Classroom‟. E para isso eu preciso rejeitar o falso cotidiano da „Rejecting Classroom‟.
Eu estava determinado a isso desde que eu segurei a mão da Otonashi-san antes. Eu vou rejeitar. Até mesmo que eu tenha feito a Mogi-san rir um dia, que eu pude vê-la com o rosto vermelho, e até mesmo que ela me deixou dormir no colo dela -- Eu rejeito tudo isso.
Mogi-san desistiu de tentar me entender e ficou parada ainda assustada.
Ela deu um passo para trás cambaleando enquanto ainda olhava em nossa direção, como se estivesse rezando para que não fossemos atrás dela. E então ela fugiu.
Eu fiquei olhando para ela.
E nesse momento eu me forcei a ter certeza que não desviaria meu olhar. Já que essa é supostamente a conclusão que eu desejei.
“----eu percebi a sua determinação.”
Otonashi-san que ficou nos observando do inicio ao fim disse isso ainda apoiada no muro.
“Então eu também vou criar essa mesma determinação. Eu vou desistir de tentar obter a
„caixa‟ pelo bem do meu objetivo.” “...eh?”
Isso me incomoda. Isso me incomoda muito. Eu preciso da força da Otonashi-san. Eu abri minha boca sem pensar para impedi-la.
Quando eu fiz isso.
“--Portanto eu devo te dar uma mão.”
“...eh?”
Eu não experava por isso.
Me dar uma mão? Aya Otonashi vai me dar uma mão?
“Porque essa boca aberta como um idiota gritando? Eu acabei de dizer que vou te dar uma mão. Você não me ouviu?”
Mas isso é tão impossível quanto o sol nascer no oeste e se por no leste.
“Eu perdi meu rumo. Assim como você tinha reclamado, eu me tornei um ser inferior a um ser humano por matar você. Não, ainda pior. Eu sou uma covarde que abandonei meu próprio objetivo e tentei fugir por que não pude admitir isso. Para simplificar, eu me rendi a „Rejecting Classroom‟ uma vez. E eu continuei fugindo e dizendo para mim mesma que não tinha mais nada que uma „caixa‟ derrotada como eu poderia fazer.” Apesar de ela estar falando mal de si mesma, o brilho no seu olhar ainda era afiado. Eu estava um pouco aliviado.
“Mas isso não vai me fazer hesitar mais. Eu certamente fiz algo digno de vergonha. Mas não tem porque eu me diminuir por causa disso. Nada vai se resolver se eu só ficar me arrependendo. Portanto eu não vou mais fugir. Então--”
Ela fechou sua boca por um momento, hesitando para terminar o que ia dizer. Mas já que eu estava para começar um sermão, ela terminou.
“Então por favor---me perdoe.”
Aah, entendo. Foi isso que ela quis dizer.
Essa conversa estranha é supostamente um pedido de desculpas para mim. Esse pedido é completamente sem sentido.
“Eu não posso perdoar você.”
Otonashi-san olhou para mim surpresa por um instante me ouvindo dizer isso tão claramente, mas logo em seguida sua face voltou a sua expressão séria. “Entendo... perdoar alguém que te assassinou não é possível. Eu entendo.”
“Não é isso.”
Ela franziu a testa como se minhas palavras fossem incompreensíveis para ela.
“O que eu quis dizer foi...Eu não tenho idéia o porque de eu ter que te perdoar para começo de conversa.”
Certo. Não é como se eu não tivesse perdoado ela. Eu apenas não posso perdoar ela. Ela não tem culpa alguma.
“...Hoshino, o que você está dizendo? Eu...” “Você me matou?”
“...certo.”
“Do que você está falando?”
Eu sorri espontaneamente. “Eu estou aqui!”
Sim. Isso não tem relação nenhuma. “Eu estou aqui, Otonashi-san.”
Não importa o quão responsável ela se sinta, isso não é de forma alguma algo que não possa ser desfeito.
Eu não entendo porque ela se sente tão culpada, de qualquer forma. Ela não é a criadora da „Rejecting Classroom‟ afinal de contas. Otonashi-san foi apenas envolvida na
„Rejecting Classroom‟--
--não, isso não está certo.
Otonashi-san não é apenas uma vítima. Ela é uma administradora que entende nossas personalidades e pode ler através do nosso comportamento. Ela sabe como as ondas na água vão expandir se ela jogar a pedra em um certo lugar. Ela é uma administradora pelo menos no mesmo nível que o próprio criador da „Rejecting Classroom‟. Precisamente por causa desse poder, ela se sente responsável pelas coisas que acontecem. Ela acha que as coisas só vão funcionar quando ela apenas agir corretamente.
Portanto ela considera sua própria culpa quando ela não pode e não previne a morte de alguém.
Mas foi ela mesma quem disse. Que a morte na „Rejecting Classroom‟ é apenas temporário.
“Eu não acho que qualquer coisa sobre isso importe. Mas se você insistir nisso mesmo assim, então que tal usar certa palavra mais apropriada?”
Ela não se moveu por alguns instantes e manteve sua testa franzida. Quando eu achei que ela finalmente tinha voltado a se mover, ela olhou para baixo.
“Fufu...”
Os ombros dela estavam tremendo. Eh? O quê? O quê isso significa? Eu fiquei nervoso e prestei atenção nela.
“hehe...haha...Hahahahahaha!!”
--ela está rindo! Na verdade é uma gargalhada explosiva!!
“H-Hey! Porquê você está rindo aqui? Me desculpe mas eu não entendi!!” Otonashi-san continuou sua gargalhada por um tempo sem ouvir meus protestos.
Droga... o que é isso? Eu estava confiante de que tinha dito algo „legal‟, mas parece que no final foi apenas motivo de risada...
Ela finalmente parou sua risada e voltou para a sua expressão destemida de sempre enquanto me dizia com os lábios tortos.
“Eu me transferi 27754 vezes.” “...eu sei disso muito bem.”
“Eu estava convencida de que eu tinha entendido seu comportamento perfeitamente durante esse tempo. Mas eu não pude prever que você ia dizer o que você acabou de dizer. Você pode imaginar o quão incrível isso é para alguém que se acostumou com o tédio?”
Ela disse, parecendo bastante satisfeita. Eu ainda não pude entender as reais intenções dela e inclinei minha cabeça em dúvida.
“Hoshino. Você é realmente incrível. Você é um humano como eu nunca vi antes. A primeira vista você parecia uma pessoa comum sem nenhuma crença, mas na verdade não tem ninguém que seja mais vigorosamente apegado ao dia a dia do que você. Exatamente por causa disso você é capaz de claramente distinguir esse falso cotidiano
do verdadeiro. Melhor até do que eu mesma.” Melhor do que a Otonashi-san?
“Isso não é verdade. Eu não posso distinguir tão claramente assim. Afinal de contas, meu coração ainda dói quando o acidente acontece, mesmo eu sabendo que isso vai ser desfeito...”
“É claro. Isso não tem nada a ver com distinção. Por exemplo, quando você vê um filme ou lê um livro, você se sente desconfortável que nem se sentiria na realidade quando o personagem passa por coisas ruins, não se sente? É a mesma coisa aqui.”
É realmente assim? Eu não entendo direito. “---Hoshino.”
“O que?”
“Me desculpe.”
Foi muito súbito, eu não entendi pelo que ela estava se desculpando. Antes de eu perceber a expressão satisfeita do rosto dela desapareceu.
“Realmente, eu estou envergonhada da minha própria incompetência. Eu sinto muito.” “E-Está tudo bem...”
Eu apenas me sinto inconfortável quando alguém obviamente superior a mim me pede desculpas tão honestamente. Eu vacilei como se eu estivesse sendo criticado por ela. Eu tenho que admitir que eu sou patético.
“Isso foi uma mera cortesia, mas isso está bem para você, certo? Eu apenas tenho que continuar a te compreender normalmente, te entender e te indicar o caminho. É isso o que você espera de mim, certo?”
“S-Sim...”
“Pedir desculpas, huh? Certamente é uma necessidade, mas tenho a impressão de que eu não faço isso há anos.”
...Eu tenho certeza que é exatamente assim.
“Muito bem então, está na hora. “Hora?”
“Para o fim da 27.754ª „Transferência Escolar‟. E o início da 27.755ª „Transferência Escolar‟.”
“Aah, entendo.”
Eu aceitei esse estranho fato surpreendentemente calmo.
Varias pessoas já se amontoaram ao redor por causa do enorme acidente, o que á natural, quando você olha ao redor. Entre eles estavam vários uniformes familiares. Kokone também estava entre eles nos observando. Nós estivemos conversando todo esse tempo enquanto ignorávamos todos ao nosso redor. Bom eu acho que posso entender porque a Mogi-san estava assustada. Uma Otonashi-san coberta em sangue conversando naturalmente comigo é com certeza estranho
Eu ofereci minha mão para Otonashi-san.
Ela aceitou minha mão, que outra pessoa recusou antes, sem hesitar.
Meu coração foi despedaçado por um poder absurdo como se estivesse sendo esmagado por um trator. O céu começou a se fechar como se eu estivesse dentro de uma pequena bolsa de moedas. E apesar de estar sendo fechado, o mundo se tornou branco. Branco. Branco. O chão se tornou instável e tinha um sabor açucarado por alguma razão – não na boca, mas na pele. Essa sensação não era ruim, mas ao mesmo tempo era nojenta. Finalmente eu entendi que esse era o final da 27.754ª repetição.
Nós estamos dentro de um macio, doce e puramente branco desespero. 0ª vez
Eu não tinha percebido até completar dezesseis anos que „O amor pode mudar o mundo‟ não era apenas uma metáfora.
Você já não pensou inúmeras vezes que a vida é comprida demais com todas as repetições de hábitos? Eu tenho certeza que o numero de vezes que eu pensei em morrer, não pode ser expresso usando todos os dedos de minhas mãos e nem mesmo se eu tentar contar os dos pés junto.
O tédio era terrível.
Mas eu não expressava isso em palavras e agia alegremente como sempre. Afinal de contas, não vai ser bom para ninguém se eu mostrasse essa atitude abertamente para todos. Portanto eu me esforçava para me dar bem com todos. O que não é muito difícil. Se você não pensar muito sobre pontos fortes e pontos fracos ou sobre gostos e desgostos, você pode se dar bem com todos.
Um grande numero de pessoas se reunia ao meu redor e todos sempre me diziam o mesmo.
“Você é sempre tão animada. Você realmente não tem preocupação alguma, não é mesmo?”
Ah, sim. Muito obrigado a todos por serem enganados tão honestamente. Muito obrigado por não reconhecerem meu lado negro até agora. Graças a vocês eu comecei a querer jogar tudo isso fora.
Eu provavelmente sei o ponto aonde esse tédio começou. Cada pessoa é auto-centrada demais.
Quando eu trocava endereços de e-mail com um garoto e respondia as mensagens dele regularmente, ele ficava animado por si só e se confessava para mim. Quando eu tentava não excluir um garoto que não se dava bem com as outras garotas, ele se enganava achando que isso era afeto e se confessava para mim. Quando eu era convidada por alguém para ir ao cinema e aceitava já que era difícil recusar, ele se confessava. Quando eu andava junto com alguém regularmente, porque o caminho para a casa dele era o mesmo que o meu, ele se confessava.
Todos eles faziam expressões como se eu tivesse traído eles, e de forma egoísta se machucavam e guardavam rancor de mim. Eu também era alvo do rancor das garotas que gostavam desses garotos. De forma egoísta. Auto-centrada. Isso me machucava cada uma das vezes, eu fiquei cheia de cicatrizes, e quando eu nem ao menos reconhecia mais as novas cicatrizes ao ser ferida, eu finalmente percebi.
Eu apenas preciso me associar com todos superficialmente no meu tempo livre. Eu só preciso ler o clima e continuar tendo conversas frívolas. Eu não iria mostrar a eles como eu sou por dentro. Eu iria apenas que me fechar como uma concha para proteger o meu interior frágil.
E então eu fiquei entediada.
Ninguém percebia que eu estava escondendo meu interior. Todos diziam a mesma coisa para mim.
“Você é sempre tão animada. Você realmente não tem preocupação alguma, não é mesmo?”
Que grande sucesso.
Vocês deveriam todos desaparecer.
Era um dia comum depois da aula. Eu estava sorrindo como sempre enquanto conversava comicamente com os estranhos ao meu redor que fingiam ser meus amigos. Então, subitamente – sem nenhum motivo em especial.
Não importa como, isso me ocorreu. Esse conceito subitamente obteve forma e me fez pensar em certa palavra.
«Solidão»
Aah, eu estou em completa -- solidão.
Solidão. Entendo, eu estava solitária. Apesar de estar sempre cercada por todos, eu estava solitária. Isso me fez sentir estranhamente bem. Essa palavra se encaixava perfeitamente.
Mas essa palavra abruptamente mostrou suas garras e me atacou. Foi a primeira vez que eu percebi que a dor vem acompanhada a essa solidão tão profunda. Meu peito doía, eu não podia respirar. E mesmo quando eu finalmente consegui respirar novamente, eu senti como se tivessem agulhas no ar. Meu pulmão doía a cada vez que eu puxava o ar. Minha visão escureceu por um momento e eu achei que minha vida poderia terminar nesse momento. Mas minha visão voltou logo em seguida e minha vida não acabou assim tão facilmente. Portanto, eu não sei o que fazer. Eu não sei. Me ajude. Pessoal, me ajudem.
“Qual o problema?”
Alguém percebeu a minha mudança e me chamou. “Você parece incrivelmente feliz sorrindo desse jeito.” Eh?
Eu estou sorrindo--?
Eu toquei minhas bochechas porque eu não consegui entender o que ele estava dizendo. Certamente, os cantos dos meus lábios estão erguidos.
“Sério, você é sempre tão animada. Você realmente não tem preocupação alguma, não é mesmo?”
Isso me fez rir. “Sim, eu estou feliz!” Eu disse rindo. Eu ri sem nem saber o por que. Nesse momento, a cor das pessoas ao redor gradualmente começou a se tornar transparente. Um a um eles se tornaram transparente. Cada um se tornando transparente e desaparecendo, então eu não podia mais vê-los. Algumas vozes me chamaram, mas eu não pude ouvi-las. Mas por alguma razão eu ainda respondi apropriadamente. Eu não entendo.
Quando eu percebi, a sala estava vazia. Só eu ainda estava nela. Mas eu tenho certeza que fui eu quem fez isso.
Eu os rejeitei.
“Eu tenho um compromisso, então estou indo.”
Apesar de não poder ver ninguém, eu disse sorrindo enquanto pegava minha mala. Minha relação com os outros poderia ser estabelecida mesmo se eu não estivesse falando com ninguém em particular. Eu deveria estar falando com as paredes desde o começo se era para ser assim.
E ainda assim, porque?
“... com licença, você está bem?”
Apesar de que não deveria ter ninguém aqui, eu pude ouvir essas palavras claramente por alguma razão. Eu tinha acabado de passar pelos portões da escola quando fui trazida de volta a realidade em um instante e o que era invisível voltou ao normal. Um garoto da nossa classe estava parado em minha frente e ofegante quando eu me virei. Pelo que parece ele correu atrás de mim.
O nome dele era certamente Kazuki Hoshino. Nós não éramos íntimos, e ele não tinha nenhuma característica especial – eu não sabia mais do que o nome dele.
“O que você quer dizer?”
Enquanto eu perguntava, eu percebi que uma estranha expectativa estava me envolvendo.
Afinal de contas, ele não me perguntaria se eu estou «bem», se ele não tivesse percebido minha anomalia. Isso significa que ele pode ter sido capaz de perceber minha mudança, o que não foi possível nem para as pessoas que estavam ao meu redor. “Err... como eu devo dizer? Você parecia «distante»... ou não, eu não tenho certeza, mas pareceu como se você não estivesse vivendo seu cotidiano normalmente...”
Ele disse com dificuldade. Ele parecia hesitante em ser direto.
“Err... não se incomode comigo se isso foi só minha imaginação. Desculpe-me por dizer essas coisas estranhas.”
Ele parecia estar se sentindo envergonhado e estava para sair. “...espere um momento.”
Eu o segurei. Ele inclinou a cabeça levemente e olhou para mim. “E-err...”
Eu posso ter segurado ele, mas o que eu deveria dizer agora?
Mas então--ele foi capaz de me descrever como «distante», apesar de eu estar sorrindo enquanto estava naquela sala solitária.
“...eu pareço estar sempre animada?”
Se ele responder como os outros, então ele não é diferente deles.
Ah, eu estou tendo uma enorme expectativa. Eu tenho uma enorme expectativa de que ele vai negar e me entender.
“Sim. Bem, ...você parece ser.” Ele disse hesitantemente.
Ouvindo essas palavras, eu me desencantei por ele, perdi meu interesse e comecei a odiá-lo. Eu estava surpresa a essa incrível inversão dos meus sentimentos, mas minhas expectativas eram de, alguma forma, consideravelmente altas.
Mas então, ele, que eu odiei, adicionou essas palavras.
“Você realmente se esforça muito para parecer, não é mesmo?”
Meus sentimentos se inverteram novamente e meu ódio se transformou. Meu rosto não pode acompanhar essas mudanças – apenas meu coração tinha uma sensação estranhamente quente.
Se esforçando muito. Se esforçando muito para parecer animada. Isso está certo. Muito mais certo do que negar isso.
E então eu -- me apaixonei.
Eu sei disso. Eu estou apenas assumindo isso convenientemente. Apenas porque ele disse «Você realmente se esforça muito para parecer, não é mesmo? »não significa que ele me entenda por inteira. Eu sei disso. Mas mesmo assim – isso que eu assumi não sai mais da minha cabeça.
Primeiro, eu achei que esses sentimentos fossem apenas temporários. Mas logo isso começou a crescer até um ponto em que não havia mais volta. Meus sentimentos por ele começaram a se empilhar como neve que não derrete e cobriu meu coração completamente. Apesar de eu estar ciente de que ele pode acabar se tornando tudo para mim se isso continuar assim, isso não era ruim por alguma razão.
Afinal de contas Kazuki Hoshino me resgatou daquela sala solitária e desfez o meu tédio.
Se ele sumir do meu coração, eu tenho certeza que tudo vai voltar a ser como era antes. Eu voltaria para aquela sala solitária onde eu estou completamente sozinha.
Meu mundo mudou tão simplesmente. É como se o meu tédio de antes fosse uma mentira. Como se meus sentimentos fossem conectados a um poderoso amplificador. Eu ficava feliz apenas por dar bom dia para ele. Eu ficava triste por não poder falar muito com ele. Meu coração estava obviamente fora de ordem, fazia eu me sentir complicada e isso era bom.
Sim! Eu vou me dar bem com você sem falhas!
Primeiro, eu gostaria que começássemos a nos chamar um ao outro pelo primeiro nome.
----------------------------......
“Você tem um desejo?”
Ele parece existir em todo o lugar, mas ao mesmo tempo parece não existir em lugar nenhum. A aparência dele lembra a de todos, mas ao mesmo tempo ele não parece ser igual a ninguém. Alguém que eu não sabia se era homem ou mulher começou a falar
comigo. Desejo?
É claro que eu tenho um.
“Essa é uma „caixa‟ que realiza qualquer desejo.”
Eu a aceitei com minhas mãos manchadas de sangue.
Eu imediatamente entendi que essa coisa era real. Portanto, eu estava determinada a não largar dessa „caixa‟.
É o mesmo para qualquer um, não é mesmo? Eu não acho que exista alguém que a devolveria.
Eu desejei.
Sabendo que era impossível, eu desejei. “--Eu não quero, me arrepender.”
Grupo de Tradução desta Novel(Deste Cap.):
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